Caros confrades flamengos,
A Copa do Mundo está espetacular, vários grupos se decidiram na última rodada, a Alemanha eliminada de forma cinematográfica, vários golaços e partidas emocionantes. Está melhor que a do Brasil 2014? Não posso avaliar, porque a do Brasil teve o componente emocional de ser aqui, e de nos envolvermos o tempo todo. Mas seguramente é uma Copa mais legal que a de 2006 e a de 2010. E diria que a de 1990. Essa é a opinião de quem vê Copas desde 1978 (a de 1974 eu apenas vislumbrei e lembro do gol de falta do Valdomiro contra o Zaire).
Escrevo nesta sexta-feira, dia 29, em que pela primeira vez desde o início do torneio não há jogo algum. Normalmente seria algo meio entediante, mas a pausa foi boa para que eu me lembrasse de algo importante: o Flamengo é maior do que tudo isso que acontece na Rússia, e de todas as outras peladas que foram disputadas de quatro em quatro anos continentes afora. Sei que para a grande maioria dos poucos que me leem isto é de uma obviedade espantosa – e justifica até me xingarem por eu ter feito vocês lerem até aqui. Mas há óbvios que precisam ser ditos.
Ora, em primeiro lugar, o Brasil está buscando ser algo que o Flamengo já é desde 2009: Hexa. E tudo indica que, mesmo se houver sucesso da seleção neste intento, este ano o Fuderoso Rubro-Negro colocará mais um título à frente. É bom como política motivacional para a seleção: sempre tentar igualar o Flamengo.
Em segundo lugar, e encerrando o assunto, tradição por tradição, a camisa do Flamengo é mais antiga do que a da seleção – esta, diga-se, com sérios e históricos problemas de governança, como podemos ver com uma simples busca no Google. Por mais problemas de gestores indevidos que tivemos no passado, não tivemos um Marin.
Mas depois de esclarecidos estes pontos, vamos ao assunto que gostaria de abordar aqui, neste ambiente predominantemente rubro-negro que é o meu querido MRN (ao qual ando faltando de forma imperdoável): o meme que circulou por aí com a gracinha de que “se houvesse VAR na era Zico o Flamengo não ganharia nada”.
Amigos, eu me penitencio por dizer isso – mas não há, em qualquer um dos títulos brasileiros, uma só irregularidade que pudesse bancar essa patranha. Em 1980, há aqueles que reclamam das expulsões de um time do Atlético Mineiro completamente descontrolado e fora de si – estes se dividem entre garotos que não viram o jogo e se alimentam de Youtube e velhos velhacos.
Em 1982, empatamos no Maraca e vencemos em Porto Alegre o temível Grêmio da época. Há quem reclama de mão do Andrade em um lance na área do Flamengo. Até hoje nada foi comprovado – e mesmo que fosse marcado, não seria possível bancar um resultado final. Em 1983, inapeláveis 3 x 0 (fora o baile) contra o Santos; em 1987, depois de trucidar o Galo das Alterosas lá em Belo Horizonte, vencemos o Inter numa grande festa. Em 1992 eu me sinto até mal de comentar, mas ganhamos o título no primeiro jogo da final. E em 2009, já fora da Era Zico, vencemos com gols de zagueiros. Me recuso a falar de Libertadores, quando mais uma vez o rancoroso Atlético se fez de vítima e deu escândalo, e mais ainda de Mundial Interclubes, onde colocamos ingleses na roda (ingleses que haviam vencido a Champions League em cima do poderoso Real Madrid).
Logo, quem criou esse meme só pode ser um completo idiota – e quem o repassa está apenas tentando encontrar, desesperadamente, um viés de confirmação. Falhando miseravelmente na busca. O Flamengo é gigante com ou sem VAR.
Mas vamos ver alguns casos envolvendo outros clubes? Vamos. Pensei em citar um caso da seleção, quando Nilton Santos, ídolo alvinegro, dá dois passos para fora da área e evita a marcação de pênalti – mas não quero entrar nesse mérito, até porque é visto como “malandragem” (já irregularidades – nem sei quais – que supostamente beneficiem o Flamengo são “escândalo”, “conluio”, “corrupção”, etc). Vamos nos deter em casos dos clubes.
