O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, defendeu a conselheiros que o clube “continue olhando a oportunidade” de se transformar em SAF e vinculou o projeto à busca por um estádio próprio. “Se a gente vender 30% do Flamengo, a gente constrói nosso estádio de graça”, afirmou.
O MRN teve acesso a uma gravação dos cerca de 10 minutos de fala de Landim a membros do Conselho Deliberativo do Flamengo após a palestra do senador Carlos Portinho (PL-RJ), relator da lei da SAF. A qualidade da gravação não permite uma transcrição na íntegra, mas é possível reproduzir a maior parte da fala de Landim. Leia abaixo os principais trechos:
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Novas ameaças ao poderio do Flamengo
“A gente vai ver que os clubes que conseguiram se ombrear ao Flamengo, o Palmeiras e o Atlético-MG, são clubes que tiveram uma situação completamente diferente da nossa. Foram ajudados por mecenas, ou pessoas que estão querendo na verdade no futuro transformar dívida em equity e passarem a ser donos do clube. Já que esses clubes estão ficando com níveis de endividamento totalmente diferente do nosso.
Onde é que estão os nossos grandes concorrentes nestes últimos anos? São aqueles que tiveram ingresso de recursos de uma forma completamente distinta da nossa. Nós geramos nossos recursos através do nosso processo de gestão interno dentro do clube. Então o que significa a SAF para nós, vamos ser francos.
A SAF para nós, pelo menos para mim, é uma maneira que outros clubes possam vir a competir conosco, só que de uma forma diferente. Vai aumentar a competitividade no futebol através do ingresso de recursos de terceiros mais interessados em comprar participações em outros clubes. Isso vai ser comum.
Para o futebol todo, isso é positivo. O produto futebol brasileiro vai melhorar. Nós teremos mais recursos nos diversos clubes brasileiros e com isso os jogos serão mais competitivos, teremos melhores atletas, mais bem pagos, afinal, o futebol é cada vez mais um mercado mundial.
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Para nós, isso veio a ser uma ameaça. Porque são recursos que passam a vir de grandes fundos de investimento e são aportados em clubes que vão poder competir conosco. Não são apenas os mecenas que vão aparecer, são grupos investindo muito dinheiro e que queiram competir com o Flamengo.”
A gente pensava o seguinte: ‘tem dois malucos botando dinheiro no Atlético-MG e no Palmeiras, mas quando acabar a grana deles, eles ficarem aborrecidos a gente continua no nosso outro patamar e a nossa competitividade continua muito maior que a dos caras’. Não sei, o mundo tá mudando, tem outros aportes.”
Quanto vale o Flamengo
“Onde existe ameaça, existe oportunidade. Como o senador bem colocou, falou da gente fazer uma SAF do futebol, que as pessoas possam fazer um fundo, sei lá, de torcedores do Flamengo, para que tenham 5% ou 10%, quanto for. As receitas do Flamengo vão crescer.
Eu acredito na SAF, mas eu acredito também na Liga, eu acho que o Flamengo vai continuar crescendo com suas receitas de marketing, então eu acho que um múltiplo de 10 é um múltiplo que o mercado dá para um negócio mais ou menos estável. Nosso negócio não é estável, a gente está crescendo, o futebol está crescendo. O Flamengo pode valer US$ 1 bilhão, valer hoje R$ 5 bilhões.
Assunto deve seguir em pauta
“[É preciso achar um modelo] No qual esses sócios aqui continuem tendo controle, mas que deem segurança a um investidor que em longo prazo possa investir no Flamengo. Em todos os modelos que a gente viu, o controle passa para mãos de terceiros.
Mas se a gente conseguir manter o controle nosso, com um investidor minoritário, claro que a gente vai ter que melhorar a nossa governança de forma a garantir que quem estiver aportando recursos no Flamengo saiba que ele vai ser bem gerido. Se a gente vender 30% do Flamengo, a gente consegue R$ 1,5 bilhão. A gente constrói nosso estádio próprio de graça, tendo 70% das ações do Flamengo, o controle do Flamengo.
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Tem ameaça, tem. Tem ameaça e ameaça séria. Para mim isso não é uma ameaça pequena, tem milhares de fundo cheios de dinheiro investindo em clubes e melhorando o nível e a capacidade de investimento dos clubes. Mas também tem oportunidade. Tem oportunidade de negócios e a gente deve levar em consideração. Estou muito feliz que a gente está tendo esta conversa.
O Flamengo não precisa perder o controle. A gente não precisa deixar de sermos nós os controladores do Flamengo. Mas pode existir uma oportunidade para que a gente continue mantendo o controle do Flamengo aqui e capte recursos através dessa lei das SAF e possa atingir projetos estratégicos que são interessantes para o futuro do clube. A gente deve manter isso em mente e continuar olhando essa oportunidade”.