Ser rubro-negro é aceitar que você vai ter sim títulos, vitórias, ídolos, mas em compensação não vai ter uma mísera semana de paz na sua vida.
Se o time vai bem dentro de campo a diretoria vai arrumar alguma palhaçada fora dele, se um jogador vai bem outro vai se machucar, se tudo parece tranquilo algum tuiteiro vai inventar polêmica, se diferentes gerações de atletas parecem estar dando liga alguém vai espalhar que o Paquetá está tendo um caso com a mulher do Diego Alves. A “crise na Gávea” é uma instituição e cada setor do Flamengo e da sociedade, de atletas até torcida, passando pela diretoria, CBF e justiça desportiva, parece disposto a fazer a sua parte.
A crise da vez, como você já deve saber, é a esquisitíssima suspensão, por dois anos, do atleta Gabigol, por suspeita de ter fraudado um exame antidoping em abril de 2023, uma punição mais pesada e mais longa do que aquela aplicada a atletas cujos exames sinalizaram traços de cocaína, anabolizantes ou mesmo crack.
➕ Gabigol é único suspenso por ‘tentativa de fraude’ na lista da ABCD
Uma punição que, segundo grande parte dos relatos, parece ter mais a ver com a postura de Gabriel do que com uma real suspeita de uso de substâncias proibidas. Isso porque fontes atestam que o atacante teria sim justificativas para atrasar seu exame, teria sim o departamento médico do Flamengo ao seu lado na decisão, mas teria se portado de maneira antipática e grosseira durante toda a situação, uma postura que é sim perfeita num jogo da Libertadores, mas absolutamente desnecessária durante um exame laboratorial. Obviamente é complicado sair mostrando os genitais assim, sem uma música lenta e um vinho tinto, mas se a outra opção é um gancho de até quatro anos, é necessário fazer um esforço.
E aí entra o papel da nossa diretoria, que nos últimos meses vem minimizando de todas as formas o risco de suspensão, tratando como uma causa ganha, e agora se vê diante do risco de ficar sem o centroavante reserva num cenário em que camisa 9 titular com certeza será convocado em breve para a seleção. Sem Pedro e Gabigol, iremos improvisar Bruno Henrique na posição? Temos alguém da base para essa função? Alguém será contratado? Vamos mais uma vez pagar, em pontos perdidos, o preço da falta de planejamento?
Por fim, temos o absurdo da punição em si. O jogador Jóbson, que confessou ter usado crack, foi punido com uma suspensão de dois anos, eventualmente reduzida para seis meses. Paolo Guerrero, cujos exames apontaram a presença de um metabólito da cocaína, teve gancho de 14 meses. Carlos Alberto, o inimigo do Arrascaeta, foi flagrado nos testes com ao menos duas substâncias normalmente utilizadas para mascarar a utilização de outras drogas e foi suspenso por apenas um ano. Qual a lógica então da punição tão pesada para um atleta que efetivamente testou negativo nos exames de urina e de sangue – considerado mais completo?
A verdade é que Gabigol foi sim otário. Mesmo possivelmente tendo razão ao atrasar o exame, decidiu trucar a sorte ao ser antipático com quem não podia ser. E a diretoria, mais uma vez, esqueceu de se preparar pra uma eventualidade que, analisando os fatos, não era tão improvável assim. Mas nada disso altera o quão confusa e absurda foi a decisão de punir uma suspeita de doping e um erro de conduta de maneira mais rígida do que pune um uso comprovado de substância proibida.
Que Gabigol e a diretoria do Flamengo aprendam com essa situação e que, principalmente, a Corte Arbitral do Esporte possa anular essa decisão, mesmo se for preciso que Gabigol envie uma foto do Lil’ Gabi pra cada um deles.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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