Treinando como zagueiro ou não, o que a torcida do Flamengo espera mesmo de Willian Arão é que ele ajude o time. O MRN colheu cinco momentos marcantes do atleta com o Manto Sagrado
As notícias da preparação de Rogério Ceni para o jogo contra o Goiás, válido pela 30ª rodada do Campeonato Brasileiro, apontam que Willian Arão pode jogar ao lado de Rodrigo Caio na zaga. O volante já foi deslocado para a posição em momentos que o time precisava se lançar ao ataque desesperadamente. E nem é a primeira vez que o jogador atua fora da volância nestes anos todos de clube.
A relação de Willian Arão com os torcedores nunca foi das mais estáveis, alguns dizem que o jogador é relapso, um tanto desligado em campo. Já outros enxergam o atleta como peça fundamental no time do Flamengo, com saída de bola segura e bom papel ocupando os espaços no setor do meio-campo são muito elogiados.
O meio-campista chegou ao Rubro-Negro vindo do Botafogo no início da temporada de 2016 sob o signo da polêmica. Até hoje o alvinegro carioca não engole a forma como o atleta trocou General Severiano pela Gávea. Em dezembro último tornou-se o jogador que mais vestiu a camisa do Flamengo na década passada (2011-2020).
Gostando ou não do jogador, todos precisam concordar que esta longevidade não seria construída sem méritos e bons momentos. Com a chegada de Jesus, Arão passou de perseguido para meme. E de meme para campeão brasileiro e da Libertadores da América. Criticado sempre, porém, respeitado como nunca.
Claro que Arão nunca será o astro da companhia. Mas com certeza é uma engrenagem importante dentro de uma máquina que precisa estar regulada por um bom engenheiro para pôr a prova seu pleno funcionamento, atacando ou defendendo.
Nesta segunda-feira (18/01), atuando como zagueiro ou não, o que a torcida do Flamengo espera mesmo de Arão é que ele ajude o time a conquistar mais três pontos. Abaixo, o MRN colheu cinco momentos marcantes do atleta com o Manto Sagrado.
A chegada ao Flamengo
Logo na sua chegada ao Flamengo, Willian Arão protagonizou um momento marcante. O atleta havia feito grande temporada pelo Botafogo em 2015, e o clube não pensou duas vezes em tentar a renovação, porém, a vontade do jogador era diferente. O Alvinegro chegou a depositar 400 mil reais na conta de Arão duas vezes, em ambas as ocasiões, o dinheiro foi devolvido.
O jogador entrou na justiça para se desvincular do Botafogo e ficar livre para assinar com qualquer clube. O Flamengo não perdeu tempo e assinou com Arão, o que deixou os dirigentes e os torcedores do Alvinegro nada satisfeitos. O presidente do Botafogo na época chegou a criticar o até então presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.
“O sentimento é de decepção com o presidente Eduardo Bandeira. Ele teve várias oportunidades de tratar pessoalmente esse assunto comigo, mas optou por não fazer. Na ética dos negócios, eu esperava um outro comportamento do Flamengo. É uma decepção que certamente será levada em conta no futuro da relação dos clubes”, lamentou o ex- presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira.
A temporada de estréia
Após a polêmica envolvendo o Botafogo, Willian Arão foi apresentado pelo Flamengo e estreou no Campeonato Carioca. No estadual, Arão caiu nas graças da torcida com boas atuações e muita solidez no meio de campo. Apesar da eliminação do Rubro-Negro nas semifinais da competição, Arão foi escolhido para a seleção do campeonato.
No Campeonato Brasileiro, o jogador se tornou uma espécie de termômetro dentro do elenco, suas atuações ditavam o ritmo da equipe. Arão, juntamente de Alan Patrick, eram as referências no meio de campo Rubro-Negro.
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Após a chegada de Diego Ribas no meio da temporada, Willian passou a ocupar diferentes faixas no setor do meio-campo, chegando a jogar até como meia esquerda no esquema de Zé Ricardo, isso fez com que o atleta caísse de produção.
Mesmo com a queda de produção, Arão terminou o ano de 2016 em alta, foram trinta e sete partidas pelo Brasileirão e cinco gols. As atuações renderam uma convocação para a seleção brasileira logo no início de 2017.
O gol decisivo contra o Fluminense
O ano de 2017 não foi dos melhores para o Flamengo e nem para Willian Arão. Mesmo com o título carioca no início do ano, o resto da temporada não atendeu as expectativas da torcida. Arão caiu muito de rendimento em relação a 2016 e começou a ser questionado pelos adeptos rubro-negros.
Apesar do ano ruim, foi em 2017 que Arão teve um de seus melhores momentos com o Manto Sagrado. Na fase de quartas de final da Copa Sul-Americana, o Flamengo encarou o grande rival, Fluminense. No primeiro jogo 1×0 pro Mais Querido.
O segundo jogo se tornou um verdadeiro teste para cardíaco de qualquer flamenguista. Perdendo por 2 a 1 ao fim do primeiro tempo, o Rubro-Negro precisava do empate para se classificar, mas as coisas ficaram complicadas quando Renato Chaves ampliou para o Tricolor.
