Ainda que a vida possa ser cheia de complicação, com internet que cai quando você precisa, voo que é cancelado sem explicação e viagem longa com motorista de Uber que quer te oferecer informações bem gráficas sobre a época que ele e a esposa faziam swing, é preciso reconhecer que ela também pode ser cheia de momentos perfeitos ou bem perto disso.
É a reunião marcada pra sexta de tarde sendo cancelada, é datezinho gostoso com a pessoa que tu acha foda, é promoção de coisa cara que você tava precisando pra casa, é bar em que o garçom já traz uma saideira de cortesia sem você e sua galera precisarem ficar se humilhando pra tentar beber um copinho de graça.
➕ JOÃO LUIS JR.: Uma vitória fácil numa classificação que poderia ser mais fácil ainda
E poucas coisas foram mais perfeitas, poucas alegrias foram tão alegres, poucas partidas pareceram menos um jogo real e mais uma gostosa fantasia do torcedor quanto a goleada deste domingo, um sonoro 6×1 diante do Vasco, que já configura a maior vitória rubro-negra na história do clássico.
Primeiro pela crueldade que o destino cometeu ao encher sim o adversário de esperança. O belíssimo gol de Vegetti, as oportunidades criadas no começo, a confiança do goleiro Leo Jardim, que matou no peito um chute de Cebolinha para mostrar “quem é que mandava ali”, tudo isso criou por alguns minutos a sensação de que estava ali um novo Vasco, com um novo técnico, que poderia sim conseguir uma importante vitória.
Uma maldade imensa, dado o fato de que o que se veria depois seria uma mistura de recital, massacre e comprovação prática de que não apenas karma existe como às vezes ele te pega com a força e intensidade de uma tijolada na cara realizada enquanto você dorme no ônibus pro serviço.
Isso porque depois do gol de empate marcado por Cebolinha, foi exatamente de peito que Pedro virou a partida, em uma jogada indecente do mesmo Cebolinha, que fez uma de suas maiores partidas com a camisa do Flamengo.
Depois foi a vez de David Luiz finalmente dar aquela alegria para seu povo que ele prometia desde a fatídica Copa do Mundo e fazer um golaço de voleio, que seria o último momento importante do primeiro tempo não fosse a brilhante decisão do zagueiro adversário de aplicar uma ousada rasteira pra cartão vermelho, talvez apostando no histórico recente do Flamengo de não atuar tão bem contra times com jogadores a menos.
Mas o plano não deu certo. Se no 11 contra 11 o Flamengo já sobrava, com superioridade numérica a já visível superioridade técnica ficou mais clara ainda. Primeiro com Arrascaeta e depois com Bruno Henrique, o Flamengo ampliou ainda mais a vantagem, e a tarde que já era linda, se transformou em mágica quando até mesmo Gabigol balançou as redes, fazendo as pazes com o gol e a torcida – depois do jogo o homem postou um trecho da epístola de Paulo aos Coríntios, mas a essa altura é visível que ele está fazendo de sacanagem.
Tivemos então, uma das partidas mais perfeitas da história do Flamengo. Um atropelo total e completo, uma aula de futebol de jogadores como Arrascaeta, Pedro e Cebolinha, gols de craques históricos como BH e Gabi e até mesmo situações extremas como Varela quase fazendo gol e Wesley dando assistência, algo que não aconteceria nem nos sonhos mais loucos do torcedor mais alucinado depois de beber a cachaça mais forte.
E se isso foi um sonho, que a gente não acorde tão cedo. Que essa liderança no Brasileirão vá até o final, que esse futebol absurdo se mantenha nos próximos jogos, que o que aconteceu no Maracanã neste fim de semana não seja a exceção, mas sim a nova base de um Flamengo que sempre teve a capacidade pra proporcionar partidas assim, mas parecia não ter a vontade e a organização pra isso. Porque ganhar é sempre bom, mas ganhar indo pra cima e fazendo história, é o que a camisa rubro-negra nasceu pra fazer.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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