No primeiro grande teste para a temporada 2022, Flamengo e Atlético-MG fizeram um duelo que fez jus à decisão da Supercopa do Brasil.
Com ideias antagônicas, Paulo Sousa e Antônio Mohamed protagonizaram um embate tático muito interessante. A princípio ambos os técnicos buscaram atacar e defender partindo de objetivos próximos, contudo com uma execução bem diferente.
Confira a análise tática de Atlético-MG x Flamengo
Leia mais: Análise: Como o Atlético-MG de Mohamed pode atacar o Flamengo?
Atlético-MG retém mais a posse de bola, porém tem dificuldades para chegar ao ataque
Desde que a bola rolou em Cuiabá, ficou claro que ambas as equipes buscaram ser protagonistas do jogo. Em organização ofensiva buscaram ter a posse pelo tempo necessário para armar ataques. Em organização defensiva tentaram se proteger dos perigos adversários e com soluções para contra-atacar.
Porém, a forma como cada equipe fez isso foi diferente. O Atlético-MG de Mohamed trabalhou com a posse, buscando inicialmente acionar diretamente seus ponteiros e o atacante por bolas longas. Essa ideia, no entanto, foi bem neutralizada pelo Flamengo de Paulo Sousa.
Enquanto o clube mineiro tinha a posse na primeira fase de construção, o Mengão pressionava a posse adversária de forma moderada. Sem a busca incessante por roubar a bola, mas incomodando a dupla de zaga Nathan Silva e Godín, realizando passes mais arriscados. Gabi e Bruno Henrique foram os responsáveis por essa pressão.
Nos momentos em que o Atlético-MG conseguiu ter bola descoberta para as diagonais longas, a linha defensiva do Flamengo trabalhou de forma segura. Seja protegendo a profundidade, bem como algumas antecipações que interceptavam os passes.
Assim, Allan desceu entre os zagueiros atleticanos para facilitar a saída de bola com passes rasteiros e gerar superioridade númerica. Contudo, o volante também tinha pouca liberdade para acionar os meias pelas subidas de pressão de um dos meias rubro-negros.
Por exemplo: se o Atlético-MG rodava a bola pelo seu lado direito de ataque, Everton Ribeiro se juntava aos dois atacantes para igualar o sentido. Da mesma forma, Arrascaeta fez essw movimento pelo lado direito.
Assim, apesar de ter a maior posse durante a primeira etapa (55%), o Galo teve dificuldades para conseguir sair com a bola do seu campo de defesa.
Não deixe de ler! Análise: Como o Atlético-MG de Mohamed pode se defender do Flamengo?
Flamengo é mais vertical e gera perigo nas transições ofensivas
Como já foi dito, o Flamengo também buscou ser protagonista do jogo desde os primeiros minutos. Entretanto, a equipe trabalhou seus momentos com bola de forma bem mais vertical. Quando pressionado pelo bloco alto atleticano, buscava rapidamente sair dessa posição. Seja com passes mais longos visando os atacantes, seja acionando seus médios em janelas geradas pela movimentação entre eles e o trio de zaga.
Com sua saída em 3-2 já estabelecida, Hulk gerava pressão em David Luiz, enquanto os ponteiros Keno e Savarino eventualmente subiam pressão em Fabrício Bruno e Filipe Luís. Arão e João geravam opções nas janelas por dentro para receberam o passe e rapidamente acionar os alas.
Nesse sentido, Rodinei foi uma ótima válvula de escape pela direita. O time de Paulo Sousa em organização ofensiva rapidamente buscava acionar o ala pela direita no corredor lateral, buscando se associar com Arrascaeta pelo setor. Pelo lado esquerdo, Everton Ribeiro não teve a mesma fluidez com Bruno Henrique no setor.
No entanto, o Flamengo teve suas melhores oportunidades na primeira etapa em transições ofensivas. Em algumas oportunidades, a equipe conseguiu desarmes no meio de campo que rapidamente geraram situações de gol. Em especial o lance em que João Gomes fez um belo desarme em x e deixou Gabi livre para marcar. O príncipe da Gávea desperdiçou a oportunidade.
Atlético-MG encontra solução ofensiva e abre o placar
Apesar do Flamengo ter sido mais efetivo na sua proposta com e sem bola no primeiro tempo, ainda assim o Atlético-MG encontrou soluções para atacar o Flamengo.
Jair e Hulk começaram a serem acionados em apoios frontais (ou “pivôs”) pelos zagueiros e laterais. Dessa forma, isso permitiu que o Galo avançasse no campo e acionasse os ponteiros em profundidade. Especialmente Keno pelo lado esquerdo.
