Um discurso que vem surgindo cada vez mais em momentos de atrito entre a instituição Flamengo e seus jogadores, ou mesmo de setores da torcida com os atletas, é o de que “o clube é maior do que qualquer jogador”. Você já deve ter ouvido em mesa redonda, em redes sociais, em grupos de Whatsapp.
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E essa, obviamente, uma afirmação verdadeira. Afinal, o Flamengo é uma instituição centenária, que estava aqui antes de todos nós e vai continuar depois que já não estivermos aqui pra acompanhar suas conquistas. Em quase 130 anos de história, vários atletas já chegaram e saíram, de craques a cabeças de bagre, de gente que escreveu seu nome nas páginas no futebol mundial até galera que mal é uma nota de rodapé no pasquim dos peladeiros cariocas.
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Mas ainda que sim, a instituição seja maior do que qualquer jogador e ainda que, claro, como muitos fazem questão de reforçar, nenhum jogador seja insubstituível, é preciso tomar muito cuidado pra que o que deveria ser um argumento de exaltação ao clube não acabe servindo como arma pra minimizar quem construiu a história desse clube dentro de campo, que são exatamente eles, os jogadores.
Porque claro, nenhum jogador é maior do que o Flamengo, nem mesmo o maior jogador da história do Flamengo. Mas mesmo sem ser maior que o clube, não são craques como Zico que tornaram o clube grande como ele é? Não foram os gols que conquistaram torcedores, não foram as taças que escreveram nossa história? Porque sim, nós torcemos por um clube, mas quem é a manifestação prática, terrena, sólida e física desse clube senão nós, os torcedores, e eles, os jogadores?
E diante da saída de Gabigol, anunciada pelo próprio jogador, veio à tona novamente o discurso de que “o clube é maior do que qualquer jogador” e que “ninguém é insubstituível”. Duas coisas que, repito, são sim verdade, mas que exigem mais análise do que acredito que está sendo oferecido.
Porque não, Gabriel Barbosa não é maior do que o Flamengo. Mas é imensamente, gigantescamente, maior do que Braz e Landim, dois homens mínimos que surfam nas costas de um jogador que obviamente teve seus altos e baixos, mas fez história com o manto rubro-negro como poucos até hoje. É preciso muito cuidado ao pensar que defender a vontade de homens como eles equivale a defender os interesses do Flamengo.
E sim, Gabriel Barbosa é substituível. Mas está profundamente enganado o torcedor de rede social que acredita que vai encontrar por aí alguém mais decisivo que Gabigol, capaz de suportar a pressão como Gabigol e que aceite receber menos do que Gabigol, essa espécie de Haaland com mentalidade de Zico e custo de Léo Gamalho que algumas pessoas parecem imaginar que existe em toda esquina.
Jogar no Flamengo é diferente, tanto pro bem quanto pro mal, tanto pro peso das conquistas quanto pra pressão dos fracassos. É um moedor de atletas que já destruiu muita gente que parecia ser de ouro e transformou em diamante quem por fora era só carvão. Vestir o manto rubro-negro é um privilégio, e dar alegria pra essa torcida é um talento com o qual, a cada geração, poucas pessoas são capazes de nascer.
Então mais do que usar o discurso de que “o Flamengo é maior do que qualquer jogador” pra descartar craques baseados em análises imediatistas e ilusões de quem acredita que temos grandes jogadores pendurados em árvores por aí, vamos lembrar que a grandeza desse clube imenso vem exatamente do tamanho também gigante dos craques que por ele passaram.
Boa sorte, Gabigol, obrigado por tudo. O Flamengo é imenso, mas a sua história aqui também foi gigante.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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