Ontem, dia 21 de Setembro de 2024, uma coisa inusitada aconteceu. O Clube de Regatas do Flamengo assumiu de maneira oficial sua desistência do campeonato brasileiro. Ao contrário do que a Novilingua orweliana da nota diz, a medida de não mandar 12 jogadores para o jogo contra o Grêmio, significa a demonstração clara de que o campeonato não tem mais a menor importância.
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Essa é, sem dúvida, uma mudança impressionante de postura pública dessa diretoria. Em 2019, por exemplo, Abel Braga se demitiu após receber a ordem para não deixar o Brasileiro em segundo plano. Já em 2020, restou a Ceni apenas brigar pelo campeonato. Em 2021 e 2022, a pressão para disputar as três frentes aumentou, embora Renato e Dorival dessem sinais de que não seguiriam esse caminho.
➕ JOÃO LUIS JR.: Não há caminho para o Flamengo que não passe pela demissão de Tite
E, finalmente, em 2023… Bom, em 2023 Sampaoli estava na beira do gramado, então pouco importava o que iríamos priorizar. Em 2024, entretanto, a diretoria tomou a decisão oposta e a comunicou oficialmente, com técnico e diretoria assumindo juntos os ônus e bônus dessa escolha.
Muitos podem dizer que foi uma decisão acertada, afinal, estamos às portas de sermos eliminados pelo Peñarol e talvez o Brasileiro já tenha sido jogado no lixo com a pífia campanha realizada até aqui.
Outra parte da torcida e imprensa dará razão à escolha por conta dos “problemas logísticos” de se jogar no Rio Grande do Sul nesse momento – especialmente aos jornalistas que adotarem essa linha, cumpre lembrar qual era a opinião deles quando o Renato Gaúcho fazia a mesma coisa no Grêmio.
Mas a verdade é que isso é o modus operandi do Tite há muito tempo. Trabalha com a ideia de “pontos perdíveis” há muito tempo. Jogos fora, contra adversários grandes, são encarados como reveses aceitáveis. Exemplo disso foi a derrota para o São Paulo. Teoricamente, é uma estratégia que pode dar certo caso você faça seu dever de casa e se imponha fora contra os mais fracos. O que não fizemos.
Se o Flamengo ainda conta em ser campeão brasileiro, deveria se concentrar em uma reta final de erro zero, parecida com 2020. Mas aí um elemento importante entra na equação: o prejuízo dos que tomam as decisões no Flamengo.
Seria catastrófico para Braz que o Flamengo fosse eliminado da Libertadores três dias antes das eleições. Já Landim, teria sua sucessão ainda mais ameaçada, enquanto Tite talvez sequer chegasse ao final da temporada empregado, correndo o risco de no espaço de um ano sair de “melhor técnico brasileiro” para “fracassou com o melhor elenco do país”.
Cumpre a pergunta óbvia: pode um clube como o Flamengo, que se quer hegemônico, a despeito das besteiras feitas pela diretoria, abdicar de lutar pelo campeonato nacional? Pode um clube com elenco, estrutura, orçamento, torcida e tudo mais para ser campeão, tratar como “ok” a possibilidade de estar, a 11 rodadas do final, 11 pontos atrás do líder? Volto a lembrar que alguns que tratam isso com naturalidade hoje, antes tratavam como um grande absurdo que o Flamengo não liderava o campeonato há algum tempo.
Dessa forma, concluiram que o melhor para eles era o foco total no jogo em Montevidéu. É a jogada final para se salvarem. E pode custar muito caro, pode custar mais uma temporada. Churchill, quando às vésperas da Segunda Guerra o governo inglês fez um acordo nefasto com o governo alemão: Entre a desonra e eliminação, nossa direitoria escolheu a desonra. Mas pode ter também a eliminação.