Assume uma nova diretoria e rapidamente marca-se uma reunião com o treinador, que havia sido contratado pela gestão anterior. Empolgados em viver o futebol tão perto, os cartolas inexperientes se empolgam e perguntam toda sorte de abobrinha. Até mesmo sobre cabelo de jogador. De repente, não mais que de repente, o que mais estudou para a conversa pergunta:
– Notei que o senhor nunca escala o Fulano Silva e o Beltrano Hermano juntos na zaga. Não seria uma boa? São os mais altos…
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Com educação, o técnico, já com alguma experiência em lidar com dirigentes, responde pacientemente.
– Não podemos escalar esses dois juntos porque são jogadores altos, mas muito pesados. Sofreríamos demais por baixo.
Todos compreendem a explicação com um certo ar de reflexão. Já esclarecidos, dirigem-se para suas respectivas pastas para reestruturar o clube e começar a temporada. Com alguns bons jogos no início, o treinador viu os resultados minguarem. Em um jogo do estadual sofreu uma derrota pavorosa para um time pequeno com a zaga… Fulano Silva e Beltrano Hermano. Sem entender nada, os dirigentes pedem explicações e um cartola vai lá perguntar. “Afinal, não era uma zaga pesada? Por que você os escalou?”
– É o seguinte… O Fulano da Silva pediu a palavra no vestiário e falou “Professor, me põe pra jogar. Eu sinto que hoje é o meu dia” e aí eu pus porque, imagina só se não ponho ele e mantenho o titular? Eu perco o grupo!
Aceitando a explicação com um ar de incredulidade, o cartola retorna com a informação. No dia seguinte, o técnico seria demitido. Mas o futebol é esporte da bola. E ela sempre gira.
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