Em apenas nove partidas comandando o time, Domènec Torrent já aplicou conceitos que seu estilo de jogo exige
A primeira observação para entender o que Dome faz é não ficar preso aos rótulos de posição. Para o treinador, todo jogador pode mudar de posição a qualquer momento. Arrascaeta não é um ponta-esquerda ou um meia atacante para Domènec, mas sim um jogador forte de ataque, e que será utilizado em diferentes funções dependendo da partida, e aí encontra-se outro ponto importante.
Diferentes partidas exigem diferentes abordagens. Um jogo contra um time que irá se defender a todo momento, como o Sport de Jair Ventura, ou contra um time reativo como é o Fluminense de Odair Hellmann pede uma abordagem diferente da que será utilizada contra um time propositivo como o Atlético Mineiro de Sampaoli ou o São Paulo de Fernando Diniz. A leitura irá mudar dependendo do adversário, e as peças em campo também.
Por último, mas não menos importante, fica o rodízio. Não existe um 11 ideal e certo para todas as partidas. Existem motivos para isso, e até mesmo o calendário exige o rodízio, mas é algo que o próprio Dome já tinha como certo em sua época de auxiliar no Bayern de Munique ao lado de Pep Guardiola. No livro Guardiola Confidencial, Domènec diz: “Não espere um sistema tático fixo nem uma equipe titular indiscutível. Isso mudará a cada jogo”, mostrando assim que a ideia já existia.
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O Flamengo tem elenco e dinheiro para fazer o rodízio. É um dos poucos clubes do Brasil com diversos jogadores de qualidade no banco para funções de meio de campo e ataque. Domènec Torrent tenta achar a melhor maneira de maximizar a criação rubro-negra pela zona central do campo. Everton Ribeiro e Arrascaeta, titulares absolutos em 2019, continuam figurando no time principal, mas não com as mesmas funções. É claro que o uso dos dois muda dependendo do jogo, mas, de forma geral, podem ser observados movimentos comuns dos craques.
Sem as posições fixas de ataque e com uma crescente mobilidade, Arrascaeta tornou-se um jogador mais móvel no Flamengo. Uma comparação entre o seu mapa de calor no Brasileirão de 2019 e nos oito jogos em que atuou em 2020 mostra uma participação maior nos dois lados do campo, deixando evidente uma participação do uruguaio até mesmo como um segundo atacante dependendo da forma em que o Flamengo encara a partida.
Outro jogador que se tornou muito importante na mudança do meio de campo do Flamengo é Gerson. Sua visão de jogo e noção de espaço dentro das quatro linhas são fatores cruciais para o camisa 8 ser um elemento chave do Flamengo. Versátil, Gerson pode fazer diversas funções dentro de campo com qualidade. Se ele se destacou como segundo volante em 2019, vale ressaltar seu ótimo período na ponta-direita do Fluminense, ou de seu uso como um jogador mais avançado no campo também.
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Domènec e seus laterais invertidos (termo dado aos laterais que jogam mais próximos ao volante) dão um maior poder ao meio de campo. Com auxílio vindo das laterais para o volante, as funções de marcação se tornam menos complicadas, permitindo o uso de meias jogando entrelinhas adversárias. Diego, Everton Ribeiro e até mesmo Gerson podem fazer tal função com qualidade.
Quem também merece destaque no setor de meio de campo é Thiago Maia. A sua capacidade e qualidade como volante nunca foram motivos para dúvidas, mas deve existir sim um respeito por Willian Arão, que evoluiu muito com Jorge Jesus, chegando ao ponto de ser um dos melhores volantes do Brasil na conquista da Libertadores e do Brasileirão em 2019. O novo reforço, porém, parece ser o número um para a posição, tendo uma excelente atuação em diversas partidas, principalmente na vitória por 2 a 1 contra o Fluminense.
Créditos da imagem destacada: Divulgação Flamengo (arte: Rafael Bizarelo/MRN)