Antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer um fato óbvio: não estaríamos tendo essa conversa toda se Gabigol não fosse, no mínimo, um tonto. Vestir a camisa de outro time durante um dia de folga, por mais que na prática seja um gesto sem significado algum, é uma dessas coisas que um atleta na reserva, questionado e vindo de uma suspensão, poderia tranquilamente evitar.
Dito isso, o que se viu depois da bobagem cometida por Gabriel Barbosa foi talvez uma das maiores presepadas da história rubro-negra, num festival indignação exagerada, cara de pau da diretoria e má gestão de imagem.
➕ JOÃO LUIS JR: E finalmente o Flamengo jogou como Flamengo nessa Libertadores
Primeiro porque o que o nosso ex-camisa 10 fez foi, em qualquer análise fria e sensata, uma palhaçada. Não foi uma “traição”, não foi uma “provocação”, não foi um “ataque à torcida”, foi apenas mais uma atitude infantil de um jogador que, ao mesmo tempo que construiu uma linda história com a camisa rubro-negra, também construiu um histórico pessoal repleto de palhaçadinhas desse calibre.
Gabriel Barbosa é o cidadão que durante a pandemia foi preso debaixo de uma mesa de cassino, é o meninão que conseguiu ser punido no antidoping sem estar dopado apenas por ficar de palhaçadinha com os técnicos, então não é uma surpresa que na cabeça dele possa ter parecido absolutamente normal usar uma camisa de outro time que ele ganhou de alguém. Como já ficou claro quando ele rimou “pescoço” com “pescoço” em uma de suas canções, a mente de Lil Gabi é sim um lugar tumultuado.
Mas aí veio a reação da torcida, que 50% de saco cheio dos recentes problemas com Gabigol e 50% alimentada pela capacidade das redes sociais de transformar qualquer besteira em algo GRAVE, decidiu reagir à imagem de Gabriel com outra camisa como se fosse um vídeo dele, ao lado do espírito de Eurico Miranda, usando o corpo empalhado de Salvador Cabañas para agredir Zico pelas costas. As coisas escalaram, reações fugiram ao controle e a decisão de Gabriel de negar a veracidade da foto apenas para voltar atrás depois obviamente não ajudou.
E foi aí que entraram Landim e Cia, uma diretoria com um grave caso de síndrome de protagonista, absolutamente alérgica a ídolos, e que decidiu aplicar no atacante a famosa punição de Schrodinger, em que ele perde a camisa 10 no Brasileirão e na Copa do Brasil mas segue com ela na Libertadores, garantindo que Gabigol não seja mais o camisa 10 do Flamengo, mas siga sendo o camisa 10 do Flamengo.
Quem perde com isso? Em primeiro lugar, Gabriel Barbosa, que pode ter trocado a oportunidade de ser um nome histórico da maior torcida do Brasil pela chance de colecionar com mais liberdade camisas de outros clubes. Depois o Flamengo, que tende a dispensar prematuramente um jogador que, apesar da má fase, claramente ainda tem lenha pra queimar. E por fim a torcida, que apesar de todo o direito de reprovar a atitude infantil de Gabigol, teve uma reação um bocado desproporcional diante do quão realmente grave era a situação.
E o único vencedor, mais uma vez, foi Rodolfo Landim. O presidente que acredita que nada precisa ser feito quando o homem forte do futebol morde a virilha de um torcedor, mas cujo sangue ferve nas veias se um atleta veste outra camisa nas folgas, não apenas arrumou um ótimo álibi para se livrar de mais um ídolo como ainda fez isso com o apoio da torcida e posando de herói da nação.
Pra uma história tão bonita, com certeza o final que está sendo desenhado é sim um pouco melancólico demais.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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