Primeiro a boa notícia: após flertar com a tragédia, sorrir pro desastre, dar superlike pro perfil do constrangimento no Tinder do destino, o Flamengo garantiu sim sua classificação para a próxima fase da Libertadores.
Foi uma vitória tranquila, um jogo de baixo risco, uma dessas partidas em que você tem a sensação de que não apenas uma equipe quer muito vencer como a outra tem um desejo igualmente intenso de perder, resultando num tranquilo placar de 3×0 em que ao menos dois gols foram consequências de jogadas bisonhas ou equivocadas da equipe colombiana.
➕ JOÃO LUIS JR.: Uma noite de preguiça e anticlímax
Pedro deixou duas vezes a sua marca, a primeira num lance de oportunismo após falha do goleiro e a segunda após uma brilhante jogada de Viña, que substituiu Ayrton Lucas machucado. A trinca Arrascaeta, de la Cruz e Gérson não rendeu tudo que podia, mas garantiu boas jogadas. A defesa foi relativamente segura e não tomou sustos.
E então Tite fez as mesmas substituições de sempre, porque bem, ele é o Tite e é contratualmente obrigado a escalar Luiz Araújo, o jogador que só de entrar em campo diminui em 25 pontos o QI do time.
Mas aí vem as notícias não tão boas. Primeiro é que, assim como a goleada sobre o Bolívar, a vitória tranquila sobre o Millionarios serve para nos lembrar o volume imenso de vacilos, a quantidade astronômica de bobeiras, o incrível acervo de pixotadas que o Flamengo precisou cometer para não apenas ficar na segunda colocação como ter até mesmo corrido risco de não se classificar na fase de grupos da Libertadores.
Se a derrota para o Bolívar na altitude pode até ser justificada, como explicar o empate contra esse mesmo Millionarios, quando tínhamos um jogador a mais? Que desculpa oferecer pra patética derrota diante do Palestino, um time de qualidade visivelmente inferior à nossa? Pontos que fazem falta e que poderiam significar uma posição muito mais confortável num sorteio de mata-mata, já que nos garantiriam o esperado primeiro lugar na classificação.
A verdade é que após um carioca que deveria ter sido uma pré-temporada mas acabou sendo apenas a versão esportiva de um elogio de mãe – faz bem pra autoestima mas se você realmente acreditar te deixa despreparado pro mundo real – foi apenas com o começo da Libertadores e o início do Brasileirão que o Flamengo enfrentou adversários de verdade e descobriu o fato, já óbvio e reforçado para diversas equipes todos os anos, que campeonato estadual não serve como referência pra absolutamente nada.
Ou seja, estamos chegando em junho com uma equipe rubro-negra que segue sim viva em todas as competições, mas que ainda não demonstrou consistência para conquistar nenhuma delas. Na Libertadores penamos mais do que o necessário, na Copa do Brasil tivemos vitórias magras contra um time da Série B, no Brasileirão estamos brigando na frente mas já perdemos pontos sem necessidade.
Encerrada essa pré-temporada de alto risco, que o Flamengo possa então finalmente mostrar, de forma consistente e contra os grandes times do continente, aquele futebol que emocionou tanta gente no começo do ano. Porque a fase em que dava pra vacilar e ainda assim se recuperar, parece já ter acabado, e não vai ser em todo jogo que, como nessa quarta, vamos poder contar com o adversário a nosso favor.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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