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O Especial “Personagens do Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.

Se o amor declarado de Jorge Sampaoli é a bola, o Flamengo já ocupa há algum tempo um espaço no coração do argentino. O flerte entre clube e técnico levou mais de dez anos para se concretizar com desencontros de ambos os lados, mas enfim virou relacionamento em abril, quando o treinador foi anunciado como substituto de Vitor Pereira.

O Flamengo já havia pensado em trazer Sampaoli desde 2012, um ano depois de levar uma aula de futebol do técnico em pleno Engenhão pela Sul-Americana. Em 2015, o hoje presidente Rodolfo Landim fazia parte da chapa de Wallim Vasconcelos, que chegou a anunciar um acerto com o treinador – negado por Sampaoli – caso vencessem a eleição que acabaram perdendo.

Em 2020, o argentino recusou uma proposta do Palmeiras e aguardou o convite para substituir Jorge Jesus, que não veio após a renovação do treinador. Mas acabou comprando uma casa em Búzios e aguardando uma nova oportunidade, que enfim chegou.

O começo foi turbulento. Sampaoli começou confiando em jogadores com quem já tinha trabalhado mas que não deram retorno no Flamengo, casos de Arturo Vidal e Marinho. Não encontrou resultado nem gratidão: Marinho simulou uma lesão para não viajar para o Chile após ser barrado e acabou afastado e Vidal reclamou em público da reserva. Ambos perderam tanto espaço que acabaram dispensados antes do fim dos seus contratos e acertaram com Fortaleza e Athletico-PR, respectivamente.

Conhecido pela inventividade, Sampaoli tomou algumas decisões que deixam o torcedor desconfiado. A mais insólita veio num jogo contra o Bahia em que substituiu cinco atletas no intervalo da partida. O motivo seriam lesões, mas a maioria estava à disposição na rodada seguinte. As estatísticas mostram que nenhum outro técnico, antes ou depois, usou desta forma a regra de 5 substituições no Campeonato Brasileiro.

Constante trocas de escalação e esquema confundem

Sem papas na língua, o técnico cobrou mais “contundência” e “intensidade” dos seus jogadores em mais de uma oportunidade. O jeito sincero teria causado rusgas com os atletas. Mas o elenco nega desentendimentos.

Antes da Data Fifa, Sampaoli começou a engrenar no Flamengo. Aproveitando uma sequência de jogos no Maracanã, emendou uma sequência invicta de dez jogos. Conseguiu manter o Flamengo vivo na Copa do Brasil e na Libertadores e chegou ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. Ou seja, após um primeiro semestre sem conquistas, colocou o Flamengo em posição de brigar pelos três títulos ainda em disputa na segunda temporada, sonhando com uma inédita tríplice coroa.

Sampaoli observa o time do Flamengo contra o América Mineiro
Torcida espera que ele consiga reencontrar o sucesso dos tempos de Chile, aliando jogo bonito a resultados.
Foto: Divulgação / Flamengo

O jogo contra o Bragantino após uma semana só de treinamentos renovou as desconfianças sobre a capacidade de o treinador ter sucesso. O Flamengo não viu a cor da bola e sofreu mais de 30 finalizações, e perdeu por quatro gols. O desempenho fora de casa vinha sendo o calcanhar de Aquiles de Sampaoli. Mas começa a preocupar menos depois da vitória contra o Santos na Vila Belmiro, o empate contra o Palmeiras no Allianz Parque e a classificação contra o Athletico-PR na Arena da Baixada.

Outra peculiaridade do trabalho de Sampaoli é a falta de um esboço de time titular. Em cada partida, o técnico promove mudanças de esquema e escalação, como demonstrou o jogo contra o Palmeiras. O  laboratório pode se intensificar com a abertura da janela e a chegada dos “refuerzos” que o técnico argentino é conhecido por pedir desde os tempos de Santos.

Rossi, apesar de já ter sido contratado anteriormente e não ser o goleiro especialista em jogar com pé preferido de Sampaoli, deve ganhar ao menos uma oportunidade de provar que pode disputar a vaga com Matheus Cunha. Luís Araújo foi um jogador pessoalmente pedido pelo técnico dentro de sua ideia de usar mais as pontas para atacar. Allan também veio a pedido de Sampaoli. O técnico também espera que o clube contrate ao menos um meia, que pode ser Claudinho, De La Cruz, ou outro nome que não surgiu.

Quando chegou, Sampaoli prometeu que tinha que adaptar suas ideias ao elenco que tinha, e não ao contrário. Há dúvidas se de fato ele vem fazendo isso, e de qualquer jeito agora terá mais peças para tentar implementar sua própria receita de futebol.

A torcida espera que ele consiga reencontrar o sucesso dos tempos de Chile, aliando jogo bonito a resultados, e que não repita seu último trabalho, no Sevilla, onde saiu criticado pelo presidente do clube e viu seus comandados conquistarem um título europeu meses após deixá-los à beira da zona do rebaixamento.

Se tiver sucesso, pode enfim fazer a torcida começar a esquecer – ou ao menos pensar menos – em outro Jorge que a diretoria chegou a tentar trazer mais uma vez, mas que não quis interromper o trabalho na Turquia para voltar ao Brasil. Agora no Al Hilal, Jesus continuará sendo uma sombra se Sampaoli não conseguir transmitir aos jogadores seu “amor por el balón”.

Temos avanços e retrocessos. Quero ficar em um time muito grande, aqui, para criar um time invencível. Levará tempo, mas esse é o meu sonho

Jorge Sampaoli

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