Se você é flamenguista, é bem provável que você tenha um carinho especial por Lucas Paquetá. Cria da base rubro-negra desde os 8 anos, campeão da Copa SP de Juniores, o meia chegou ao time principal em 2016, mas começou a brilhar mesmo em 2017, marcando seu primeiro gol e se tornando um destaque nesta e na temporada seguinte, apesar do desempenho não tão bom da equipe – não custa lembrar que Paquetá marcou gols nas duas finais que o Flamengo perdeu em 2017, contra Cruzeiro na Copa do Brasil e Independiente pela Sul-Americana.
Não tão badalado quanto o futuro Bola de Ouro Vini Jr, mas um meia de qualidade, irreverência e que parecia absurdamente flamenguista, o já apelidado “Paquetop” foi ainda em 2018 vendido para o Milan, se despedindo da Gávea como artilheiro do time no Brasileirão e Bola de Prata da revista Placar. E ainda que não tenha embalado em seu primeiro clube, o Milan, brilhou o bastante no Lyon para ser desejado pelo West Ham e chegar muito perto de uma transferência para o poderoso Manchester City, onde teria sido um pedido do próprio Guardiola.
Mas aí, em maio deste ano, a bagunça aconteceu. Uma investigação da Federação Inglesa apontou o que teria sido talvez o mais abobado, descarado e até mesmo infantil esquema de apostas e manipulação de resultados já registrado num passado recente.
Isso porque amigos e familiares do jogador Lucas Paquetá do West Ham teriam realizado, diretamente da Ilha de Paquetá, apostas no site que patrocina o West Ham, em valores que variavam entre R$47 e R$2,7 mil, com ganhos totais na casa dos R$ 600 mil, o que equivale a uma semana do salário que o West Ham paga para o jogador Lucas Paquetá. Essas apostas envolveriam cartões amarelos, que o jogador teria, em tese, forçado para beneficiar essas pessoas.
Com o avanço das investigações e a possibilidade de que o atleta seja até mesmo suspenso do futebol pelo resto de sua vida, nos vemos diante de dois cenários. Um é de uma combinação incomum de conhecidos que gostam de apostar e conhecimento desses conhecidos sobre quais jogos deixariam Paquetá mais nervoso e, portanto, mais propenso a tomar cartões. E o outro é de possivelmente testemunhar uma das mais promissoras carreiras do futebol recente chegar a um fim precoce por conta de uma das maiores chinelagens já realizadas na história da raça humana.
Estamos diante de um jogador inocente tendo um azar absurdo? Existe alguma combinação entre familiares e amigos da qual Paquetá não tinha conhecimento? O atleta carioca vive num espectro meio “Zeca Pagodinho não sabe que jogo do bicho é ilegal” e achava que não tinha nada de errado em um cartãozinho, uma apostinha? A questão é que o caso Paquetá, somado a vários outros casos recentes no Brasil e fora dele, coloca em xeque a relação cada vez mais intensa entre o futebol e os sites de aposta.
Não existe conflito de interesses em uma empresa de aposta em resultados patrocinar os campeonatos onde esses resultados acontecem? Os times que geram esses resultados? Os jogadores de futebol entendem da maneira correta as regras e as questões éticas relacionadas a esses processos? Porque seria muito triste ver uma carreira como a de Lucas Paquetá interrompida, mas é muito complicado não imaginar que várias outras podem terminar do mesmo jeito.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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