Se pra falar de amor você deveria falar com o Marcinho, pra falar de vitórias desnecessariamente complicadas, que desafiam a paciência do torcedor, você deve com certeza falar com o Flamengo do professor Adenor Tite.
Isso porque mais uma vez, nesta quarta-feira, a equipe rubro-negra pegou uma tarefa que poderia ser relativamente tranquila, como enfrentar um time na zona do rebaixamento, que vem de três derrotas seguidas, e conseguiu, graças apenas ao próprio esforço, tenacidade e vontade de se enrolar, transformar em uma vitória sofrida, decidida nos últimos minutos, com traços de dramaticidade que poderiam facilmente ter sido evitados.
E como o Flamengo conseguiu isso? Basicamente jogando muito abaixo do possível. Mantendo a linha descendente que começou após a vitória contra o Atlético-MG e que se agravou nos resultados ruins diante de Cuiabá e Fortaleza, a equipe rubro-negra mais uma vez parecia lenta, confusa, incapaz de criar, e dependeu de lampejos dos seus principais jogadores para ter suas melhores oportunidades.
Então no primeiro tempo não tivemos muitas ações, não tivemos muitas ideias e a bola poderia ter apenas rolado de um lado para outro não fosse uma jogada decisiva de Arrascaeta, que não cansa de ser craque e abriu o placar após receber bola de Gérson do lado da área adversária. 1×0, o famoso placar que não garante nada mas é sim um ótimo começo.
Ou seria, se o Flamengo não tivesse começado o segundo tempo basicamente sentado em cima desse placar, com a exceção do gol anulado de Fabrício Bruno, em jogada bizarra onde Arrascaeta teria dado dois toques na bola durante a cobrança de escanteio, refletindo uma etapa da partida em que o Flamengo estava tão mal que sua melhor jogada envolveu um tombo estilo Trapalhões.
E foi exatamente quando o time de Tite parecia ter criado outra boa jogada, obrigado o goleiro do Vitória a uma grande defesa praticamente em cima da linha, que o castigo pela nossa indolência veio, à galope, em mais um momento onde a reposição defensiva rubro-negra falhou. Aos 29 do segundo tempo o Vitória empatava, o Flamengo mais uma vez se complicava, mais uma vez o torcedor já preparava a cabeça pra ver dois pontos sendo jogados no lixo.
Mas aí, naquela hora em que o desespero bate e a criança chora mas a mãe não escuta porque já está a caminho da Gávea pra pichar o muro pedindo a saída de Braz e Landim, é que surgem os predestinados, é que se manifestam os heróis. Como Gabigol, que pela segunda vez seguida entra em campo sem tomar vinte gotinhas de Clonazepam e conseguiu ser decisivo, e como Carlinhos, que pisou no campo aos 38, e 6 minutos depois já estava balançando as redes, porque o importante não é o tempo jogado, mas sim o volume de gols que você proporciona.
Temos então aí mais uma vitória rubro-negra, em mais uma atuação fraca da equipe rubro-negra. Obviamente bem melhor do que perder ou empatar? Ninguém vai negar esse simples fato matemático. Mas ninguém pode negar também o baixo rendimento do Flamengo, mesmo com a volta dos jogadores que estavam na Copa América, mesmo diante de equipes que não estão muito bem na tabela. E pelos duelos que temos pela frente, nos torneios que ainda vamos disputar, com certeza muita coisa ainda precisa melhorar.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.