No último domingo (05) foi realizado no Brasil todo o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Durante cinco horas e meia, candidatos de todo o Brasil responderam questões de Linguagens, Redação e Ciências Humanas. Neste último, uma questão chamou a atenção dos amantes de futebol, relacionando Flamengo, Fluminense e racismo.
O gabarito oficial da prova ainda não saiu. Porém, ao que tudo indica, a resposta da questão está na letra C. Isso desencadeou novos debates sobre o uso do termo.
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“Mulambo” chegou ao vocabulário brasileiro através da descrição de um pedaço de pano usado por algumas tribos africanas na cintura. Com o passar dos anos, passou a se referir a farrapos ou pedaços de pano sujos.
Usados geralmente pelas populações pobres e escravizadas do Brasil colônia. Não demorou para se tornar uma ofensa destinada a pessoas mal arrumadas, esfarrapadas ou mal vestidas para os padrões da época.
Com a popularização do Flamengo e a formação de sua torcida, rivais passaram a usar o termo como forma de ofensa, presente até hoje como no exemplo citado na questão.
De uns anos para cá, as redes sociais viraram palco de debates simplistas e revisionistas do termo. O objetivo parece muito claro: muitas pessoas cresceram se referindo à flamenguistas assim e não querem mudar.
Designação racista não é factoide; é fato
A solução é criar factoides e distorções com objetivo de afastar a designação racista da expressão. Sem falar dos que reduzem o debate como “lacração”, “mimimi”, “cultura woke” e qualquer outra bobagem que seja.
Isso é bastante prejudicial para a discussão sobre a história dos clubes, uma vez que muitos torcedores gostam de criar a ideia romântica de que seus clubes ou torcida possuem uma história absolutamente ilibada e que jamais se manifestaram de forma preconceituosa. Isso faz com que as redes sociais virem campos de batalha de discussões rasas e negacionistas.
Por outro lado, é preciso reconhecer os esforços dos que entendem o problema e buscam abolir o termo (junto de outras formas de preconceito) das arquibancadas e dos demais meios de sociabilidade dos clubes. Construir o futebol sem racismo, homofobia, machismo e demais formas de preconceito deve ser pauta fundamental para todos os clubes, inclusive o próprio Flamengo.
É sempre necessário compreender que os grandes clubes de futebol são instituições centenárias, e, portanto, absolutamente complexos. É impossível classificá-los como algo específico, uma vez que esses são geridos por pessoas, e todas as pessoas são influenciadas pelo seu tempo.
O Enem 2023 trouxe uma grande contribuição ao debate sobre o uso do termo “mulambo”; então cabe aos nossos rivais compreender a dimensão dessa ofensa e o abolir de vez de suas vozes e cânticos.
Marcos Paulo Neves é professor e historiador formado pela UNIRIO. Apaixonado por futebol e pelo Clube de Regatas do Flamengo, procura falar sobre futebol, política e história de maneira clara e não revisionista.
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