Eu sempre disse que tinha 3 amores. Mãe, pai e o Flamengo.
Diogo Almeida (Twitter: @DidaZico)
Antônio Almeida Filho ou Tontonho, como é conhecido em Cariús, município do Centro-Sul do estado do Ceará, é uma figura extraordinária. Podemos nos emocionar com sua Paixão Flamenga, contudo, o que queremos aqui de vocês, nobres leitores do Portal Mundo Rubro Negro, é o vislumbre emblemático da representatividade do Clube Mais Querido do Brasil.
Quando fizemos a cobertura do jogo entre Salgueiro e Flamengo pela segunda fase da Copa do Brasil, uma foto nos chamou a atenção. Nela, um cadeirante aparece feliz, com a camisa do Flamengo. Perguntamos ao Carlos Alvarenga (que também foi protagonista por aqui: leia!) de quem se tratava. Nitidamente o estádio Cornélio de Barros não possuía adaptações necessárias a pessoas com dificuldades especiais de locomoção. Alvarenga apenas respondeu: “É o Tontonho. Esse cara me fez chorar”.
Cariús e Salgueiro, no Pernambuco, não são cidades próximas. E a primeira pergunta que eu fiz para o Tontonho foi sobre a viagem.
– A viagem para Salgueiro foi tranquila. Chamei 4 amigos para assistirem o jogo do Flamengo e viajamos 300km de Cariús a Salgueiro, ao chegarmos fomos ao estádio.
Totonho no Salgueirão (Arquivo pessoal)– Compramos os ingressos e até aí tudo bem. Mas depois foi a maior dificuldade, pois não tinha hotel adaptado e os hotéis tudo lotado… Conseguimos uma pousada, só que quando entrei dentro dela a cadeira não cabia dentro do quarto. Além disso, até o vaso sanitária era quebrado e era no meio da porta não dava para entrar para tomar banho. Falei para meu amigo, cara vou sem tomar banho para o estádio. Aí saímos para almoçar e lá vi uma outra pousada e fui lá perguntei a menina se tinha vaga ela falou sim, eu perguntei se era adaptado para cadeirante. Ela falou não. Mas eu olhei as escadas e era uns 30 degraus e falei deixa pra nós que vou falar com meus amigos.
– Aí nos mudamos de pousada e meus amigos me subiram as escadas, era mais confortável. Descansamos um pouco, já que saímos de casa 4:30 da manhã e já era 13h. Descansamos. Quando foi 18h, descemos para a janta e fomos para o estádio. Ao chegar lá deixamos o carro e fui na cadeira. Rodei praticamente o estádio todo para entrar no portão 4. A surpresa foi ao chegar lá! Mais um obstáculo: não tinha entrada para cadeirante. Fui esperar eles darem um jeito até que puxaram a catraca eu passei me apertando. Mas entrei.
Tontonho teve a oportunidade de ver o Mengão. Pagou caro. Doeu no bolso. No ar seco do interior do nordeste brasileiro o ingresso queimava ao sol pela bagatela de duzentos reais.
Acessibilidade: Pousada e Estádio não ofereciam condições (Foto: Arquivo pessoal)– Além de matar a saudade do Mengão, tive o prazer de conhecer Carlos Alvarenga. Em cara legal. Fiquei atrás do gol e vi meu Flamengo ganhar de 2×0! Fiquei feliz em ver nosso time… Ainda criei uma expectativa grande quando pedi a camisa ao Anderson Pico ele deu o sinal de ok mas depois não voltou não, foi embora e ali acabou mais um sonho… mas como eu digo ser Flamengo é ser feliz.
Ser Flamengo é ser feliz. Quantos de nós perdemos a essência desse sentimento em divagações vãs? Quantos de nós perdemos aquela alegria infantil, que amava o time, entrava em campo. Não amava o craque. Não amava o título. Amava o time, as cores, o escudo, amava a torcida em volta, amava o desejo de realizar um sonho. Entrar com o time em campo. O time do nosso passado lúdico não tinha defeitos. Não existe ponta pereba, goleiro frangueiro, zagueiro grosso, atacante na seca. Quando o amor é imensurável ele não escolhe quem amar.
Totonho em Caríus: “Sou muito fanático”. (Foto: Arquivo Pessoal)– Como eu digo. Quando eu era criança eu sonhava em assistir um jogo. Já assisti 6! O último contra a Portuguesa lá no Castelão, em 2013. Os caras brincam comigo, dizem que sou doente. Que quando Flamengo perde eu assisto o VT pra ver se o Flamengo virou.
Pediu pra falar do Nonato, do Gérson e do Leo. Eu falo, Tontonho. A solidariedade tem caminho de volta. Estar ao lado de Tontonho deve ser uma aula de superação. Quem de nós não gostaria de estar ao lado de um cara como ele? Assistindo Flamengo e Salgueiro, em Pernambuco? Tontonho teve paralisia infantil aos 9 meses de idade.
– Meu sonho é assistir o Flamengo no Maracanã. Tenho 39 anos. Me perguntaram se eu era um cara triste e eu respondi como que eu sou triste se eu tenho Flamengo na minha vida?
– Não sei se a matéria vai ser boa pra você…
– Você é Sócio-Torcedor, Tontonho?
– Sou sim! Do plano Raça. Ajudo o Flamengo por amor mesmo.
– E o que vc acha desse programa?
– Acho que devia ter um melhor, a gente ajuda por que confia nessa diretoria, mas pra gente aqui do Nordeste não tem vantagem. Não tem jogo, aí quem participa é porque ama mesmo. Posso te contar uma história bem pequenininha? Fui a Recife, uma distância de 800 km para ver Flamengo x Sport. Aquele que Obina fez 2 gols. Isso de ônibus. E chegando lá não tinha acesso, se eu queria ver mais ou menos subia no braço da cadeira para ver se via os cara… Sobre o ST… Deviam criar um de 10 reais para o povo fora do Rio. Eu tento convencer outros aqui a virarem ST mas eles acham caro e tem uns que têm medo, pois os dirigentes que passaram roubaram o Flamengo demais.
Flamengo x Portuguesa pelo Brasileiro de 2013 – O quinto jogo (Foto: Arquivo pessoal)– Mas que tipo de vantagem pode ter pra vocês que moram longe, Totonho?
– Eu acho que, tipo, o cara fosse sócio… no aniversário dele ganhasse uma lembrança do Flamengo ou um sorteio para ir a um jogo no Maracanã.
– Você pretende ver algum treino do Flamengo em Juazeiro antes do jogo? – perguntei já naquela intenção de “quem sabe o pessoal do Relacionamento do Nação não lê a matéria e chama o cara para almoçar com o s jogadores? Fica a dica. Quem sabe o exemplo de superação não contamine o grupo com um pouco mais de raça? Fica a corneta.
– Não posso, porque não tenho condição financeira. Eu não posso pernoitar, tem que ser chegar num pé e voltar noutro. E o carro é do amigo aí depende dele. Eu vou ter que ajeitar as coisas aqui pra pagar esse ingresso (100 reais). Mais vou ver se compro pela metade porque sou cadeirante…
O maior patrimônio de um clube é sua torcida. Que frase clichê. Como conhecer cada um desses mais de 40 milhões? É possível?
Para o Flamengo nada é impossível.
Flamengo é Flamengo.
E que torcida é essa?
Sócio-Torcedor há dois anos, que os sonhos se realizem para o nosso amigo! (Foto: Arquivo pessoal)
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