Imagine uma cirurgia, de vida ou morte, realizada no mais caro hospital da cidade, com aparelhos de última geração. Porém o médico é na verdade um padeiro, que opera apenas aos fins de semana. Ou um voo transatlântico, desses de longa duração, realizado no avião mais moderno do mercado. Mas quem está comandando não trabalha como piloto, conduz avião pra complementar renda e pode não saber usar direito metade dos recursos do painel.
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Esses são apenas alguns dos exemplos que podemos usar para ilustrar o quão absurdo é uma partida como, por exemplo, Palmeiras x Flamengo, disputada por atletas de salários astronômicos, numa competição cuja premiação total gira em torno de quase meio bilhão de reais, ser decidida, no fim das contas, por juiz e bandeirinhas amadores. Além disso, a equipe de VAR está recebendo menos de R$ 3 mil.
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Porque seja pelo ângulo que você analisar, o amadorismo da arbitragem brasileira é, para dizer o mínimo, uma aberração.
São erros em sequência, são falhas grotescas de interpretação da regra, é uma patente incapacidade de utilizar da maneira correta ferramentas como o VAR – como ficou exemplificado no impedimento de Gabigol contra o Athletico – que levam a um clima de insegurança generalizada em relação a arbitragem e de reclamação e paranoia constante por parte dos clubes.
A solução? Profissionalizar os juízes brasileiros. Uma ideia que, ainda que não garanta o fim dos erros de arbitragem, com certeza iria proporcionar a melhoria óbvia causada pelo fato de que profissionais com dedicação exclusiva e uma fonte de renda fixa teriam mais condições de se aprimorar e oferecer um trabalho de melhor qualidade. Isso além de reduzir a capacidade dos clubes de pressionar juízes e talvez até mesmo reduzir a suspeita de manipulação de resultados por parte de arbitragens.
Se é tão simples, o que impede?
Mas se é uma solução tão óbvia assim, por que ela ainda não aconteceu?
Primeiro porque ela muda a estrutura do futebol. Profissionalizar os árbitros geraria um custo com o qual você pode apostar que nenhuma entidade, nem a milionária CBF, nem as inoperantes federações e muito menos os riquíssimos (ou endividados) clubes querem arcar.
Formar uma estrutura como a da Premiere League, com rendimentos mensais garantidos, treinamento e acompanhamento constantes para os juízes não seria barato. Além disso, acabaria com ao menos boa parte das situações atuais. Aquelas em que temos professores, empresários e representantes de vendas decidindo partidas do Brasileirão e da Copa do Brasil.
Arbitragem de qualidade resolveria celeumas
E depois porque uma arbitragem de qualidade poderia dar fim a um dos principais álibis que as mais diversas equipes e diretorias usam para disfarçar a própria incompetência.
Afinal, quantos clubes não fizeram do vitimismo quase a sua identidade? Quantas diretorias milionárias não usaram erros de juízes para se dizer vítimas do sistema? Até mesmo no Flamengo, recentemente alvo de alguns erros bizarros. Quantas vezes a incompetência de um juiz não serviu para desviar atenção da incompetência ainda maior de um departamento de futebol?
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Por isso tanto se reclama sobre arbitragem mas tão pouco se fala de profissionalização dos árbitros. Por isso dirigentes sempre pedem o microfone para reclamar mas jamais para propor soluções. E por isso quando se fala da formação de uma liga de clubes no Brasil, se discute desde rebaixamento até direito de exploração de publicidade nos cavalinhos do Fantástico. Mas pouco se fala sobre melhorar a qualidade dos juízes que comandam nossos campos.
Mas se quem manda no futebol brasileiro realmente não quiser que cada vez mais jogos sejam decididos de maneira errada por profissionais de áreas cada vez mais variadas, é hora de parar de reclamar e começar a resolver essa questão.
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