Muita gente costuma falar que filho a pessoa não cria pra ela, mas sim “pro mundo”. É uma forma de dizer que, por mais que um pai e uma mãe amem uma criança e queiram protegê-la de todas as formas, uma hora ela vai acabar tendo que sair de casa pra conhecer o mundo, e tudo que os pais vão poder fazer é aconselhar, mandar levar um casaquinho ou, se forem mais parecidos com a minha mãe, telefonar caso você demore demais pra responder um Whatsapp.
E por causa da geopolítica do futebol, onde até mesmo o mais poderoso e financeiramente saudável clube da América do Sul não consegue competir em pé de igualdade com grande parte dos clubes médios da Europa, o mesmo acaba valendo para os jovens jogadores de futebol, que são formados pelos grandes clubes do nosso continente mas acabam se despedindo de maneira cada vez mais precoce, deixando apenas a saudade, promessas de um retorno depois dos 30 e quem sabe um dinheirinho através do mecanismo de solidariedade da FIFA.
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O caso mais recente, de um Flamengo que vem se especializando em vender seus jovens para conseguir manter seus jogadores mais experientes, é do volante João Gomes, que com apenas vinte anos de idade e uma temporada como titular, está de saída para o futebol inglês, numa operação próxima da casa dos 100 milhões de reais. Uma perda, porque mais uma vez não vamos poder ver um jogador atingir seu potencial com a camisa rubro-negra, mas uma realidade inegável, porque infelizmente o Flamengo ainda não consegue operar com nenhum modelo de negócios diferente desse.
E exatamente por isso se torna mais importante acompanhar jogos como o de hoje, pelo Campeonato Carioca, em que o Flamengo fez sua estreia escalando um time sub-23 composto por promessas da base, jogadores que retornam de empréstimo e jovens jogadores que já começaram a ganhar seu espaço no profissional na temporada passada.
Foi uma grande partida? Certamente não foi. A vitória foi magra, o falta de entrosamento era visível, já tem muitos anos que o estadual é menos um campeonato de futebol e mais uma grande gincana onde ninguém sabe direito as regras, pouca gente está se importando e a premiação são os amigos que fazemos pelo caminho, porque a FERJ quer todo o dinheiro só pra ela.
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Mas ainda assim partidas como a desta quinta-feira, contra o Audax, podem ser uma chance de apreciar, enquanto ainda estão aqui, garotos que talvez acabem não passando tanto tempo assim no Brasil, já que cada vez mais o período que um jovem jogador veste a camisa de um time nacional é inversamente proporcional a qualidade que ele demonstra dentro de campo.
Afinal, se Matheus França continuar evoluindo, quanto tempo até um clube da Espanha levar? Se Lorran deslanchar, quantas temporadas ele completa pelo Flamengo? Porque quanto melhor um garoto da base for, quanto mais chance tiver da gente se empolgar com ele, maior a certeza de que vamos acabar acompanhando a maior parte da carreira dele não nos estádios, mas sim em algum pay-per-view de campeonato europeu na televisão fechada.
Por isso boa sorte pros crias que vão, pra cada Vini Jr, Paquetá e João Gomes que nós vamos ver de longe e torcer, e mais sorte ainda pros crias que estão aqui, pra cada Matheus e Mateusão que tenta aproveitar a chance de realizar seu sonho de vida com a camisa rubro-negra. E claro, cabe a nós agradecer pela sorte de torcer por um clube que sabe não apenas vencer, mas também criar pro mundo tantos jogadores que vão vencer lá fora. Só seria, é claro, melhor se eles pudessem passar mais tempo por aqui.
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