Aposta alta. Risco de perder Paquetá e Dourado, pendurados, em prol de um primeiro lugar e poder decidir o segundo jogo das oitavas de final em casa. Ousadia, coragem de entrar no Monumental com formação ofensiva, querendo a vitória acima de tudo…pena que só até a página 2. Time burocrático em mais uma partida sofrível (algo comum ao longo desse semestre). Objetivo de líder do grupo não alcançado e Paquetá fora do primeiro jogo. Cenário longe do ideal, o que mostra que ser corajoso no papel, mas acomodado em campo (e fora dele), está distante da receita de sucesso no Futebol.
Sem mais delongas, Flamengo vem à campo com Jean Lucas no lugar de Diego (suspenso) e com alterações no posicionamento em campo. Vinha sendo trabalhado o 4-3-3/4-2-3-1 nos últimos jogos, com Everton Ribeiro tendo liberdade para recuar e iniciar a criação de jogadas pelo meio, Paquetá se infiltrar como elemento surpresa nas linhas inimigas e Diego posicionado como meia-atacante, ponta-de-lança. No jogo de hoje, com a presença do camisa 18, time volta a se portar em um 4-1-4-1, deveras engessado, com jogadores fixos e poucas movimentações que ludibriassem os argentinos. Se nos jogos anteriores Vinicius Jr. tinha certa liberdade na marcação, com obrigações de puxar contra-ataque, nesse tinha a obrigação de fechar o corredor e evitar a dobradinha de Fernandez e Montiel contra Renê, o que não é seu forte.
Na imagem, a variação no mapa de calor de E. Ribeiro nos ultimos 5 jogos no 4-3-3/4-2-3-1 e o jogo contra o River Plate com o time jogando no 4-1-4-1: pouca participação e deslocamento para outros setores do ataque (Fonte: SofaScore).River veio a campo em um 4-4-2 de intensa movimentação e troca de passes, usufruindo da capacidade técnica de seus dois atacantes (total inversão ao estilo de jogo de Dourado). Jogo de intensa trocação nos primeiros 10 minutos, com chances claras de abrir o placar em falhas defensivas dos dois lados (uma com Scocco e duas com chutes de fora-da-área de Ribeiro). Flamengo triangula, evita bolas alçadas e cruzamentos às cegas à área, mas mostra a mesma vocação a perder oportunidades de sempre. Intensa movimentação e técnica de Vinicius Jr. obriga Fernandez a praticar anti-jogo ainda no primeiro quarto da partida e primeiro cartão amarelo do jogo é dado. Os primeiro 25 minutos de muitos erros de passe.
Nesse ponto, faz-se necessário mencionar a ausência do camisa 10. Com Jean Lucas, a equipe ganha em fisicalidade e mobilidade entre setores, seja na infiltração ou na cobertura e retomada da posse de bola. Garoto de grande personalidade, segurou as pontas da marcação em péssima partida no quesito defensivo dos outros meias, além de ter sido ao lado de Cuéllar e Ribeiro, porto seguro na transição ofensiva do ataque rubro-negro e saída de bola (aproveitamento em passes de 82% do garoto, 83% do camisa 7 e 96% do colombiano). Contudo, nele não há a característica de ditar o ritmo de jogo e coordenar as ações ofensivas da equipe. Ribeiro poderia fazê-lo, mas por estar isolado na ponta, pouco conseguiria contribuir para a organização dos outros setores, a não ser com inversões e lançamentos, tendo êxito em 4 das 5 bolas longas tentadas. Tal dever recaiu sobre Paquetá, que estava em péssima noite tática e técnica.
É notória a queda de rendimento do jovem Camisa 11, que culminou em sua pior partida em um histórico recente. Teve fracos 61% de aproveitamento em passes, perdeu 4 vezes a posse da bola, foi superior em apenas 6 de 19 duelos contra marcadores, sofreu 1 falta e cometeu outras 7. Sempre o toque na bola a mais, sempre o drible a mais em zonas perigosas, gerando contra-ataques (em um destes, combateu displicentemente a posse e sofreu o 3° cartão amarelo, ficando de fora do primeiro jogo das Oitavas). Péssima partida, tanto no aspecto individual quanto no coletivo. Necessita de orientação, seja por jogadores mais experientes ou pela comissão técnica.
Diego, ainda que com excessos atrase o andamento da transição ofensiva em geral (e cause intensa irritação), é o principal responsável pela manutenção da posse de bola para o Rubro-negro. Esconde a bola, a protege, escolhe passes seguros, retira a velocidade do jogo (que nesse jogo era importante e crucial) e equilibra os setores. Ausência sentida nesta sexta rodada da Fase de Grupos da Libertadores da América 2018.
