O Flamengo vive hoje um dos momentos mais divisivos da sua história recente. Se você ler os jornais, tem gente defendendo Paulo Sousa e gente pedindo a demissão de Paulo Sousa. Se você entrar no Twitter tem gente defendendo a venda de Gabigol e gente defendendo um contrato vitalício para Gabigol.
Se você for ao Maracanã, você vai encontrar torcedores que preferem Matheuzinho, torcedores que defendem Rodinei e ao menos uma pessoa, desenganada pelos médicos e abandonada pela família, que ainda acredita que Isla vai resolver o lado direito do Flamengo. Não discuta com ela, não vai adiantar.
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As unanimidades, obviamente, são poucas. Arrascaeta é um gênio tão brilhante que mesmo quando erra acerta, mesmo quando perde a bola municia o ataque, mesmo quando o torcedor sai de casa armado pra protestar acaba fazendo um cafuné no uruguaio. João Gomes une a aura protetora do craque que o Flamengo faz em casa com uma disposição sobre-humana e um contexto em que está competindo com Arão e Andreas, dois jogadores cujas almas já abandonaram esse plano terreno.
Mas se tem um jogador que é questionado, cobrado, criticado, e a torcida já deveria ter aprendido a demonstrar mais confiança, paciência e compreensão, este jogador é, sem dúvidas, Everton Ribeiro.
Primeiro porque, ao contrário da empresa que realizou seu mais recente implante de cabelo, Everton é excelente no que faz. Seja no Cruzeiro, seja no futebol árabe, seja no seu período com a camisa rubro-negra, Everton Ribeiro é não apenas absurdo na técnica como também quase sempre muito intenso na disposição, mostrando que a dicotomia entre inspiração e transpiração é muito mais uma desculpa de nerd pra não fazer atividade física do que um conflito conceitual real.
E depois porque desde sua primeira partida com a camisa rubro-negra, desde sua primeira temporada defendendo as cores da Gávea, o meia-atacante tem números, resultados, títulos e gols que deveriam garantir a ele muito mais respeito do que a torcida tem demonstrado. Everton já viveu altos e baixos, já esteve abaixo das expectativas, já foi, durante vários períodos, um jogador aquém do esperado? Certamente. Mas Everton em algum momento se omitiu, fez corpo mole, deixou de representar, dentro de campo, o que se espera de um jogador que veste o manto rubro-negro? Absolutamente nenhuma vez.
Então a vitória de hoje por 3×1 sobre o Talleres, mais do que ser lembrada como mais uma partida irregular em que o Flamengo poderia tranquilamente ter decidido o jogo no primeiro tempo mas preferiu tentar complicar ao máximo e usar seu banco de reservas como maneira de reforçar o adversário, precisa ser lembrada como mais uma das noites em que, ele, Everton Ribeiro, decidiu brilhar a favor do Flamengo.
Porque sim, Everton Ribeiro, com dois gols, foi decisivo – e de maneira positiva, não da maneira que, por exemplo, Arão, Rodinei e Leo Pereira seguem sendo decisivos – e garantiu 100% de aproveitamento para o Flamengo nas duas primeiras rodadas da Libertadores da América. Mas ele também nos lembrou a sorte e o privilégio que é ter um dos maiores jogadores brasileiros da atualidade vestindo a camisa rubro-negra. Não vamos, por favor, esquecer a diferença que isso faz.
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