MRN Informação | Bruno Guedes – Era 3 de março de 2014. Um dia especial para Zico. Além de seu aniversário, ele seria enredo na Marquês de Sapucaí. O local era uma espécie de terceira casa para o Galinho – já que o Maracanã era a segunda. Mas ao contrário do que fazia desde os anos 80, quando ainda destruía seus adversários com a camisa do Flamengo, não estaria de azul e branco. Naquela noite, Arthur Antunes Coimbra não estaria com a Beija-Flor. Seria coroado pela rival Imperatriz Leopoldinense. Ou pelo menos se imaginava…
Falar de Zico é quase sinônimo de Flamengo. E também de como ele é tratado como um rei pela torcida rubro-negra. Foi assim que a escola de Ramos apresentou “Arthur X o reino do Galinho de ouro na corte da Imperatriz”. Fazendo uma analogia com o Rei Arthur, o mítico monarca inglês, sua vida seria narrada como um conto de fadas.
Entretanto, ao invés de fábulas, gols. Durante 80 minutos, como num filme, o Arthur de Quintino enfrentaria grandes batalhas. Mas diferentemente do Arthur da Inglaterra, este expandia seu império através da magia com os pés.
Convencendo a família Coimbra inteira a virar a casaca e vestir verde e branco, Zico e sua corte toda foi para a maior festa de aniversário que já teve. Uma plateia de 80 mil pessoas aguardava o cortejo real como se voltasse ao Maracanã para ver o Flamengo. E foi quase isso.
“Hoje, mais do que nunca é o seu dia, vamos brindar com alegria” – Zico, o mortal que já nasceu coroado
Com todos os craques do passado presentes, sua vida foi materializada em fantasias e alegorias. Cada lembrança, uma lágrima. Porém, todos queriam ver o rei. Todos estavam lá pelo rei. E Zico apareceu.
De vermelho e preto, nas cores que melhor veste sua realeza. Assim, cercado por seus “cavaleiros”, o Arthur daqui desfilava, literalmente, com sua corte inteira. Vitorioso. Impecável. Como sempre.
Assim como o símbolo da escola, o Galinho colocaria a coroa de rei na Avenida. Era o ato final. A coroação. A única coisa que faltava ao seu panteão de troféus e faixas de campeão. Entretanto, com a mesma elegância e naturalidade com que exterminava os adversários dentro das quatro linhas, Zico não a colocou em sua cabeça.
Como num gesto de humildade e recusa em aceitar ser o rei entre tantos nobres, o Arthur de Quintino não quis ser como o da Inglaterra. Não quis ter a coroa na sua cabeça. Quis ser mais um em meio ao povo.
Entretanto, não é apenas mais um. É um deus de chuteira. Para sempre será Zico, o rei de uma nação. Para ele, é apenas mais apaixonado pelo Flamengo. Apenas mais um Coimbra entre tantos.
Dessa forma, durante os 80 minutos, a coroa não ficou um segundo na cabeça do rei. Nem precisava.
O rei já nasceu coroado.
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