Se houvesse VAR desde sempre:
O VASCO NÃO SERIA CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1974
Sim, no primeiro título brasileiro do Vasco, Zé Carlos, meia do Cruzeiro, faz de cabeça o gol que daria o título ao time de Minas. Mas o árbitro Armando Marques dá um inacreditável impedimento – podemos ver que não é impedimento até nessa imagem tosca. Vá direto para 5 minutos e 30 segundos de vídeo:
O BOTAFOGO NÃO TERIA NENHUM TÍTULO BRASILEIRO
Talvez muitos dos que me leem não saibam, mas o Botafogo tem um título brasileiro, a meu ver merecido, pois enfrentou o Santos, na época fortíssimo, vencendo em casa e empatando fora, enfrentando o time e a fortíssima mídia paulista pressionando. Mas os doze jogadores foram mais fortes. Doze porque inclua-se aí o árbitro Márcio Rezende Freitas, que não viu o impedimento de Túlio – ou talvez não tenha visto que quando Jamir, jogador do Botafogo, toca na bola, Túlio estava impedido. Na hora do cruzamento de Donizeti, Túlio estava em condições, mas dá um passo a frente.
O mais engraçado é que no segundo tempo Camanducaia, do Santos, faz um gol também em cruzamento da esquerda, mas aí o juiz “viu” o impedimento – mesmo com o tira-teima mostrando que ele estava 59 centímetros atrás do zagueiro que lhe dava condições:
https://www.youtube.com/watch?v=8cY73l3gL6k
O FLUMINENSE NÃO TERIA O TRICAMPEONATO ESTADUAL 1983/1984/1985
Não vou me deter em 1985, porque já é de domínio público, e provavelmente virou até Literatura de Cordel o pênalti absurdo de Cláudio Adão em Vica (que José Roberto Wright disse não ter visto porque estava se virando para encerrar o jogo). Mas vamos ao ano de 1983, o festejado gol de Assis nos minutos finais. Na ocasião, um jogador do Flamengo bate um tiro de meta, que é rebatido de volta pelo tricolor, mas outro rubro-negro fica com a bola e lança Adílio – uns dois metros à frente de Adílio, mas em outro ponto, estava um defensor tricolor, como vocês podem ver neste vídeo abaixo. Foi marcado um impedimento que só um louco daria – mas o VAR certamente anularia, né?
Eu poderia reforçar mais com o gol de barriga, tão idolatrado – mas feito em flagrante impedimento de Renato Gaúcho. Mas prefiro lembrar que ano passado Cuéllar fez um “pênalti” contra o Independiente que qualquer VAR teria anulado, dado o teatro feito por Meza, do Independiente.
Sendo assim, ao autor do meme mais imbecil da Copa, digo duas coisas:
- Cuide bem deste recibo, admito ser um belo recibo
- Uma pena que o VAR não existisse desde sempre. O Flamengo seria ainda maior. Vocês seriam ainda menores.
Até semana que vem, e VOLTA LOGO, FLAMENGO. Estamos com saudades!
Imagem destacada nos posts e nas redes sociais: Divulgação / FIFA
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Gustavo de Almeida é jornalista desde 1993, com atuação nas áreas de Política, Cidades, Segurança Pública e Esportes. É formado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense. Foi editor de Cidade do Jornal do Brasil, onde ganhou os prêmios Ibero-Americano de Imprensa Unicef/Agência EFE (2005) e Prêmio IGE da Fundação Lehmann (2006). Passou pela revista ISTOÉ, pelo jornal esportivo LANCE! e também pelos diários populares O DIA, A Notícia e EXTRA. Trabalhou como assessor de imprensa em campanhas de à Prefeitura do Rio e em duas campanhas para presidente de clubes de futebol. É pós-graduado (MBA) em Marketing e Comunicação Empresarial pela Universidade Veiga de Almeida. Atualmente, escreve livros como ghost-writer e faz consultorias da área de política, além de estar trabalhando em um roteiro de cinema.
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