O ano de 2020 começa com algo de dejà-vu no mercado da bola para os rubro-negros: como em 2014, o Flamengo tenta manter um jogador contratado por empréstimo junto a um clube europeu que deu muito certo, tornou-se rapidamente ídolo da torcida e foi fundamental para que o clube voltasse a ser campeão. Há seis anos, Elias. Hoje, Gabigol. O jogo de paciência pode ser parecido, mas o Flamengo conta com cartas melhores desta vez para que o final possa ser bem diferente.
O Mundo Rubro Negro resolveu comparar as duas situações para mostrar o que elas têm de semelhante e diferente e o que o torcedor pode esperar:
Situação financeira
A principal diferença é a situação financeira do clube. O Flamengo teve em 2013 uma receita de R$ 273 milhões. Em 2019, a expectativa era de um número final entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões. A dívida do clube, além de maior do que hoje, ainda não estava equacionada — o Profut ainda não havia sido aprovado, o Flamengo ainda tinha penhora de parcela significativa de suas receitas para pagar dívidas trabalhistas e outras pendengas cíveis não haviam sido resolvidas. Também não havia no elenco jogadores que pudessem ser vendidos por altos valores, com o Flamengo sem realizar uma boa venda da base desde 2008, com a saída de Renato Augusto. Nesse cenário, os direitos econômicos fixados em 15 milhões de euros por Elias pelo Sporting no contrato de empréstimo eram um valor impensável para o Flamengo na ocasião. Houve relatos desencontrados na imprensa: o Flamengo garantiu ter proposto 4 milhões de euros inicialmente, mas o Sporting afirmou que a proposta foi apenas de 1,5 milhão de euros. Hoje, a questão financeira não parece ser empecilho para as negociações com a Inter: os dirigentes dizem ter chegado a um pré-acordo com o clube italiano, e as cifras, a depender dos relatos, girariam entre 16 milhões de euros e 22 milhões de euros. Números longe de ser baixos, mas factíveis para o Flamengo atual.
Vontade do jogador
Na medida em que é possível saber externamente o que passa na cabeça do jogador, Elias, apesar do fracasso na negociação, parecia inicialmente mostrar mais vontade de permanecer. Diferentemente de Gabigol, o projeto do volante àquela altura não era o de se provar num grande clube da Europa. Elias inclusive recusou uma oferta de um clube chinês que o Sporting tinha aceitado. Já Gabigol sempre foi evasivo nas entrevistas sobre o seu desejo de permanecer ou sair do Flamengo, e o acerto salarial com o jogador parece o maior entrave para a negociação, mas também pode ser uma estratégia para ganhar tempo enquanto espera propostas de grandes clubes europeus até o fechamento da janela.
Concorrência
Atualmente, não existe outro clube brasileiro capaz de fazer frente ao Flamengo na briga pelos direitos econômicos de Gabigol. Em 2014, havia a concorrência do Corinthians — clube pelo qual Elias já havia jogado e do qual é declaradamente torcedor. Tanto que, uma vez fracassadas as negociações com o Flamengo, o volante acabou voltando para o clube paulista. Mas fora a proposta chinesa, que não atraiu o jogador, não havia concorrentes fora do Brasil. A temporada de Elias foi boa, mas não teve o destaque e os números espetaculares de Gabigol. O atacante certamente tem mercado na Europa — a questão é se esse mercado está à altura das suas ambições. Nos últimos dias, surgiu a especulação de um interesse do Chelsea, o que significaria um desafio muito grande para a permanência do artilheiro no Flamengo caso se concretize.
Negociações
Em 2014, a estratégia de negociação do Flamengo foi alvo de muitas críticas. Nem o então vice-presidente de Futebol Wallim Vasconcelos, nem nenhum outro dirigente rubro-negro viajou a Portugal para tratar pessoalmente das negociações com o Sporting, que foram delegadas a seu Eliseu, pai e empresário de Elias. Desta vez, ainda não há notícia de que o Flamengo tenha tido negociações pessoais com a Inter, porém o vice-presidente de Futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel já viajaram em outras ocasiões para a Europa para tratar de contratações para o Flamengo e mostraram saber operar o mercado com êxito em várias contratações. A expectativa é que, se as negociações fracassarem, não será por falta de esforço dos dirigentes rubro-negros.
Reposição
Em 2014, o Flamengo insistiu na contratação de Elias até o último dia da janela de transferências. Como resultado, não repôs a saída do jogador a tempo de inscrever um novo volante na Libertadores — jogou a competição com Muralha, jogador da base que voltava de empréstimo e nunca mostrou muito como profissional, de titular. Quando enfim contratou um volante, o escolhido foi Márcio Araújo, longe de manter o padrão de qualidade de Elias. Para piorar, o time ainda perdeu ao mesmo tempo, por um imbróglio jurídico, Luiz Antônio, o outro volante titular na conquista da Copa do Brasil. O resultado foi uma eliminação na primeira fase da Libertadores. Este ano, o Flamengo indica que não esperará por Gabigol até o último momento, justamente para poder investir em uma peça de reposição. E, se esse for o caso, a situação financeira e o retrospecto das contratações em 2019 indica que, quando fizé-lo, trará um jogador de um nível ao menos similar do artilheiro do Brasil na última temporada.
Promessa
Uma diferença final: apesar do clube estar em uma situação muito melhor, em nenhum momento algum dirigente garantiu a torcida que Gabigol permaneceria. Em 2013, dirigentes rubro-negros asseguraram que o dinheiro da renda da final da Copa do Brasil seria usado para pagar a permanência de Elias, o que justificaria o alto valor cobrado pelos ingressos — a renda de mais de 9 milhões é até hoje a maior do Flamengo na história do Maracanã. Quando Elias não foi contratado, o torcedor naturalmente se sentiu enganado.
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