Desde o ano 33, um beijo não criava tanta indignação quanto o do último domingo (17). Se o dia 3 de Março é comemorado como a vinda do messias rubro-negro, após o dia 16 de Setembro, uma nova figura bíblica foi critada no lore flamenguista: O Judas.
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Creio que no dia de hoje todos já tenham debatido e se indignado por tempo mais que suficiente com o beijo enviado pelo atacante ao técnico adversário. “Desrespeito!” exclamam alguns. “Retrato da falta de comando” dizem bons e maus jornalisas. Todos esses estão certos e errados ao mesmo tempo.
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Nós conhecemos Gabigol. E Gabigol nos conhece como poucos. Sempre foi dito que Gabriel sabe ser Flamengo. O comportamento que desestabiliza adversários é uma marca indissociável do centro avante e o deboche é uma das principais armas para isso.
Acontece após esse episódio, torcedores assumiram que foi um deboche para com o Flamengo e/ou torcedores, o que não é o caso. Embora eu ache até razoável que ele esteja na bronca com uma torcida que fez questão de ir na frente do aniversário do atleta para arrumar confusão, não foi isso que motivou o ato do camisa 10.
Toda a equipe do Flamengo viu seu ano sendo arruinado pela diretoria. Evidentemente não há qualquer necessidade de relembrar cada uma das decisões erradas que os cartolas tomaram. Depois que o Flamengo perdeu tudo que podia, criaram uma narrativa colocando a torcida contra os jogadores. Desse modo, ninguém mais teve paz e “vagabundo” foi o mais leve que atribuiram aos atletas.
Apesar de muitos torcedores não acreditarem, os jogadores não gostam de perder. O péssimo clima no Ninho do Urubu é decorrente da gestão do inpeto que comanda a equipe mas também de um elenco vencedor que Marcos Braz e Rodolfo Landim transformaram em piada continental.
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E para completar, Gabigol ainda foi obrigado a ouvir o arquiteto dessa tragédia debochar dele diante de todos, com argumentos que parecem ter saído de um twitter de torcedor adversário, conforme noticiado.
E é nesse contexto no qual os jogadores sabem que estão sofrendo pela incompetência alheia, que o beijo a Dorival se encontra. Acredito que, a essa altura, não existam mais tantos defensores da narrativa Landizista de que “O Dorival Bateu no teto porque perdeu para o Avaí“, certo? Portanto, vou assumir que temos relativo consenso de que sua demissão foi um equívoco.
Ao mandar um beijo a Dorival, Gabigol mandou o meu beijo. Ao demonstrar carinho pelo antigo comandante, ao contrário do que acontece com o atual, Gabigol mais uma vez foi a representação do torcedor.
É um desrespeito? De certa forma sim, mas não ao clube e aos torcedores, mas aos responsáveis pela carnificina que se toronou 2023: Landim, Braz, Vitor Pereira e Jorge Sampoli. E esse tem que desrespeitar mesmo.
Por outro lado, é falta de comando ? Definitivamente sim! Mas a falta de comando não é o fato de aquilo não ser coibido e sim de aquilo se tornar necessário. Gabriel foi mais uma vez o torcedor reagindo a ofensas, só que dessa vez ofensas internas.
É possível que esse texto, junto com alguns outros que escrevi em defesa de Gabriel e dos jogadores me rendam a pecha de “defensor de jogador”. E eu não tenho medo do rótulo, pelo contrário, o assumo.
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O problema, para mim, está naqueles que no afã de ser “contra todo mundo”, igualam todos na mesma sujeira. Aqueles que fazem com que os holofores se divida igualmente entre o treinador incompetente e encrenqueiro, o cartola imbecil e arrogante e os ídolos históricos e decisivos.
Por fim, deixo meu beijo a Gabigol. Um beijo por cada um dos 157 gols marcados. Um beijo para cada troféu erguido. E agora, um beijo por mais uma vez representar o sentimento do torcedor: carinho e saudade por Dorival. Embora nem os torcedores tenham entendido e erradamente condenado-o, ajudando a esconder quem verdadeiramentr deve ser pressionado.
Renato Veltri é advogado, formado pela UFRJ em 2019 e flamenguista formado por sua irmã, Vanessa, na final da Copa do Brasil de 2006. Twitter: @veltri_renato.
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