Meu Rei,
Há alguns dias que venho pensando no assunto. Qual foto devo usar para homenagear seus 70 anos? A busca no HD aponta que reúno 2318 fotos suas. As minhas preferidas são as que você está em pleno voo, socando o ar, com um delirante Maracanã ao fundo. É assim que você aparece até hoje nos meus sonhos.
Para além das fotos digitais, tenho álbuns e pastas cheios de recortes. É onde está essa que te mostro agora, da última vez que te vi em competição: a final do Mundial de Beach Soccer de 1996. Foi no dia 4 de fevereiro, em Copacabana, e você abriu o placar nos 3×0 que valeram o caneco. Ao lado de seu irmão de vida, Junior, você deu carrinho, matou no peito, engoliu areia e deu bicicleta, infernizando Rodolfo Rodriguez e De León.
Do mesmo autor: Aquele Baile do Vermelho e Preto que entrou para a história
Você comemorou perto de onde eu estava. Era o mesmo sorriso de sempre, a velha veia saltada, os olhos faiscando de alegria. Era o Zico da vida toda. Não era o Maracanã, o piso não era de grama, e aquele suor não era mais pelo pão de cada dia. Era puro amor. Ninguém naquela arena escaldante diria que aquele senhor de quase 43 anos havia lutado contra beques covardes, contra a medicina limitada, contra a dor, contra a morfina, contra a descrença alheia, sem saber se poderia voltar a correr atrás da bola ou mesmo caminhar sem muletas.
A única que sabia disso tudo era ela. A bola. Essa aí, da foto da bicicleta diante do apavorado Silveira. Zico, veja como ela te olha nos olhos. Ela dizia para você, eu podia ouvir de onde eu estava, a bola dizia eu te amo, Zico, te amo na grama verde e na terra da pequena área, no tapete de Wembley e nos buracos da Bariri; no sol e na chuva, no calor do Rio e no frio de Udine, eu te amo, Zico.
E eu sei que você ouviu, e nunca se esqueceu, porque lá estava você com ela um pouco antes da última cirurgia, e também depois, porque você pode trocar o quadril, o joelho, seja o que for, mas enquanto você não trocar o coração, vai estar correndo atrás da bola, porque esse é seu jeito de responder, docemente, eu também te amo, bola. E vocês se amam de um amor tão abençoado que fizeram milhões de pessoas felizes para sempre.
Feliz 70, meu Rei. Obrigado por tudo. A vida é melhor porque você existe.
Mauricio Neves de Jesus é jornalista, roteirista e além disso é autor de diversos livros sobre o futebol brasileiro, como Epopeias rubro-negras, 1981: o primeiro ano do resto das nossas vidas, 1962: o ano Mané, Maestro, Penta: no traço, no rádio e na bola. No Twitter e Instagram: @flapravaler.
Siga o MRN no X/Twitter, Threads, BlueSky e no Instagram.
Contribua com a independência do nosso trabalho: seja apoiador.
- Flamengo visita Fortaleza por confronto direto no Brasileirão
- Onde vai passar o jogo do Flamengo ao vivo hoje (26/11/2024)
- Erick Pulga, artilheiro da Série B, é alvo do Flamengo, diz portal
- São Paulo não quer negociar atacante Calleri com o Flamengo
- Últimas notícias do Flamengo: Feminino, Fortaleza e estádio
Siga o MRN no X/Twitter, Threads, BlueSky e no Instagram.
Contribua com a independência do nosso trabalho: seja apoiador.
- Flamengo visita Fortaleza por confronto direto no Brasileirão
- Onde vai passar o jogo do Flamengo ao vivo hoje (26/11/2024)
- Erick Pulga, artilheiro da Série B, é alvo do Flamengo, diz portal
- São Paulo não quer negociar atacante Calleri com o Flamengo
- Últimas notícias do Flamengo: Feminino, Fortaleza e estádio