Depois de toda turbulência, iniciada com duas derrotas, Domènec Torrent parece pronto a decolar com o Urubu
Durante o período conhecido como Renascença, a cidade de Florença, na Itália, abrigou alguns dos maiores gênios das artes na história da humanidade, entre eles Leonardo da Vinci e Michelangelo. Por obra do destino, ambos haviam sido contratados para pintar uma cena de guerra no Palazzo della Signoria, sede do governo à época, onde a melhor arte seria exposta. Essa disputa foi chamada de A Batalha das Batalhas.
A cidade que respirava arte explodiu em discussões em cada esquina. Quem seria o vencedor? Infelizmente, nenhum dos dois chegou a terminar suas obras. Até hoje a discussão sobre quem venceria o grande duelo artístico se perpetua. Já em 2019/2020 o Flamengo mudou de patamar, abrigou conquistas com Jesus e parece continuar andando em direção ao topo com Domènec.
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Desde sua chegada, o espanhol convive com as comparações com o português, sejam números de jogos, gols feitos, sofridos, porcentagem de posse de bola e etc. Assim como nunca tivemos o resultado do confronto entre os artistas italianos, não saberemos quem foi melhor para o Flamengo. Mesmo que o espanhol chegue a ter as mesmas conquistas do português. As comparações tomaram as redes sociais, imprensa e chegaram a ser levadas para dentro de campo: os jogadores pareciam demonstrar estar brigando entre mente e corpo, tentando aplicar as ideias novas da escola Domenec’al, mas o corpo ainda seguia o catequismo da missão Jorge Jesus.
Jesus impressionava pelo carisma e a agressividade, parecia ter rubro-negrismo na alma, encantou o Brasil e conquistou a América mudando até mesmo o olhar dos jogadores. Competitividade pura, quase como uma fé inabalável na vitória. Assim o português ganhou a paixão do torcedor, ganhou música, bandeiras, memes e sósia. Símbolo de um Flamengo vencedor.
Em contrapartida, Dome chegou em uma panela de pressão. Pandemia mundial, recondicionamento físico, intervalo de apenas três ou quatro dias entre os jogos e uma necessidade premente de se provar como treinador em um mercado realmente competitivo. Mais metódico, quase como ciência, com conceitos estabelecidos e respostas polidas mediante aos fatos, afeito a dados e passando confiança com bastante calma na evolução do time. Vai se internar no Ninho do Urubu para pensar no Flamengo até dormindo. Ganha cada vez mais, além da recente série de vitórias, um espaço no coração do torcedor outrora preenchido por Jesus.