A atual Diretoria do Flamengo teve como seu primeiro ato de gestão contratar Abel Braga. É o pior início de trabalho que se pode imaginar. Um técnico com ideias ultrapassadas e que nitidamente não tinha condições de ser técnico daquele elenco. Demorou pouco a fim de que a torcida – com razão começasse a chiar.
Para não ter um “time de índio”, Abel não admitia abrir mão de um jogador mais defensivo para colocar Arrascaeta em campo. Segundo ele, o uruguaio jogava na mesma posição que Bruno Henrique. Como o atacante tinha velocidade que o meia não tinha, era o titular. Um desperdício de material humano.
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Nos livramos de Abel e Jesus chegou. Pro desespero dos técnicos brasileiros enciumados e desesperados para manter a reserva de mercado que os permitia pular de time em time fazendo trabalhos medíocres até acertar em um, o ‘véio’ teve um sucesso enorme. Aí foi a vez desses técnicos chiarem “eles têm privilégios!”, “se a gente fizer, todo mundo cai em cima da gente, mas os estrangeiros podem”.
Passamos na mão de Domenec, o único homem que conseguiu não aprender nada de útil com Guardiola e chegamos a Rogério Ceni. O ex- goleiro, de forma arrojada puxou um volante pra zaga (como costuma fazer o mentor de seu antecessor), meteu um meio campo com 4 camisas 10 e o Flamengo foi campeão brasileiro.
Após sua queda e a entrada de Renato, tivemos o inepto Paulo Sousa que contou com mais leniência do que os anteriores antes que perdessem a paciência com aquele futebol horroroso. Sua saída nos trouxe Dorival Júnior, bicampeão, encaixando Pedro, Gabigol, Arrascaeta e Everton Ribeiro.
Pedro, finalmente mostrou a que veio. Gabigol… é o Gabigol. Arrascaeta um pouco abaixo mas sempre fazendo diferença. E Everton Ribeiro, disparadamente o melhor jogador dos títulos. Era a essência do futebol do Flamengo. Trabalhando a bola, procurando espaços, apostando na qualidade dos jogadores com a bola no pé.
E então a mesma Diretoria responsável por Abel Braga nos presenteia com Vitor Pereira. Após criar vexames no início da temporada, tem a brilhante ideia: “vou tirar um dos meias e colocar um ponta!”. Mas como ninguém pensou nisso antes?!!!? Talvez, deixar de ter um jogador para trabalhar a bola e apostar em alguém aberto de velocidade possa ser o que falta ao Flamengo.
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Aquele Arrascaeta que não podia jogar porque não tinha a velocidade do Bruno Henrique, agora não poderá jogar porque não tem a velocidade do Cebolinha. O grande espanto é com a passividade de parte da torcida quanto a isso. Mais ainda, há quem dê razão! O clube que tem o privilégio de ter o meio campo que melhor trabalha bola no Brasil, vai abrir mão disso pra apostar em correria desenfreada. Como fez… Abel Braga
E uma parte substancial da torcida defende com unhas e dentes tal medida. Os argumentos? Costumam ser: “O time é lento”, “não funciona bem sem a bola”. Como se não tivéssemos acabado de vencer 2 dos 3 títulos importantes do país ano passado com esse time. Mas o português Vitor Pereira conta com salvo conduto deles. Não importa se trabalha para regredir o estilo de futebol do Flamengo àquilo que ele além de eficiente é belo. Se fala “ora pois”, tem que dar tempo.
O português ameaça tirar do nosso time aquilo que temos de especial, de único, nosso ouro. E uma massa gigantesca de nativos, encantados com tecidos, espelhos e mais alguns cacarecos abrem alas para que ele possa devastar a beleza da nossa mata nativa do meio campo pra colocar um fazedor de fumaça no lugar.
E nada disso seria tolerado caso o executor não fosse um gringo. Infelizmente Abel Braga e sua claque tinham razão parcial sobre parte da torcida. Não se trata de procurar qualidade, se trata de querer grife, de encher a boca para falar que tem um português no banco e como tal tem carta branca pra fazer a atrocidade que quiser.
Renato Veltri é advogado, formado pela UFRJ em 2019 e flamenguista formado por sua irmã, Vanessa, na final da Copa do Brasil de 2006. Twitter: @veltri_renato.
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