O Flamengo vive um 2024 de altos e baixos um tanto quanto imprevisíveis. Grandes partidas contra adversários muito fortes são seguidas de jogos medíocres contra adversários tecnicamente inferiores, longos períodos sem sofrer gols são seguidos por um festival de falhas defensivas, jogadores que vinham sendo convocados para a seleção começam a não merecer nem mesmo a convocação para o serviço militar obrigatório.
Certeza? Apenas que alguém vai se machucar e Tite vai falar que não vê só o resultado, vê “o ser humano”.
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Então quando Everaldo, aos 5 minutos do primeiro tempo, quase abriu o placar para o Bahia na noite de ontem, pelo jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil, era compreensível que o torcedor se preparasse para o pior.
Veríamos mais uma vez um Flamengo sem sangue sendo acuado pelos adversários? As falhas defensivas novamente se empilhariam em pleno Maracanã? Iria o “titismo” dar mais um passo para finalmente entrar na tabela CID como uma doença?
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Mas absolutamente nada disso aconteceu. O Bahia não teve mais oportunidades claras, praticamente não criou no campo ofensivo, e o que se viu foi um Flamengo que, ainda que a anos luz de apresentar um futebol exuberante ou encantador, se mostrou plenamente capaz de fazer o que era preciso para conquistar a classificação.
Uma postura que passou, é claro, pela entrada no time do jovem Evertton Araújo, que não apenas fez uma partida extremamente competente, com boa marcação e intenso vigor físico, como exibiu outra grande virtude, que é a de não ser o atleta Allan.
Sim, porque além da qualidade do jovem da base, que mesmo entrando na fogueira teve grande atuação, não se pode subestimar o impacto positivo da simples ausência de Allan em campo, já que um mero olhar na direção do volante consegue reduzir a disposição e a confiança dos colegas de equipe, mais ou menos como você se sentiria se estivesse num rally e seu co-piloto fosse um jacaré de chapéu ou fosse realizar uma cirurgia e quem te passasse os instrumentos fosse uma batata com bracinhos de palito de fósforo.
Somando a isso o retorno de Arrascaeta, que mesmo visivelmente sem ritmo ainda foi decisivo, mais uma grande partida de Gérson e Léo Ortiz, e um coletivo onde todos, com a exceção do visivelmente avariado Ayrton Lucas, conseguiram fazer muito bem a sua parte – até mesmo Wesley, o lateral que precisa receber aviso de gatilho quando vê a bola – e você tem um Flamengo que, se não chega a animar, mostrou a qualidade necessária para vencer com muita autoridade.
Mas ainda temos muitos problemas, é claro. É perceptível que o time ainda está se adaptando à ausência de Pedro, com dificuldades para atuar sem uma referência de ataque e diversos momentos em que a opção do cruzamento se apresenta, mas ninguém é visto na área pra cabecear. Bruno Henrique está tentando seu melhor mas não é essa sua especialidade, Gabigol mais uma vez entrou só no final e numa posição que nem ele mesmo parece compreender e Carlinhos não pode atuar na Copa do Brasil, então temos aí um problema que Tite provavelmente vai precisar de algumas ideias e muitos treinos para resolver.
Que venha agora o Vasco no fim de semana e que o Flamengo, que parece ter finalmente resolvido seus problemas defensivos, possa encontrar soluções para o seu ataque, se possível mantendo o volante Allan fora do campo. Como ficou claro ontem, é uma pequena mudança, mas que faz uma grande diferença.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.