O ex-vice-presidente de Finanças do Flamengo Wallim Vasconcelos concedeu ao podcast Resenha 37 a primeira entrevista após sua saída do Flamengo, onde foi substituído por Rodrigo Tostes. Wallim falou sobre os motivos da saída, sobre o trabalho que fez no pouco mais de um ano em que esteve à frente da pasta e sobre outros temas. Veja os principais pontos:
Saída: Landim centralizador
Landim tem um estilo de gestão mais centralizado e pouquíssimas pessoas. E eu entendia que o Fla tem muitos vice-presidentes, e que as questões mais relevantes deveriam e teriam que ser discutidas na diretoria. E raramente isso acontecia.
Eu falei pra ele: “respeito o seu estilo de gestão, você ganhou a eleição e tem que gerir como achar melhor”. Acho que tem muita gente de qualidade e as questões importantes sendo discutidas sempre conseguem alcançar um resultado melhor. Não briguei com ele. A gente até se encontrou agora na regata. Então basicamente foi estilo de gestão. Eu acho que tem quer ser mais participativa e ele mais centralizada.
Agora as decisões do clube hoje são centralizadas em duas ou três pessoas. Eu acho desperdício. Quanto mais você discutir assuntos que são impactantes, eu acho que é melhor pra todo mundo. Ou então não precisa ter VP. Eu disse pra ele que não estava lá por causa de ingresso e estacionamento. O trabalho foi feito e ele (Landim) continuou com a mesma visão centralizada. Você pode discordar mas não somos inimigos. Visões diferentes. Basicamente isso.
Trabalho feito
Provei que poderia ajudar. Ano passado fizemos algumas intervenções, no bom sentido, na área financeira, com novas auditorias, com linhas de crédito sem garantia, com a agência de rating que está trabalhando para fazer um rating de crédito. Tudo isso vai ajudar o Flamengo a ter mais acesso a mais recursos, melhores condições de financiamento.
Basicamente a dívida do Flamengo é imposto, uns R$ 300 milhões. E a dívida com a compra dos jogadores. Só para lembrar, a gente pegou o Flamengo com um faturamento de R$ 212 milhões e uma dívida de R$ 750 milhões que depois se mostrou muito maior porque teve Ronaldinho, Romário, Pet entrando na Justiça e outros esqueletos. Estava rondando R$ 1 bilhão. Hoje é o contrário. Faturamento quase R$ 1 bilhão e dívida tá em R$ 300 milhões de imposto, trabalhista praticamente não tem mais nada. Talvez uma pendência com o Banco Central que é a última que está sendo discutida e que não tem um valor estimado. Financeiro, tem aquela linha que você pega no banco para cumprir algum descasamento fiscal mas nada relevante, final do ano deve ter terminada em 20 e poucos milhões. Mas tem a dívida com alguns jogadores que não pagamos totalmente – isso é diluído em três anos. A gente conseguiu montar um elenco muito bom. E o fluxo de caixa não está comprometido. A gente ainda tem dinheiro para receber do Reinier, Jean Lucas, Vizeu, Leo Duarte… Enfim, a questão financeira está muito bem equacionada. A dívida: R$ 300 milhões de imposto que tem 17 anos para quitar. Não está nadando em dinheiro mas está confortável.
Condução do caso do Incêndio no Ninho
Não fui chamado para participar em nenhum momento desse processo lamentável. Enfim, foi totalmente conduzido pelo Landim, Gustavo de Oliveira, (Rodrigo) Dunshee e pelo (Reinaldo) Belotti, se não me engano. Eles acharam que essa maneira de conduzir o assunto era a melhor para o clube. É um assunto que eu não gostaria de tecer comentários porque ainda envolve o clube e as pendências. O que eu gostaria realmente é que tudo estivesse resolvido.
Talvez já pudesse ter resolvido. Eu não sei os detalhes da parte jurídica. Eu estaria aqui sendo pouco cuidadoso se eu fizesse algum tipo de comentário sem saber dos detalhes das negociações, os detalhes jurídicos, tudo. Entendo que o Landim é um cara experiente, teve alguns episódios na Petrobrás de acidente que ele participou, e o próprio Belloti também, entendo que eles estão conduzindo o assunto da maneira que eles acham correta.
Contrato do Maracanã
Eu já tive preferência por um estádio próprio, porque eu não acreditava que o Maracanã ia ser licitado, ia ser resolvido. Mas dado que o Maracanã provavelmente vai ter uma licitação pra gestão do Maracanã por um período longo, e o Maracanã é um estádio que tá pronto, que a torcida do Flamengo se sente bem, a minha opinião é que o Flamengo deveria tentar ganhar a gestão do Maracanã. Essa questão de ser com o Fluminense ou sem ser o Fluminense, vai depender das regras do edital. Se o Fluminense puder participar, e puder arcar com as despesas do estádio, com os custos, com tudo, eu não vejo problema do Fluminense participar, desde que o Fluminense possa se qualificar perante o estádio diante das regras do edital.
Marcos Braz x Bap
O Marcos é um cara muito respeitado internamente. Politicamente, na torcida. É óbvio que você tem divergências de opinião, e tem que ter o bom senso de, numa dividida, o presidente decidir. O Marcos vem fazendo um ótimo trabalho, é um cara que entende do assunto. Ele tem as divergências lá com o Bap, o Bap pela próxima personalidade dele, é um cara que gosta de se meter em tudo. Às vezes dá um curto-circuito… Cada um tem sua característica, cabe ao outro lado dizer não, e na hora de defender o Flamengo, colocar seu ponto de vista. Se tiver um impasse, o presidente tá lá pra resolver.
Disputa com a Globo
O que acontece é o seguinte. Primeiro a gente tem que esclarecer que a Lei Pelé não permite a transmissão, só se os dois clubes concordarem. Tem que se mudar, e eu acho que no mundo inteiro é assim, ou na maior parte, o mandante vende os seus jogos. Então se eu tenho no Campeonato Brasileiro um Flamengo x Botafogo, e no primeiro turno o mando é do Flamengo, o Flamengo vende e o Botafogo fica olhando. No segundo turno o Botafogo vende pra quem ele quiser e eu fico olhando. Então tem que mudar a lei. A lei hoje não permite isso. Tem que ter um lobby das torcidas. Cada um vai ter sua estratégia de venda, e aí influi também no patrocinador. Se eu vender pra uma TV que tem menos audiência, o patrocinador vai me pagar menos. É uma negociação que tem vários aspectos. Primeiro mudar a Lei Pelé se não você está amarrado um com o outro. Segundo, não é verdade que o dinheiro do Campeonato Carioca não faz falta ao Flamengo. Qualquer dinheiro faz falta ao Flamengo. 15 milhões, 17 milhões, 20 milhões, é um dinheiro nada desprezível isso aí. Se pudesse ter fechado com a Globo era importante fechar com a Globo. No futuro, se mudar a lei, é mais fácil fazer isso. Se não mudar a lei, tem que sentar talvez os grandes clubes pedirem proposta pra algum que pague mais que a Globo. Eu tenho entendido que há conversas em Brasília no intuito de mudar isso aí. Eu acho saudável. A minha impressão é que o streaming vai prevalecer aí na frente. Mas os clubes têm que saber como eles se organizam. Se eles negociam juntos ou separadamente.