Poucas coisas sinalizam de maneira mais clara o quanto o Campeonato Estadual de Futebol do Rio de Janeiro vale do que o fato dele não ter uma premiação em dinheiro.
Campeonatos de Beach Tennis da Zona Sul carioca tem prêmio em dinheiro, corridas de rua amadoras tem prêmio em dinheiro, provas do BBB em que você fica sentado dentro de um carro por várias horas podem não ter prêmio em dinheiro, mas ao menos você ganha o carro.
➕ Um time novo e melhorado, pra cometer os mesmos erros do passado
Mas no Campeonato Carioca não tem isso, o time vencedor não ganha dinheiro, não ganha carro, se bobear amanhã o financeiro do Flamengo recebe um QR code pra pagar o valor das medalhas e do troféu.
O nível técnico do torneio também está longe de já ser o que foi. Se no passado o Carioca era onde você via Zico enfrentando Dinamite, onde Jairzinho desfilava e Assis deixava seus gols, hoje temos um torneio sucateado, pouco competitivo, povoados por times reservas e sub-20, onde nem um regulamento pensado para garantir os quatro grandes no mata-mata conseguiu impedir que o Nova Iguaçu disputasse a final. Mas com certeza John Textor tem um relatório, feito pelo finado Robô Ed, que explica a ilegalidade disso, precisamos só esperar.
O Carioca não vale mais o que já valeu, não representa mais o que já representou, e hoje, ainda mais para o Flamengo, se tornou uma espécie de pré-temporada de luxo, se você considerar luxuoso enfrentar um Sampaio Corrêa que nem é aquele Sampaio Corrêa, mas sim um outro time chamado Sampaio Corrêa. Ser campeão não qualifica ninguém pra nada, enquanto perder desestabiliza completamente o time, a competição gera lucro apenas pra FERJ e mais ninguém, e você ainda pode, numa partida de zero importância, machucar um jogador que vai fazer falta nos jogos que realmente importam.
Em suma, o Campeonato Carioca não vale nada. Mas rapaz, como é gostoso ganhar o Campeonato Carioca.
Primeiro porque qualquer plano de dominação externa precisa passar pela supremacia local, e nessa parte o Flamengo está fazendo seu dever de casa. Somos hoje o maior campeão do estado, com 38 títulos cariocas, além de, com a conquista desse domingo, termos nos tornado a equipe que mais vezes fez isso de forma invicta. Alguma dessas coisas classifica pro Mundial Interclubes? Não, mas deixa clara a distância que existe entre nós e os demais times do Rio de Janeiro.
Depois pelo simbolismo de vitórias como a de hoje. Se a equipe rubro-negra parecia preguiçosa em campo, como se na terça tivesse se poupado pra hoje e hoje estivesse se poupando pra quarta, neste cenário sonolento pôde brilhar a estrela do eterno Bruno Henrique, que entrou no segundo tempo para acordar a torcida e garantir que a taça não iria ser levantada depois de um 0x0. Uma lembrança da importância de certos jogadores predestinados, de certos craques com estrela, de certos nomes que sabem como construir história neste clube.
E por fim, existe a verdade eterna de que toda vitória rubro-negra, seja ela qual for, é imensa. Podemos relativizar, podemos questionar, a realidade objetiva cartesiana pode estar nos esperando com um porrete na porta, mas se o Flamengo está levantando uma taça, se mais de quarenta milhões de pessoas estão vivendo uma conquista, tudo que resta fazer é comemorar. E hoje, mais uma vez, com mais um título carioca, temos motivos sim para comemoração.
Então que a gente, mais uma vez, comemore. Comemore o estadual de 2024, mais um na nossa história, e que ele seja apenas o primeiro de vários títulos que ainda vamos comemorar neste ano. Títulos que serão maiores, mais importantes, mas que precisam ter algo em comum: serem comemorados por essa nação em vermelho e preto.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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