Por incrível que pareça, o Flamengo volta às atividades no ano em que defende os títulos do Brasileiro e da Libertadores com uma crise de proporções ainda incertas nos bastidores. A crise veio à tona com a demissão de Paulo Pelaipe, gerente de futebol, apesar de ele ter tido a prorrogação do seu vínculo original, que se encerrava em 31 de dezembro, anunciada no ano passado.
Hoje, porém, Pelaipe foi informado por e-mail, pelo RH, que o clube não conta mais com os seus serviços. A decisão teria sido tomada à revelia do vice-presidente de Futebol, Marcos Braz, por iniciativa do vice-presidente de Relações Externas, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, cristalizando uma disputa interna que já havia sido noticiada pelo jornalista Mauro Cezar Pereira como principal ameaça à repetição em 2020 do sucesso que o Flamengo teve dentro de campo em 2019.
Uma versão que circula é que o estopim para a demissão de Pelaipe foi o fato de o agora ex-gerente de futebol ter vazado para jornalistas, no dia da decisão do Mundial de Clubes, que havia um desentendimento em relação ao pagamento da premiação aos jogadores e demais profissionais do futebol pelas conquistas do Brasileiro e da Libertadores.
A interlocutores, porém, Pelaipe atribuiu sua demissão a uma tentativa de enfraquecer Braz, que ganhou prestígio interno e externo após o sucesso nas contratações de jogadores e do técnico Jorge Jesus.
Após o anúncio da demissão de Pelaipe, o Flamengo cancelou uma coletiva que seria concedida amanhã por Braz, pelo diretor de futebol, Bruno Spindel, e pelo próprio Pelaipe na reapresentação dos jogadores que vão defender o Flamengo na Taça Guanabara. O cancelamento pode indicar mais mudanças no departamento de Futebol.
O presidente Rodolfo Landim e o vice Rodrigo Dunshee estão de férias, e o presidente em exercício, Antônio Alcides, disse ter ficado sabendo da saída de Pelaipe pela imprensa. A decisão da demissão também não teria passado pelo Conselho de Futebol, formado por Bap, Braz e sócios integrantes dos grupos políticos que apoiaram a candidatura de Landim. Teria sido iniciativa exclusiva de Bap, referendada por Landim e executada pelo CEO do clube, Reinaldo Belotti.
O ex-presidente Kleber Leite, que nomeou Braz diretor de futebol pela primeira vez na década passada, quando era vice-presidente de Futebol, questionou a demissão no seu blog:
— Juro que não consigo entender. Quem manda no Futebol é o vice de futebol ou o de relações externas? Quem sabe o que é bom ou ruim para o futebol é o seu vice ou, virou bagunça?
A turbulência no departamento de Futebol pode trazer efeitos indesejados. Pelaipe tinha sido elogiado pelo técnico Jorge Jesus em uma entrevista recente ao Jornal Record, junto com os outros dirigentes do departamento. Uma eventual saída de Braz poderia significar também a não permanência do técnico português.
— Tenho uma relação fantástica com o presidente Rodolfo Landim e com as pessoas do Flamengo mais ligadas a mim: Marcos Braz, Bruno Spindel e Paulo Pelaipe. Estas pessoas, que tomam decisões, acreditam muito no trabalho que fazemos e estamos em sintonia — disse Jesus ao jornal português.
O terremoto, porém, pode ir além do Futebol. Outro dirigente que teria ficado contrariado com a saída de Pelaipe é o vice-presidente de Finanças, Wallim Vasconcelos, que trouxe Pelaipe para o clube pela primeira vez em 2013, quando era vice de Futebol. Naquela oportunidade, Pelaipe participou das conquistas da Copa do Brasil-2013 e do Campeonato Carioca-2014.
Com a demissão de Paulo Pelaipe, o mais cotado para assumir o cargo de gerente de futebol, que tem como função mais importante fazer a ponte entre os jogadores e a diretoria, é Gabriel Skinner, atual supervisor, e muito próximo a Bap — é casado com uma parente do vice-presidente.
Mesmo em meio a toda essa turbulência, o futebol do Flamengo volta amanhã ao trabalho, com jogadores da base, alguns retornados de empréstimo e jogadores do elenco principal que não foram inscritos no Mundial de Clubes. Eles serão comandados pelo técnico do sub-20, Mauricio Souza, na disputa da Taça Guanabara. O elenco principal e Jesus só voltam ao trabalho no dia 23.
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