Há exatos 20 anos, Alessandro rezava. Eu também. E, junto conosco, outras milhões e milhões de pessoas mundo afora. Como explicar um gol que marcou uma geração inteira? O que foi aquela emoção?
O sérvio foi para a bola e parecia que o oxigênio do planeta tinha acabado. Ninguém podia respirar. Não sei dizer por quanto tempo ela viajou no ar. Uma hora, talvez? Na minha memória, esse lance inteiro aconteceu em câmera lenta.
Do mesmo autor: A tacada de sinuca de Arrascaeta
Helton se esticou o máximo que dava, mas não chegaria nunca. Podia ter um metro e meio a mais, podia ser feito de borracha. De nada adiantaria. Aquela bola só tinha um destino possível: o fundo das redes.
E do fundo da garganta veio o grito de gol. O maior da minha geração. Mas por que tanto? Por que tão gigantesco?
Primeiro, pela rivalidade. Aquela era uma final contra o maior rival. Não só isso, era a terceira final seguida contra o rival vivendo possivelmente o melhor momento de sua história.
Segundo, pelo passado. A camisa do Flamengo ostentava no peito o tamanho do estadual: uma estrela para cada tricampeonato. Mas a terceira estrela havia sido conquistada há mais de 20 anos. Naquele momento, estávamos escrevendo a história.
Terceiro, pela forma e pelo momento. Quando sai a falta, naturalmente se gera uma expectativa. Não é uma jogada qualquer. Mas era de longe, estava no fim… Um golaço daqueles aos 43 do segundo tempo é tão inesperado quanto explosivo, tão saboroso quanto libertador.
(Aliás, aquela foi a SEXAGÉSIMA PRIMEIRA falta do jogo, mas esse é outro assunto)
Há, porém, um último detalhe. Algo pouco falado, mas absolutamente central aqui: aquele foi um gol que transformou derrota em vitória. Essa é uma situação única no futebol. Em geral, um gol só pode transformar derrota em empate ou empate em vitória.
Naquele jogo, não. O regulamento do Campeonato Carioca não previa prorrogação ou decisão por pênaltis. Como o Vasco tinha a vantagem de dois resultados iguais, o Flamengo estava perdendo o título, mesmo vencendo o jogo. E um único gol transformou derrota em vitória.
(Aliás, esse é o argumento que me leva a ser a favor da regra do “gol fora de casa”, já que é a única situação no futebol atual em que uma bola na rede pode transformar derrota em vitória — mas esse também é outro assunto)
É aí que a mágica acontece. Um gol que muda tudo. Que vira um campeonato de cabeça para baixo. Que mexe com uma geração inteira. O gol mais arrepiante de todos. Um momento que vale por uma eternidade! Um grito de gol que vem do fundo da alma e arrepia até hoje!
Não sei quantas vezes você já reviu esse gol hoje. Reveja mais uma, mais duas, mais dez! Que dia, meus amigos! Que gol! REZA ALESSANDRO!