Depois de morar em vários lugares por esse Brasil, aportei, no último ano, no cerrado brasiliense, afinal, “sou donde nasci, sou de outros lugares”, diria Guimarães Rosa e que, a rigor, se aplica as minhas caminhadas. Carrego comigo os amores, algumas ideias, o frio na barriga e o Flamengo. Nada mais me aquece a alma nesse asfalto frio da capital. Logo que cheguei fiz amigos e através deles fui apresentado a um lugarejo idílico que fica a poucos quilômetros da capital federal, onde se divide o bem e o mal.
Alexandre Greco: Voltemos ao emplastro
Alexânia, município de Goiás, abriga um pequeno distrito chamado Olhos D’ Água e lá tem um bar chamado “Bar Museu” que pertence a Dona Cecilia, ali, bem ali, passava o Tratado de Tordesilhas, que hoje resume-se a imaginarmos, bêbados, de que lado ficavam a Espanha e Portugal, bebe-se em ritmo de flamenco, sofre-se em ritmo de fado. O Bar Museu é uma espécie de bodega, porém, especializada em garrafadas à base de cachaça. Tem de toda flora: limão, tangerina, laranja, alecrim, camomila, canela, losna e a mais prestigiada de todas as infusões, a “Verga Tesa”, um elixir afrodisíaco do sertão.
Cito a Verga Tesa porque ficou óbvio que o Flamengo ontem jogou sob os efeitos da magia de Dona Cecília, desde o primeiro minuto até os potentes acréscimos do segundo tempo. Dominou o jogo, teve poucos sustos, vacilou onde o vacilo é recorrente, mas enfrentou o touro sem medo, buscando o empate num jogo onde foi soberano. O Fla chegou sob desconfiança, apesar de líder no brasileirão faltava ao time os embates classificatórios e o universo fáustico que eles proporcionam, resumindo, é estar em outro panteão do qual o Flamengo tem que se acostumar a habitar; grandes jogos, adversários potentes, arquibancadas ensandecidas e nas quatro linhas um manancial de histórias.
O Flamengo foi gigante na casa dos caras e por mais pertinente que seja o mantra do ainda tem o jogo de volta, o que se viu ontem foi um time que está encontrando outro patamar de jogo e se consolidará no alto mediante os títulos que, segundo fontes do além, virão esse ano. Não se espantem se for mais de um. Não é fácil dominar o Grêmio do Renato no Sul. Jogam cientes do tamanho que tem e do predomínio que exercem no jogo. As escapadas do Everton e o talento do Luan, aliado a precisão com que são executadas as ideias táticas, transformam seus adversários em vítimas facilmente.
Flamengo soube colocar seus talentos para jogar e surpreendeu o Grêmio. Tomou o gol no momento onde esboçava uma reação geográfica no jogo, ocupando mais os espaços e entendendo que após aquele início de marcação muito alta viriam as brechas naturais da partida. Porém, mesmo com o gol de videogame do matusalém Léo Moura – mostrando que o Fla tem um chama pra lei o ex – o time não se abateu e após o intervalo assumiu a história que estava predestinado a contar. Dominou sem cerimonias o meio campo e deixou o estádio com um silêncio sepulcral até o golpe final do menino Lincoln.
No mais é preciso exaltar a postura do Barbieri, não deixou se abater e nem procurou o Boston Medical Groups, assumiu a responsabilidade e colocou o Flamengo pra jogar da forma que todo rubro negro guarda na memória mesmo que em mitologia, afinal, aprendemos desde girinos que Flamengo joga pra frente, movidos pelo calor de sua torcida e envolvendo os adversários, tanto que a camisa certas vezes é “içada, desfraldada, por invisíveis mãos…” como eternizou o Nelson Rodrigues.
Que venham as próximas rodadas do brasileirão, libertadores e copa do brasil. Os Rubro Negros, em geral, precisam de muito pouco pra sonhar e se esse elenco entender a importância do encontro entre o time e torcida, compreendendo minimamente a ideia Flamengo, nada nos segurará.
Saudações Rubro Negras!
Imagem destacada: Gilvan de Souza/Flamengo
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Alexandre Greco é jornalista, escrevinhador e rubro negro, especialista em nanohistórias e contação de mentiras. Saravá! Siga-o no Twitter: @alexandregrecco.
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