Não existe nenhum mistério no porquê da torcida rubro-negra amar tanto assim Gabriel Barbosa. Em quatro temporadas no Flamengo ele venceu duas Libertadores, dois Brasileiros e uma Copa do Brasil, sem falar em Recopas, Supercopas e Cariocas diversos da vida. E ainda que essa coleção de troféus já garantisse a Gabigol um lugar mais do que cativo nos corações rubro-negros, não é só por isso que a nação ama o atacante revelado pelo Santos, que chegou ao Flamengo em 2019.
O rubro-negro ama Gabriel porque ele, como poucos jogadores na história do clube, entendeu o que é o Flamengo e como funciona a torcida rubro-negra. O flamenguista quer qualidade? Claro que quer, e Gabigol oferece com gols, passes e uma capacidade quase sobrenatural de decidir nos momentos mais importantes. Mas o flamenguista também quer raça, o que Gabigol garante com uma disposição que beira o transtorno psicológico, correndo insanamente pelo campo, disputando todas as bolas, querendo participar de todos os jogos, discutindo com todos os juízes.
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Mas além de entender o que o torcedor quer dentro do campo, Gabriel também entendeu o que mexe com o coração da massa vermelha e preta quando a bola para de rolar. Gabigol sabe fazer a comemoração que cativa as crianças. Sabe botar a banca que anima os adultos. E também tem a reverência pelos antigos ídolos que faz o torcedor mais velho simpatizar. Tudo isso gera uma sintonia quase mística com o inconsciente coletivo de uma massa de mais de 40 milhões de pessoas.
Gabigol, mais do que qualquer outro jogador do passado recente, parece ter aquela mistura de brilhantismo, raça e malandragem na proporção exata para o Flamengo. Um jogador criado alquimicamente para cair nas graças da nação, predestinado a vestir a camisa rubro-negra, fazer história com ela e ser amado por isso.
Quer dizer, não apenas amado, claro. Porque em sua passagem pelo Flamengo, Gabigol também vem se tornando um dos jogadores mais antipatizados (pra não dizer odiados) do futebol brasileiro. Seja por torcedores rivais, seja por apresentadores de mesa redonda, seja pelos famosos analistas esportivos de internet. Mas por que será que Gabriel Barbosa angaria tanta antipatia por aí?
A resposta mais simples seria a do chamado “antiflamenguismo”, a já tradicional aversão que jogadores que se destacam no Flamengo acabam causando em torcedores adversários. Ela gera absurdos que vão desde potencializar o racismo direcionado a Vinicius Junior até bizarrices como adultos dotados de cognição saudável argumentando que “Zico era só mídia”.
Mas ainda que seja totalmente natural a torcida contra um atleta que se destaca numa equipe de massa, ainda mais quando ela conquista títulos seguidos, é visível que a antipatia em relação a Gabriel não se estende, por exemplo, a jogadores como Arrascaeta, Bruno Henrique ou Éverton Ribeiro. Atletas que também atuam pelo Flamengo, também estão em evidência e também foram decisivos nos últimos anos. Cabem então algumas teorias sobre o que dá a Gabigol essa capacidade especial de irritar torcedores de outras equipes.
Primeiro existe o fato de que Gabriel aparenta ser indesculpavemente flamenguista. Num mundo em que atletas chegam num clube já pensando no próximo e atuam de maneira diplomática para não fechar portas, Gabigol se comporta como se não existisse nenhum time além do Flamengo e nenhuma torcida além da rubro-negra. Não mede palavras e não se preocupa com o que os outros vão pensar, ressuscitando uma postura comum aos atacantes dos anos 80 e 90, mas rara nos goleadores de hoje em dia.
Existe também o fato de que Gabriel personifica tudo que qualquer torcedor adversário mais odeia no Flamengo. Seja um Flamengo vencedor, cuja fase ele ajudou a trazer – naturalmente ninguém gosta de ver um adversário em boa fase – seja a famigerada “soberba rubro-negra”, a cada exaltação que Gabigol faz da torcida, da história, das conquistas do Flamengo. Ele num trio dizendo que não precisa da Seleção Brasileira porque já joga numa seleção chamada Flamengo? Pra nós é uma declaração de amor, mas pra eles, até compreensivelmente, acaba parecendo soberba, demagogia ou até uma soma dos dois.
E por fim, tem o fato de que Gabigol transmite sempre a estranha sensação de que com ele tudo é pessoal. Alguns atacantes marcam gols como um dentista extrai dentes ou como um contador fecha auditorias, com a frieza e profissionalismo de quem realiza seu ofício. Gabigol, por outro lado, balança as redes com o olhar desrespeitoso do cara que está chegando na sua mina numa festa. Ele comemora com o nível de provocação do filho da mãe que entra no estacionamento lotado e rouba a sua vaga depois que você já rodou durante 40 minutos. Gabriel não quer apenas fazer o gol, ele quer que você saiba o quão feliz ele está de ter feito um gol em você.
Somando a isso o fato de Gabriel Barbosa ser jovem, rico, e admitidamente já ter tomado uma ou outra atitude questionável. Como esquecer da peculiar noite em que nosso craque foi encontrado debaixo da mesa num cassino clandestino? Tudo isso faz dele um alvo mais do que fácil para a antipatia de muita gente, que pode ler o atacante rubro-negro como mimado, complicado ou superestimado.
Mas a verdade é que, na prática, nada disso importa. Não apenas porque Gabriel Barbosa parece se alimentar da hostilidade dos torcedores adversários, mas também porque o mais carioca de todos os cantores de trap nascidos em São Bernardo do Campo tem uma nação do lado dele. E quando você tem 40 milhões de pessoas te defendendo, é realmente complicado se preocupar com quem te ataca.
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