Antes de qualquer coisa, se queremos falar da derrota deste domingo do Flamengo por 4×3 para o Palmeiras, pela Supercopa do Brasil, precisamos superar o clichê de que todo jogo com muitos gols é um grande jogo.
Porque sim, foram sete os gols marcados durante os 90 minutos da decisão de hoje, foram diversas as emoções vividas pelos torcedores envolvidos, foram muitos os momentos de tensão e ranger de dentes.
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Mas isso não significa, nem de longe, que testemunhamos uma grande atuação rubro-negra, que foi eventualmente superada por uma ainda maior atuação palmeirense, numa grande festa esportiva da qual todos nós devemos nos orgulhar e que tornou mais alegre o futebol brasileiro, mais bonitas as vidas dos torcedores, deixou mais felizes as crianças, parabéns a todos os envolvidos.
Sim, claro, tivemos uma grande atuação ofensiva do Flamengo. Éverton Ribeiro é um maestro, Pedro fez um gol que não deveria ter sido exibido em TV aberta sábado a tarde pois configura pornografia, Gabigol atingiu um nível de maturidade em que não apenas aproveitou com imensa eficiência as duas chances que teve como ainda tomou um cartão amarelo proposital para exibir sua camisa e evitou todas as 385 oportunidades de tomar outro cartão por briga ou reclamação durante a partida.
Porém no aspecto defensivo tivemos algo que podemos classificar, sem muito exagero, como uma das mais tristes, deprimentes e até mesmo miseráveis atuações rubro-negras em muitos anos, com 4 gols sofrido em situações que davam a sensação de que não estávamos acompanhando a equipe rubro-negra de 2023, com alguns dos melhores jogadores do continente, mas sim o Flamengo de 2010 com Fernando irmão do Carlos Alberto, o de 2007 com Irineu, o de 2011, com o famigerado zagueiro Wellinton.
Isso porque se não bastasse a visível confusão no posicionamento, que permitia aos armadores adversários níveis de liberdade que fariam Adam Smith e John Locke pensarem “irmão, isso aí já é meio demais”, havia também a óbvia incapacidade física de alguns jogadores – como Gerson, que parecia sem condições de acompanhar uma série da HBO, quanto mais um adversário na corrida – e técnica de outros – Varela vem realmente se destacando na função tática de “fazer gente sentir saudade do Rodinei” e David Luiz decidiu dar alegrias pro povo errado. Somando a isso a demora de Vitor Pereira para realizar substituições, e você tem uma equipe rubro-negra, que não deveria levar 4 gols em situação alguma, levando 4 gols numa final de torneio.
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Obviamente ainda é muito cedo na temporada para pedir cabeça de treinador, evidentemente o Palmeiras é uma das grandes equipes do continente, com certeza alguns atletas ainda precisam de mais tempo e treinamentos para atingir sua melhor condição física e técnica. Mas isso não muda o fato de que o Flamengo viveu hoje uma derrota que não pode ser classificada como menos do que vergonhosa, após uma atuação que só pode ser descrita como lamentável. Afinal, se o Palmeiras de Raphael Veiga e Rony fez quatro gols na nossa defesa, imagine quantos não faria o Real Madrid de Modric e Benzema – isso, claro, supondo que vamos conseguir chegar a uma final de Mundial tomando essa quantidade de gols por jogo.
Que essa derrota então, mais do que como ferramenta de constrangimento, possa servir como um alerta. Porque somos sim uma potência ofensiva, temos sim alguns dos jogadores mais talentosos do Brasil e do continente, mas de nada vai adiantar fazer 3 gols por partida se você apenas e simplesmente entregar 4 gols para qualquer adversário competente que você encarar. Afinal, ninguém aqui quer “participar de grandes jogos”. O nosso foco é, e precisa sempre ser, ganhar. E isso vai ficar bem complicado de fazer com o time se defendendo assim.
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