Quando me pego pensando sobre minha memória mais antiga, eu lembro do Flamengo. Mesmo com imagens turvas de fatos mais contados do que realmente lembrados, como o que minha vozinha contava sobre a primeira vez que fui ao Maracanã. Reza a lenda que meu avô, uma das maiores paixões da minha vida, me levou ao então maior de todos, vestida de tricolor da cabeça aos pés para torcer pelo seu Fluminense.
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Porém, vô Totoca não previu que eu me apaixonasse naquele dia, mesmo que inconsciente, por aquela arquibancada bem a minha frente, do lado norte do estádio, toda vermelho e preto.
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E foi ali. Ali que eu decidi, mesmo que ainda não soubesse, que meu amor estava consagrado. Ali eu decidi que independente de ideologia política, eu sempre estaria ao lado de quem fizesse o bem para o Flamengo. Aprendi que comemoraria até título de botão se fosse Rubro-Negro e aprendi também que mesmo que os títulos não viessem, eu não me calaria e meu amor só cresceria, por que seria nesse momento que meu amor precisaria de mim.
Foi dolorido ver o Flamengo perdido em campo, está sendo dolorido, ver um time cheio de potencial e perdido em si mesmo. Nunca a expressão “perdeu para si mesmo” fez tanto sentido.
Já na escalação, com o improvisos e verdades absolutas de Sampaoli, já dava pra sentir que teríamos dificuldade. Mas nenhum Rubro-Negro está preparado pra ver o time tão frágil como está agora. Os jogadores tem, ÓBVIO, sua parcela de responsabilidade nessa história, mas o “tombo vem de cima”. É quem contrata, é quem escala, é quem acha que jogador mediano tem competência para vestir o Manto Sagrado.
Pessoalmente, nunca quis esse técnico, nunca quis diversos jogadores que estão “defendendo” nossas cores, mas eles estão lá. É duro ver Cebolinha e sua sucessão de equívocos jogo após jogo. Colocar Thiago Maia caindo pela lateral, conforme foi dito, deveria ser proibido em 24 países. Everton Ribeiro eu não falo mais e até Gabi, que é ídolo, anda numa fase lamentável, mas o time todo está, né?
E outra, em nenhum lugar do mundo, o que aconteceu ontem em campo foi pra cartão vermelho direto, mas isso é a nossa arbitragem. Foram três a zero e poderia ter sido mais. Está tudo muito errado e estoura dentro do campo.
A torcida do Flamengo não pode esquecer o que importa
Hoje em dia, na época da lacração e dos numerosos seguidores, eu vejo campanhas e hastags, vejo grito, ofensas e muita revolta. Flamenguista brigando com flamenguista, aparentemente por causa do Flamengo, mas verdadeiramente por si mesmo. Eu me enojo.
Não é um jogador pretensamente ruim, um dirigente que fale bobagem, uma temporada mal sucedida que eu deixarei que me calem. Sei muito bem que o time passa por um momento de “vai ou racha” e sei mais ainda que precisa da torcida pra passar bem por isso.
Uma vez, Renato Gaúcho conseguiu definir isso muito bem: a Nação Rubro-Negra consegue fazer o milagre de transformar o medíocre em bom e o bom em fantástico. Tudo só acaba quando o juiz apita nos 90 minutos, nada está perdido pra quem tem fé no Manto. Eu sempre acredito. Acreditei com Val, com Walter Minhoca. Gabriel e Bruno Henrique é o cúmulo do luxo.
Não podemos esquecer do que importa, não podemos nos esquecer da magia, temos que fazer a mágica acontecer. “Mesmo que o Manto desbote e a bola não entre”. O Flamengo, é ele que importa.
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E cada vez que eu entro no Maracanã, eu sinto esse sentimento renovado. O fato de estar lá, de fazer parte daquele mundo vermelho e preto, as músicas, os gostos, as sensações: amor, raiva, êxtase, meus amigos, revolta, amor de novo, felicidade ou tristeza, tudo faz parte. A delicia de ser Flamengo é saber que somos melhores sempre, independente de qualquer resultado.
Só quero agradecer eternamente a minha vó Carlina que ouvia jogo no rádio, gritando, xingando, brigando com o técnico “alá, o Flamengo perdendo e esse burro não faz nada e outro tá colocando um fresquinho”, me ensinou a essência maior do rubro-negrismo. Eu aprendi e me orgulho disso.
Temos uma decisão daqui a três dias e estaremos lá.
ISSO AQUI É FLAMENGO, PORRA!!!
Em tempo: Jamais, em tempo algum, eu darei as costas ao Flamengo por qualquer jogador. Eles vão e o Flamengo fica.
Renata Graciano é jornalista, apaixonada pelo Flamengo, por futebol e que morre de saudade das chuteiras pretas. Siga Renata Graciano no Twitter.
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