O Flamengo tinha pouco mais da metade do segundo tempo para buscar o empate que era necessário para a classificação. Aos 22 da segunda etapa Felipe Vizeu recebeu belo passe de Everton Ribeiro e diminuiu o placar. A partida caminhava para o fim, até que aos 39 minutos, Pará cobrou uma falta certeira na cabeça de Willian Arão que mandou pra rede e explodiu o Maracanã em emoção. 3 a 3 e classificação para as semifinais.
Ao fim da partida Arão ainda se envolveu em uma confusão com o lateral-direito Lucas, que alegou ter sido ofendido após o apito final.
“É o Arão, disse que ia me pegar depois do jogo. Agora está dando entrevista… Ele debochou de mim, ficou falando depois: ‘tá eliminado’. Para que isso?”, disse Lucas
Já Willian Arão deu outra versão da confusão e disse ter sido agredido pelo lateral do Fluminense
“Em nenhum momento eu desrespeitei. O que aconteceu no lance (que gerou a confusão) foi que eu tirei a mão do Henrique, ele foi defender o Henrique e deu um tapa em minha cara, e não se dá tapa na cara de um homem. Eu falei pra ele se ‘lá fora’ ele ia ser tão homem assim pra dar tapa em minha cara, foi isso que aconteceu”, explicou o volante.
A chegada de Jorge Jesus
A chegada de Jorge Jesus ao Flamengo, com certeza, é um dos momentos mais marcantes para Willian Arão. O atleta teve um ano de 2018 ruim e começou 2019 muito contestado pela torcida, que pedia a saída do jogador que só foi mantido a pedido de Abel Braga, que no início da temporada era o treinador.
Arão era quase que titular incontestável por ter a confiança do técnico, porém, as críticas continuaram e eram agravadas pelo fato do trabalho de Abel Braga não agradar grande parte dos torcedores. Mesmo com toda pressão, o treinador chegou a dar uma declaração dizendo que não tiraria o volante do time titular.
“Eu não vou tirar o Arão do time. Posso substituir, mas tirar, não tiro. Ele dá equilíbrio ao time”, explicou Abel.
Mesmo com toda sua confiança, Abel Braga saiu do Flamengo alegando se sentir “traído” pela diretoria do clube que, segundo as notícias, já estava procurando um substituto para o ‘Abelão’ antes mesmo de comunicar a demissão ao treinador.
Com a saída de Abel e a chegada de Jorge Jesus, muitos pensaram que seria o fim da linha para Willian Arão. Tudo parecia caminhar para que o jogador perdesse espaço no time. Logo na estréia do Mister, em um jogo-treino diante do Madureira, viralizou o momento em que o treinador da uma “chamada” no camisa 5, o famoso “Ta mal Arão” parecia selar a saída do volante.
Questionado sobre as cobranças do treinador, Arão disse que não via como algo pessoal e que enxergava crescimento em seu futebol.
“Não penso dessa forma. Ele tem pegado no meu pé para corrigir algumas coisas. Isso é com todos, todos são cobrados de maneira igual. Ele faz isso para o time render mais, só isso. A pressão que sinto é a de fazer o meu melhor a cada partida, fazendo o que o treinador pede. Se você deixar de fazer a sua função, você sobrecarrega o companheiro e busco fazer bem. Eu me preparo e a pressão que coloco em mim é de fazer o melhor, não de ocupar lugar de A, B ou C “, disse o camisa 5.
Surpreendentemente, Willian Arão continuou ganhando sequência com JJ e se tornou peça importante no esquema do português. No começo, muitos foram contra a permanência do jogador mas logo perceberam que a atitude do atleta estava diferente. Muito mais vibrante e ligado no jogo, Arão deu a volta por cima e, juntamente com Gerson, formou a melhor dupla de volantes do Brasil em 2019.
A partida contra o Racing
Esse momento, sem dúvidas, é o mais triste da lista, mas é um dos que melhor representa a relação de Willian Arão com a torcida do Flamengo. Do céu ao inferno em pouquíssimo tempo.
No ano de 2020, O Flamengo vivia a expectativa de conseguir o tri-campeonato da Libertadores. Sendo o atual campeão, o Rubro-Negro chegou com moral à competição, mesmo sem Jorge Jesus, O Mais Querido mantinha certo ‘favoritismo’ no torneio.
Nas oitavas de final, o clube carioca enfrentou o Racing da Argentina e empatou o primeiro jogo em 1 a 1 na casa dos adversários. No Maracanã, o Flamengo só precisava manter o empate em 0 a 0 para garantir a classificação. Porém, na segunda etapa, após a expulsão de Rodrigo Caio, o Racing abriu o placar e ia ficando com a vaga.
Aos 48 minutos da etapa final, Willian Arão aproveita a cobrança de escanteio no primeiro pau e empata a partida, levando-a para as penalidades, o camisa 5 estava prestes a se tornar o herói da noite.
Nas cobranças de pênalti, o goleiro Diego Alves não conseguiu defender nenhuma das 5 cobranças da La Academia. Willian Arão, justamente o herói do jogo no tempo normal, se tornou vilão ao desperdiçar sua cobrança. Mesmo que no outro dia muitos reconhecessem que Arão não era o culpado pela derrota, na hora da emoção, o que ficou marcado foi a estranha cobrança de pênalti do volante.