MRN Informação | Bruno Guedes – “O novo técnico do Flamengo é o senhor Waldemar”. O vídeo da apresentação de Waldemar Lemos como treinador, em 2003, entrou para os mais famosos da internet. Mas nesta quinta-feira, 8, o ex-comandante rubro-negro abriu o jogo para o jornalista Mauro Cezar Pereira, no Uol sobre aquele momento. De acordo com ele, os jogadores pediram seu nome para a diretoria. Entretanto, detalhou momentos difíceis durante o período e como foi demitido.
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Carioca de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Waldemar concedeu uma entrevista de cerca de uma hora para Mauro Cezar no “Dividida”, programa do site Uol. Com seu peculiar jeito tranquilo de falar, relembrou a sua passagem como técnico do Flamengo e afirmou que os atletas da equipe que pediram aos dirigentes rubro-negros sua efetivação.
À época, o profissional era auxiliar-técnico do irmão, Oswaldo de Oliveira, então treinador do Flamengo. Contudo, citando nominalmente os jogadores, Lemos disse que o ‘vestiário’ foi fundamental naquele momento:
“Primeiro de tudo, dei seguimento ao trabalho do meu irmão (Oswaldo de Oliveira). Depois também fazer os jogadores entenderem – também foi tentativa do meu irmão – o que representa o Flamengo. (…) Torcida e imprensa tinham muito interesse que eu não continuasse. Mas foi um pedido, uma exigência mesmo dos jogadores, Edílson, Júlio César, Fernando, Léo Moura… foi assim que aconteceu”, relembrou.
Waldemar relembra o ambiente encontrado no Flamengo
Apesar do mega sucesso do vídeo da apresentação nas redes sociais nesta última década, Waldemar revelou que só foi conhecê-lo em 2016. De acordo com ele, foi através de um jornalista que sempre o chamava de “seu Waldemar”. Sem entender, perguntou ao repórter o motivo de tanta educação.
Porém, foi a partir daí, segundo o ex-técnico rubro-negro, que compreendeu o tamanho da repercussão das imagens daquela época. Mas segundo ele, não o afeta negativamente.
Entretanto, ao contrário do que ficou no imaginário dos mais jovens, Waldemar Lemos fez um bom trabalho à frente do Flamengo. A equipe que brigava para escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2003 saltou da 12ª para a oitava posição. O ex-técnico explicou o ambiente que encontrou:
“O início foi ruim, assim como o final. Porque nós tínhamos alguns jogadores com percentual de gordura alto. Acima daquilo que considerávamos ideal. Depois nós convencemos os jogadores a fazerem determinado tipo de treinamento. Convencemos os atletas a jogarem pelo Flamengo. Eles estavam tristes, não queriam mais jogar. Pessoas iam trabalhar com ranço, por causa dos salários atrasados. Autoestima muito em baixa”, revelou.
De acordo com ele, o trabalho principal foi de resgate de base e a valorização do clube em si:
“O ‘quadro’ do Flamengo era muito feio, falando ao pé da letra. Mas tínhamos que passar por cima dessas coisas que existem até hoje no futebol brasileiro, como atraso de salário, falta de premiação, não valorização dos jogadores… Eu tentei valorizar os atletas da base. Fazer perceberem que todos eram importantes”, revelou Waldemar.
Clima hostil da torcida e até ovo jogado contra delegação
Se hoje o Flamengo tem um ambiente pacificado e de títulos, Waldemar Lemos encontrou algo bem diferente à época. Lutando contra o rebaixamento e com muitos problemas de gestão, o clima era de hostilidade.
Quando a delegação desembarcou em Natal, para encarar o ABC pela Copa do Brasil de 2003, um torcedor disparou um ovo na cabeça do então treinador. Mas em detalhes, explicou o ocorrido:
“Nós desembarcamos e estávamos caminhando para o ônibus. Um rapaz de aproximadamente 20 anos tacou um ovo na minha cabeça. Eu não entendi nada e já pagando pelas coisas ruins do Flamengo”, explicou.
Segundo o relato do profissional, o fato teria gerado revolta entre os atletas. Alguns deles, inclusive, queriam descer do ônibus em defesa ao seu comandante. Mas Lemos evitou o pior:
“Então corri para dentro do veículo, mas segurei os jogadores, porque eles queriam descer. Gostavam muito de mim, vi crescer, né? Mas este rapaz ficou detido naquela noite”, revelou.
Em tom de brincadeira, o ex-treinador do Mais Querido brincou com o ocorrido:
“Trabalhar no Flamengo hoje é a maior moleza”, disse ao esboçar um sorriso.
Problemas internos foram determinantes para a sua demissão
Além da melhora de desempenho, Waldemar também fez ótima campanha na Copa do Brasil. O treinador classificou o Rubro-Negro para as finais daquela edição, contra o Cruzeiro de Alex e cia.
Entretanto, durante a parada para a Copa América, o técnico acabou mandado embora após a semifinal. Para seu lugar o Flamengo escolheu Ney Franco, então eliminado com o Ipatinga pela equipe rubro-negra. Waldemar Lemos relembrou a história e explicou os motivos para aquela demissão:
“Eu vinha tomando determinadas medidas no Flamengo, desde o início, para que todos ganhassem confiança. Convocava todos para a preleção, roupeiro, dirigentes… Na semifinal contra o Ipatinga, levei os jogadores para a sala de aquecimento do Maracanã e fiquei sozinho com eles. No dia seguinte à partida, pessoas vieram falar comigo dizendo que trariam o Sávio ganhando R$ 300 mil. Mas nós tínhamos meninos dando resultado com R$ 8 mil, R$ 15 mil”, desabafou.
Segundo ele, além dessas atitudes, uma briga com o atacante ‘El Tigre’ Ramírez pesou na decisão dos dirigentes:
“Culminou na decisão de eu não ter levado o jogador, né, para jogar contra o Cruzeiro, no Mineirão. Levei o Bruno Mezenga, que fez o primeiro gol. Aí esse jogador (El Tígre) quis me destratar, era um nome muito importante para o Flamengo. Eu não entendia à época. (…) Como ele não não foi convocado para a Seleção do Paraguai, quis me culpar por ficar de fora. Essa é a verdade. Acho que isso criou um problema”, revelou o profissional.
Waldemar hoje em dia ensina jovens a ingressarem no futebol
Waldemar afirmou que atualmente ensina jovens a jogarem futebol. De acordo com ele, continua lutando para o legado que quer deixar:
“Meu compromisso hoje é deixar um legado, principalmente no meu bairro, em Realengo. Meus amigos, de todos os lugares que tenho. É trabalhar pelas pessoas, continuar fazendo o que faço pelas pessoas. Mas não posso deixar a minha ideia de criar uma escola de futebol em paralelo às escolas normais. É um meio que a gente utiliza, para as crianças principalmente, de conhecer esse mundo”, desabafou.
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Apesar do projeto, disse que não recebe muitas ajudas. Principalmente das esferas públicas:
“Era para eu estar lá no projeto com os amigos, no Campo do Periquito, onde a gente trabalha. Temos pouca ajuda do Estado e afins. Não fiz muitos amigos no futebol, isso me prejudicou de certa maneira. Mas muita gente nos apoia, muita gente tem gratidão pelo que fizemos ao longo da carreira”, finalizou o “senhor Waldemar”.