#ÉPICO4X5
Geraldo Farias | Twitter @GeraldoBF
Foto Flamengo
Quando acordei naquela quarta-feira de 2011, confesso que não sabia o que estava por vir. Não sabia que seria um dia histórico. Mas como reconhecer um dia histórico? Só existe uma maneira: vivendo tudo aquilo. O dia estava comum até o início da noite. Depois de um dia de trabalho, tinha um treinamento na parte da noite. Ao chegar no treinamento, mandou logo a letra: “Sem intervalo hoje hein, chefe. Hoje tem Mengão”. Muitos não entendem de onde eu esbanjo tanta confiança. Jogo na Vila. Jogo chato. Santos recém-campeão da Libertadores. Ronaldinho ainda não tinha mostrado a que veio. Neymar comendo e bebendo a bola. Mas somos assim mesmo, né? Até que nos provem o contrário, confiantes ao extremo.
A minha “rixa” com Neymar já vinha dessa data. Não sei se é por causa dos penteados extravagantes ou pelas chuteiras coloridas. Ou simplesmente por ele não estar do nosso lado. Não sei, mas já implicava com ele desde esse tempo. E não, hereges. Neymar nunca “pegou” namorada minha. Até mesmo por que eu ficaria muito feliz se isso fosse verdade, pois seria sinal que eu tava pegando bem. Vamos pro jogo. Ou pro pré-jogo. Já havia falado pra alguns neymarzetes. “Ele vai jogar nada hoje. R10 vai intimidar ele. Quando foi que jogou bem contra a gente?”. Ah, o futebol…
Vai chegando a hora. Naquela época, sustentávamos uma invencibilidade no campeonato. Lembro bem. Acaba o treinamento às 21hrs horário baré, em ponto. Horário que começa o jogo. Chego no carro com “mais de mil”, ligo o rádio e não dá nem tempo de eu identificar a escalação. Gol do Santos. Borges. Putz, balde de água fria. Mas “vamos virar”. Vou dirigindo pra casa. Pensei em parar em algum lugar e assistir o primeiro tempo. Mas a cerveja já estava no congelador à minha espera. Chego em casa, abrindo o portão e sai o 2º gol do Santos. Complicou, né? Pego uma cerveja, entro no quarto e aquele que não jogaria nada, faz aquilo. Foi um misto de raiva e admiração. Foi um golaço. Nem lembro, mas acho que nesse meio tempo, Deivid perdeu um gol à la Deivid.
Nessa época, eu dividia uma casa com mais 2 pessoas. Um deles era são-paulino. Ao ver o 3º gol do Santos, ele vem e me fala: “Vamos apostar 3 caixinhas?”. Eu nem titubeei: “Se for pra apostar, que valha a pena. 5 caixinhas ou nada”. “Fechado!”. E ali foi selado o acordo. E a magia começa a acontecer. Gol de R10. Gol de Thiago Neves. Gol de Deivid. Nessa hora, eu grito alto “Quer subir pra 10 caixinhas?”. Silêncio na casa. Mas nem eu mesmo acreditava no que estava vendo. Zico castiga a quem do Flamengo duvida. Acho que foi um castigo pros rubro-negros de pouca fé que desligaram a TV após o 3 x 0.
A adrenalina tava alta. Acho que tomei 3 latinhas em cinco minutos. Trouxe mais umas cinco pra geleira perto da TV. Não queria perder mais nem um minuto daquele jogo. No intervalo, a enxurrada de mensagens no celular. Os rubro-negros não acreditavam. Alguns foram acordados, confesso. Os neymarzetes me xingando. Mas mal sabíamos o que nos esperaria no 2º tempo.
E logo em seguida, Neymar, de novo. Mas aí os deuses do futebol reservaram o melhor pro final. E naquele 4º gol nosso, 2º dele no jogo, ele fez faltar as palavras em mim pela 3ª vez na vida. Sou fã do R10 e desejo tudo o de melhor pra ele. Se a carreira dele no Flamengo não foi como eu queria, paciência. Mas isso é assunto pra outro post. Tal qual ele fez pela Seleção contra a Venezuela e pelo Barça contra o Real em pleno Bernabeu, R10 me deixou sem palavras. Eu não sabia se comemorava, gritava gol ou simplesmente admirava. Aquela cobrança de falta foi mágica. Ninguém esperava. Só ele, o gênio, o verdadeiro mago da bola. O 5º gol foi uma premiação dos deuses do futebol a quem tornou a nossa noite inesquecível. Acabou o jogo. O Flamengo venceu. O futebol também.
Demorei muito pra dormir aquele dia. Assisti todos os programas pós-jogo possíveis. Liguei pros amigos rubro-negros. Perturbei por algumas horas o perdedor da aposta que teve que pagar uma caixinha no ato. Aquela noite era nossa, rubro-negros. Só o Flamengo é capaz de proporcionar esses momentos, épicos. Relembrei as jogadas, as cenas, os dribles, os gols, como um filme. Uma semana depois saiu a crônica do Milton Gonçalves sobre o jogo. Já assisti esse vídeo umas 300 vezes. Confesso que acabei de assistir novamente. Pois o juiz apitou ao final dos 90 minutos. Mas, pra mim, aquele jogo ainda não acabou…