O presidente Rodolfo Landim fez na noite dessa terça-feira (18), em reunião do Conselho Deliberativo, um discurso que muitos viram como tentativa de convencer os sócios das vantagens de transformar o Flamengo em uma empresa. Ele acenou que, neste cenário, os títulos de cada sócio, atualmente avaliados em cerca de R$ 15 mil, poderiam valer até R$ 700 mil.
Desde o início do ano, o Flamengo vem promovendo o debate interno sobre a conveniência de se tornar uma SAF. Para que isso acontecesse, seria necessária à aprovação dos conselheiros. Landim trabalha com a ideia de que o Flamengo valeria cerca de R$ 3,5 bilhões caso fosse ser transformado em SAF. Em reunião anterior com conselheiros, ele havia defendido estudar a possibilidade de vender 30% das ações para investidores por R$ 1,5 bilhão para financiar a construção de um estádio.
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‘Conta de padeiro’ sobre SAF
A comparação de Landim foi feita após a apresentação do balanço financeiro do ano de 2022, quando o Flamengo teve R$ 1,1 bilhão em receitas. Um conselheiro questionou o presidente por que a venda de R$ 6 milhões em novos títulos de sócio proprietário, prevista no Orçamento para financiar a sede do clube, que é deficitária e usa dinheiro do futebol, não foi executada e não foi incluída no orçamento de 2023.
Foi então que Landim fez a defesa da manutenção do atual número de sócios proprietários e aproveitou para vender a ideia de que a transformação do clube em SAF seria muito lucrativa para eles.
“Se a gente fizesse uma conta de padeiro, se você pegasse o Flamengo hoje e quisesse transformar como o Vasco fez, como o Botafogo fez, como vários clubes estão fazendo, reservar ao sócio proprietário do Flamengo o direito de ele continuar a ter o título do Flamengo para participar do clube da forma como ele tem e entregar para ele também uma participação acionária com a SAF, se a gente pegar os R$ 3,5 bilhões que o clube valeria e dividir pelos 5 mil sócios proprietários, vocês vão ver que o título de sócio proprietário de vocês vale numa empresa algo como R$ 600 ou R$ 700 mil. Se você for negociar isso hoje aqui, o título vai ser vendido por R$ 15 mil. Sabe por quê? Porque ninguém prevê a possibilidade de a gente poder fazer isso”, afirmou o presidente, segundo um áudio da reunião obtido pelo MRN.
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Landim então defendeu a decisão de não abrir a venda de novos títulos porque isso diluiria o valor da propriedade dos atuais sócios. A última vez que o Flamengo abriu a venda de títulos de sócios proprietários foi em 2016. Na ocasião, o Rubro-Negro disponibilizou 200 novos títulos ao custo de R$ 15 mil. Desde então, só é possível virar sócio proprietário comprando o título de um outro sócio.
“Então, eu sinto sempre uma dificuldade muito grande em propor para que o valor que vocês sócios proprietários têm, que o título de vocês têm, e eu não tenho dúvida que em função desses números um título de sócio proprietário do Flamengo vale R$ 600 mil no mínimo, para poder vender por R$ 15 mil, R$ 20 mil ou R$ 30 mil e diluir o valor que vocês têm. Mas foi ótimo que o Gilberto (conselheiro) levantou esse assunto pra gente já começar a discutir isso com vocês, já colocar isso na cabeça de vocês”, enfatizou o gestor.
E completou: “Entendam: se o Flamengo fosse uma empresa, com o resultado econômico que a gente está oferecendo pro Flamengo, o título de vocês valeria R$ 500 a R$ 600 mil no mínimo. Pergunta vocês querem que a gente venda mais 5 mil títulos para valer R$ 250 mil? Cabe a vocês decidir isso. Eu como presidente do clube, conhecedor dos números do clube, fico sempre muito relutante pra poder vender mais alguns títulos, para ter ingresso no caixa do Flamengo, a R$ 15 mil, sabendo que se eu fizer uma empresa independente, puder captar dinheiro no mercado, eu vou captar o equivalente a cada título que tem aqui, R$ 600 mil e não R$ 15 mil”.
Para Dunshee, novos títulos diminuiria o conforto
Atualmente, é possível se tornar sócio contribuinte do Flamengo, sem a compra de um título proprietário. Para isso, é preciso pagar uma mensalidade que dá direito a frequentar o clube. Diferentemente dos sócios proprietários, porém, os sócios contribuintes não são membros natos do Conselho Deliberativo e podem fazer parte dele apenas se eleitos para o conselho transitório, que se limita a 120 membros.
Além de Landim, o vice-presidente Rodrigo Dunshee também defendeu a decisão de não emitir novos títulos de sócio proprietário, mas sob outro argumento. De acordo com Dunshee, o clube já vive muito cheio com o atual número de sócios que frequentam a sede, e a emissão de novos títulos diminuiria o conforto dos atuais sócios do clube.
“O que eu tenho visto no Flamengo é que sempre o clube está muito cheio, as escolinhas estão lotadas, a piscina tá cheia, o parquinho tá cheio. Então a gente quer vender título realmente, quer o clube mais cheio ainda ou não? Aqui no entorno do Leblon muita gente vira sócio contribuinte, e também eles enchem o clube. Então tem que fazer um estudo e pensar muito bem o quanto a gente quer esse clube cheio demais ou cheio de menos. Não adianta ser sócio de um clube se você não pode usar nenhum serviço que ele pode prestar pra você”, disse o vice-presidente.
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