Desde que chegou ao Flamengo, Paulo Sousa deixou claro o quanto é importante o trabalho dos zagueiros em seu modelo de jogo.
Não só em relação às responsabilidades defensivas, mas também no trabalho com bola dos defensores. Vamos abordar nesse texto em específico o papel ofensivo dos zagueiros para Paulo Sousa.
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Como Paulo Sousa posiciona seus zagueiros em organização ofensiva?
Já na estreia do Mister comandando o Flamengo, contra o Boavista, rapidamente uma ideia ficou clara: a equipe organizaria sua saída de bola com três zagueiros.
Mas a ideia não necessariamente precisa de zagueiros de ofício para realizar a função. Ao longo de todos os seus trabalhos, Paulo Sousa já usou volantes e laterais para formaram a linha de três na linha de zagueiros. Em especial no Flamengo, o treinador português usou, além de zagueiros, somente laterais nesta função.
O zagueiro central tem maiores responsabilidade para circulação da bola, se perfilando para receber passes e rapidamente manter o ritmo da equipe em organização ofensiva.
Nesse sentido, David Luiz parece ser o escolhido de Paulo Sousa neste início de temporada. O experiente zagueiro vem demonstrando grande senso de liderança para orientar seus companheiros a posicionarem corretamente, além de sua qualidade técnica com bola.
Os zagueiros pelos lados tem maior liberdade para avançar no campo. Por esse motivo, Paulo Sousa vem testando laterais atuando na saída de três: pela maior mobilidade para avançar no campo e realizar recomposições no pós-perda.
Filipe Luís parece já ter vaga consolidada pelo lado esquerdo. Já pelo lado direito, Isla e até Rodinei foram testados na função. Todavia, Fabrício Bruno é o atleta que vem recebendo maior minutagem no setor. Na vitória contra o Vasco, o zagueiro completou seu quinto jogo seguido como titular.
Em uma condição equilibrada de jogo, onde enfrenta um adversário que buscará marcar com maior volúpia a saída de bola, os zagueiros precisam estar prontos para identificarem janelas por dentro que possam ser acionadas, bem como passes nos corredores laterais buscando os laterais.
Naturalmente, não estarão em situação de “bola descoberta” (termo que será explicado no texto). Logo precisam identificar o companheiro livre para conseguir avançar com a bola em campo.
Também é possível que os zagueiros realizem passes mais longos buscando a última linha de defesa adversária. Este tema ainda será abordado com maior profundidade no texto.
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Zagueiros de Paulo Sousa precisam trabalhar frequentemente em bola descoberta
A exceção das partidas contra Atlético-MG e Bangu, todos os adversários do Flamengo de Paulo Sousa preferiram por majoritariamente baixar seu bloco de marcação numa linha média/baixa. Consequentemente isso faz com que em muitos espaços do campo adversário tenham muitos opositores gerando dobras nos atletas do Flamengo.
Contudo, o futebol é um esporte de cobertor curto. Quando se privilegia uma maior proteção de um setor do campo, uma outra região fica mais esvaziada. Logo, se existem muitos marcadores na região dos meias e atacantes do Flamengo, proporcionalmente teremos poucos marcadores na região dos zagueiros. Assim, é preciso definir um conceito muito utilizado dentro da análise de futebol: o de bola descoberta.
Mas o que é uma situação de bola descoberta? É um momento durante a partida que o portador da bola não possui nenhum opositor próximo para cobrir suas linhas de passe. Dessa forma, o atleta tem maior facilidade para passar para seus companheiros.
Por exemplo: o primeiro clássico entre Flamengo x Vasco em 2022, disputado no Engenhão pela Taça Guanabara, o Vasco optou por utilizar uma linha de seis em organização defensiva, gerando situações de superioridade numérica tantos nos corredores laterais, quanto no seu corredor central defensivo. Contudo uma região do campo foi pouquíssimo ocupada pelos defensores vascaínos: a região próxima dos zagueiros do Flamengo.
Fabrício Bruno, David Luiz e Filipe Luís tinham liberdade para conduzir e passar para seus companheiros cobertos por seus opositores, pois só recebiam a marcação de Nenê. Uma situação de 3 contra 1.
Filipe Luís ainda conseguiu participar com maior frequência nas ações ofensivas do Flamengo, progredindo com a bola e encontrando alguns passes chave para meias e atacantes. Porém, Fabrício Bruno não teve a mesma leitura e pouco explorou o espaço que lhe era dado pela direita.
Com essa motivação que Paulo Sousa substituiu o zagueiro pela direita por Marinho. Para ter Rodinei – que entrou no lugar de Matheuzinho – posicionado no setor e, consequentemente, um maior volume ofensivo dado que o lateral-direito de origem inicia suas jogadas em bola descoberta.
Por que os zagueiros do Flamengo passam tantas bolas longas?
Uma das principais formas de atacar um adversário fechado é atacando sua última linha em profundidade. Isso pode ser feito tanto com passes curtos que permitam um atacante ser acionado em um desmarque de ruptura, bem como através das bolas longas.
Atualmente, o Flamengo de Paulo Sousa não vem executando com grande eficiência mecanismos para progredir no campo com passes numa menor distância entre o passador e quem recebe o passe. Os meias e os atacantes ainda precisam evoluir para identificarem as janelas que podem ser acionados. E a maioria dos zagueiros e alas devem realizar esses passes com mais frequência.
Falando especificamente dos zagueiros, o trio que realiza a saída rubro-negra normalmente possui opções de passe mais próximos bastante constrangidas. Tanto os volantes, quanto os alas são cobertos por seus opositores. Já no caso dos meias e atacantes, além do constrangimento sofrido pelos zagueiros e laterais adversários, existe o maior risco inerente a um passe mais longo.
Filipe Luís vem buscando reduzir esse risco conduzindo a bola até uma região onde seja possível acioná-los com passes mais curtos.
Já David Luiz consegue por muitas vezes reduzir o risco de um passe longo dado a sua qualidade técnica. O zagueiro vem encontrando seus companheiros dentro da área e em condições de finalização através alguns passes longos que já realizou.
Apesar da maior chance de erro num passe de mais 40 metros, ele possui uma grande vantagem: quanto maior a distância entre o passador e jogador acionado pelo passe, mais difícil é para o defensor dividir referência entre a bola e o atacante. Dessa forma, por muitas vezes é possível atacar a profundidade com maior facilidade, dado a maior dificuldade de se defender de um passe longo bem executado.
Mas e aí, qual é o papel ofensivo dos zagueiros para Paulo Sousa?
Após toda a abordagem realizada no texto, podemos resumir o trabalho com bola dos zagueiros no modelo de jogo de Paulo Sousa em dois pontos principais:
- Em situações de bola coberta, iniciar saída de bola, buscando progredir a equipe com bola em campo. Seja com passes buscando volantes e alas, ou pela condução da bola. Sempre buscando o companheiro livre.
- Em situações de bola descoberta ter maior volume de jogo com bola, seja encontrando meias e atacantes no entrelinhas, bem como com passes longos buscando a profundidade.
No campo das ideias, Paulo Sousa tem claro como os zagueiros precisam trabalhar com bola. Na prática, ainda falta muito a melhorar a postura do trio de zaga e dos companheiros que serão acionados por eles.
E isso faz parte de um natural início de trabalho.
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