Em uma dessas dinâmicas Allan atraiu Bruno Henrique, que fechava o 4-4-2 rubro-negro sem bola, e criou um espaço no setor para a finalização de fora da área de Arana. O goleiro Hugo Souza rebateu o chute e Nacho Fernández abriu o placar.
O primeiro tempo terminou com o Galo sendo mais efetivo quando chegou mais próximo ao gol.
Flamengo muda sua marcação e chega a virada
À primeira vista a segunda etapa começou sem alterações em peças nas equipes. Contudo Paulo Sousa mudou a forma como passou a pressionar a saída de bola do Atlético.
A equipe passou a pressionar de forma mais agressiva o trio atleticano que iniciava a primeira fase de construção atleticana com a presença de Arrascaeta mais próximo de Gabi e Bruno Henrique. Como resultado o Flamengo passou a se defender em um 4-3-3.
Inicialmente a mudança não foi benéfica ao Mais Querido, pois o Atlético conseguiu ter mais efetividade para progredir em campo e em algumas situações conseguiu gerar superioridade setorial pelo seu lado esquerdo de ataque. Rodinei foi providencial com duas abordagens essenciais em cima de Keno e Arana.
Porém a equipe conseguiu ajustar melhor a marcação a frente e conseguiu chegar a virada de duas maneiras diferentes. No gol de empate, a equipe trabalhou em organização ofensiva numa posse mais longa até Filipe Luís encontrar belo passe para Arrascaeta, nas costas de Mariano. O meia uruguaio foi perseguido por Allan, mas se desvencilhou do volante para cruzar na área. Bruno Henrique cabeceou ao gol, Everson defendeu e no rebote Gabi empatou o placar.
Oito minutos depois o Flamengo chegou a virada no contra-ataque. Arão conseguiu ótima interceptação e passou para Arrascaeta. O uruguaio acionou Lázaro (que entrou no lugar de Everton Ribeiro) pela esquerda. Após ótima movimentação de Gabi, a cria da Gávea acionou Bruno Henrique por dentro. O camisa 27 atacou a área e completou para o gol. 2×1.
Paulo Sousa busca se defender com a bola mas sofre o empate na sequência
Após chegar a vantagem no placar, o Flamengo passou a ter uma postura menos agressiva na defesa. Contudo a equipe se manteve no 4-3-3 sem bola e teve seu pior momento no jogo. O Galo quase empatou após uma série de chances criadas na grande área.
Assim, Paulo Sousa decidiu mudar a equipe buscando ter mais a posse da bola e controlar a equipe. Sacou Bruno Henrique para a entrada de Diego. Em seguida, Mohamed trouxe folego novo ao ataque com Ademir e Vargas. E dupla participou ativamente do gol de empate atleticano.
Ademir recebeu livre pela direita, depois de ótima movimentação de Nacho, e cruzou no segundo pau. Vargas escorou de cabeça nas costas de Rodinei e serviu Hulk. O craque do Atlético dominou com o pé esquerdo e fuzilou com a direita para empatar novamente o jogo. 2×2.
Com o pouco tempo para o fim do jogo e o desgaste físico explícito das duas equipes pouca coisa aconteceu é o fim do tempo regulamentar. Paulo Sousa ainda buscou com Léo Pereira, Matheuzinho e Vitinho trazer mais vitalidade a equipe, mas sem êxito.
No fim o Flamengo voltou a se defender em 4-4-2 com Vitinho sobrando mais próximo de Gabi e Diego pelo lado direito do campo. Já o Galo se manteve com mais posse, porém sem efetividade no ataque. Em algumas transições ofensivas, esteve próximo de marcar seu terceiro gol.
Qual é o balanço geral de Atlético-MG x Flamengo?
Antes de mais nada, além da decisão de pênaltis que consagrou o Atlético campeão da competição, o jogo foi de grande riqueza tática. Duas equipes que, formas distintas, buscaram implementar suas ideias e vencer o jogo. Ambas as equipes tiveram momentos de superioridade, porém no final o a igualdade nos 90 minutos foi um o resultado mais justo para o que apresentaram em campo.
Ao Flamengo, cabe agora assimilar a derrota e buscar continuar o trabalho promissor de Paulo Sousa. É possível que a equipe evoluiu bastante desde o início da temporada e respondeu bem ao seu primeiro teste de alto nível. Bem como avaliar suas mudanças durante o jogo. A entrada de Diego é algo que pode ser bastante discutido.
Mas enfim, para este que escreve a derrota nunca pode ser algo aceitável no clube. As cobranças internas precisam acontecer para que a equipe siga evoluindo. Continuidade e Continuísmo são coisas diferentes e Paulo Sousa têm noção disso. Precisa buscar melhorar seu desempenho e vencer!
SRN
Siga Douglas Fortunato no Twitter.