“Bota ponta, Telê!” Pendurado no orelhão, Zé da Galera dava voz ao clamor de todo um país. O bordão mais popular do humorista Jô Soares, que faleceu nesta sexta-feira (5), aos 84 anos, tem, mesmo que involuntariamente, uma relação com o Flamengo.
Todo brasileiro com 40 anos ou mais lembra de dar boas gargalhadas nas noites de segunda-feira, quando o Viva o Gordo entrava no ar. Entre os personagens mais famosos de Jô Soares estão o Capitão, Gay, Reizinho, os irmãos franciscanos, Vovó Naná e, claro, o Zé da Galera. O torcedor fanático da Seleção que não se conformava que o técnico Telê Santana não achasse entre os tantos craques convocados um lugar para os pontas. Mas quem seriam esses pontas?
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Um deles, sem dúvidas, seria o craque Tita, revelado no Flamengo nos anos 1970 e parte fundamental do time histórico do Rubro-Negro nos anos 1980. Quem não lembra da escalação Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Junior; Andrade, Adílio e Zico, TITA, Nunes e Lico. Craque de bola, Tita deu azar de surgir no mesmo período que um monstro sagrado do futebol. Por isso teve que ir jogar na ponta direita.
Tita não estava feliz jogando na ponta direita
E, claro, se tornou um dos melhores pontas direitas do Brasil. Mas não estava feliz. Convocado costumeiramente para a seleção para jogar na extrema direita, Tita queria um lugar entre os cobras do meio campo. Achava que tinha futebol para disputar espaço com Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo. Resultado, não foi mais convocado por Telê. Décadas depois, Tita se disse arrependido.
“Em 1982, aí sim, foi o grande erro na minha vida. Seria a convocação ideal. Acho que não fui por causa de uma decisão equivocada da juventude, de ser jovem, de achar que eu não tinha que jogar naquela posição (atacante), que a minha melhor participação seria no meio do que na ponta… Aí, tomei a decisão de não ir à Copa, entendeu? Eu jogava como ponta e não era a minha posição de origem, como meia. Depois da classificação para a Copa do Mundo, eu não quis mais jogar na ponta direita. O Telê me convocou para a ponta, mas depois da classificação, eu não quis mais jogar pela ponta direita,” disse Tita em entrevista ao UOL.
Telê não atendeu pedido de Jô Soares e do Brasil
Sem Tita, Telê não quis apostar na jovem promessa Renato Portaluppi, que já despontava no Grêmio e explodiria em 1983. Como Tita não voltou atrás, não foi à Copa. Iria finalmente em 1990, já com 32 anos, quando não entrou em campo em nenhum jogo.
No jogo fatal, contra a Itália, no Sarriá, o Brasil entrou em campo com Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Junior, Cerezo, Falcão, Socrates e Zico, Serginho Chulada e Eder. Ou seja, com quatro meio campistas e dois atacantes. Sem ponta. Eder até jogava pela esquerda, mas não era um ponta clássico do 4-3-3 tão comum nos anos 1980.
Em texto para a Placar em 1982, Jô Soares, que amava futebol e torcia para o Fluminense, encarnou o Zé da Galera e fez mais um pedido ao técnico da seleção, O gordo escreveu: “Telê, o Zé da Galera abre o jogo toda semana no programa Viva o Gordo e eu vou abrir também aqui na PLACAR. Penso como o Zé da Galera — afinal, sou torcedor de me descabelar quando a seleção joga e não posso deixar de insistir na pergunta: cadê os pontas, Telê?