Nesse panorama, 1° tempo transcorreu com River controlando o tempo de jogo nas inversões e lançamentos de Fernandez e Ponzio, buscando sempre o setor abandonado por Vinicius Jr, que fez com que Cuéllar continuamente se deslocasse como apoio à Renê, além de ser perigoso em bolas paradas, com algumas marcações questionáveis do arbitro em contatos e disputas de bolas entre jogadores, mas pouca triangulação no último quarto de campo. Vale citar Diego Alves, excelente goleiro embaixo das traves e que tem até bom aproveitamento em lançamentos com a bola rolando, possui certa insegurança ao sair na bola aérea, o que eleva o drama de cada jogada e o risco à defesa rubro-negra.
No 2° tempo, mudança nítida de postura. De um time que permitiu trocação franca, com marcação alta intensa para retomar a bola através de Jean Lucas e Paquetá, permitindo em certos momentos até espaço para o River trabalhar a bola com liberdade – nas vezes em que conseguiu executar a saída de bola por baixo em boas trocas de passes dos volantes e meias – na zona central, recuou na segunda etapa e meio que “sentou sobre o resultado”. Ora, se tal postura foi feita racionalmente, para que arriscar colocando Paquetá no 1° Tempo, sabendo que vem nos últimos jogos cometendo infrações e discutindo com a arbitragem? Porque não o colocar no 2° Tempo ou com o placar adverso, para dar mais qualidade ao meio? Porque não entrar com Trauco pelo meio na vaga de Paquetá que não estava bem, e fechar o time em um 4-4-2, retirando as obrigações defensivas de Vinicius Jr e permitindo que estivesse em campo só para o contra-ataque? Tal substituição renderia a possibilidade de tirar Renê e colocar Lincoln, puxando Trauco para a lateral e jogar com 2 centroavantes no resto do jogo. Ou mesmo colocar Jonas retirando Jean Lucas e fechando o time caso quisesse manter o resultado. Para que continuar fazendo substituições óbvias, pragmáticas nos últimos instantes da partida, e as mesmas que foram executadas nos últimos jogos?
River: 37’ 2°T (Henrique Dourado/Lincoln)(Jean Lucas/Jonas) 42’ 2°T (Vinicius Jr/Marlos)
Emelec: 0’ 2°T (Juan/Léo Duarte36’(HD/Marlos) ) 41’ 2°T (Diego/Jonas)
Santa fé: 26’ 2°T (HD/ Geuvânio) 37’ 2°T ( Vjr/Marlos) 44’ 2°T (Diego/Jonas)
Jogo continuou com certo equilíbrio, mas com muitos erros de passe pelo Flamengo no último quarto do campo e com constante lançamentos errados do River Plate, na eterna busca pelas costas dos laterais. Dourado continua sua saga em canelar todas as bolas que a ele chegam. Deve ser um recorde. Pouco agrega ao time, ainda que com lapsos do que deveria ser durante todo os 90 minutos, em caneta no meio-campo após reter a bola para aproximação dos pontas, e ao cortar o marcador o deixando no chão, mas errando a finalização por cima do gol. Falta muito a ele ser a referência que o time precisa. Ou se modifica o esquema e estilo de jogo para se adequar ao atacante, ou o substitui por Lincoln ou deixa de jogar com um “9 de referência”. Propor um jogo de triangulações e aproximações com ele em campo não vai funcionar.
Ao fim do jogo, lambança de Diego Alves quase gera gol da vitória dos donos da casa, e, em mais uma saída equivocada, a bola explode no travessão rubro-negro. Que vale exaltar nesse jogo mais defensivo, o qual a equipe não é acostumada a praticar há alguns anos, teve partida muito segura da dupla de zagueiros e de certa parte de seus laterais, que ainda que errassem muito na saída de bola, bolas longas e cruzamentos, interceptaram bastante e contribuíram para manter o placar zerado. As substituições tardias e burocráticas apresentaram-se irrelevantes para alteração do panorama da partida até aqui.
Mais uma partida fraca tecnicamente e com nervosismo no pico. Mais uma partida onde o time cede fisicamente e é encaixotado sem ter forças para cobrir o espaço de campo necessário ou escolher as melhores decisões nas tomadas ofensivas. Equívocos, manutenção de erros e escolhas questionáveis, com planejamento fraco que arrisca comprometer o resto da temporada. Enfim, chegou às oitavas de final. Provavelmente, um cascudo e perigoso oponente pela frente. Soluções precisam ser encontradas para sanar as ausências que elenco, comissão técnica e diretoria possuem. Todos os times largam ao mesmo tempo, mas só o mais competente terá a taça em sua galeria. Primeiro dever realizado (ainda que longe do ideal), mas nada conquistado.
Imagem destacada nos posts e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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Matheus Miranda analisa os jogos do Mengão no MRN. Siga-o no Twitter: @Nicenerd04
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