As equipes entraram espelhadas taticamente num 4-2-3-1. E essa foi a única semelhança entre elas. O Cruzeiro dava a posse de bola aos donos da casa, aguardando uma oportunidade de explorar a velocidade de Alisson. O Flamengo tinha a pelota. E chegou mais ao gol de Fábio. Especialmente em tiros de longa distância. Contudo, o time voltou a abusar dos cruzamentos para a área. Não aqueles feitos da linha de fundo. E sim os que servem para dar uma satisfação a torcida. Aquele que acontece quando o jogador não tem mais ideia do que vai fazer e centra da intermediária para pelo menos dizer que tentou. Por uma dessas ironias que só o futebol pode proporcionar, o primeiro gol nasceu de um desses centros. Renê mandou na área uma bola baixa, longe da zona de perigo. Vizeu ajeitou de cabeça e Éverton finalizou muito bem para fazer um a zero. Resultado justo pelo que as duas equipes produziram.
A Raposa voltou do intervalo com Rafael Sóbis no lugar do seu xará Marques. Mas continuou sem conseguir prender a bola na frente. Apesar da postura mais adiantada e pressionando mais o Fla. Novamente, os anfitriões recuaram demais. Pior. Não tinham saída para o contra-ataque. Ao menos dessa vez não houve falha individual que comprometesse o sistema defensivo e o resultado.
Mano Menezes tentou colocar ainda mais velocidade com as entradas de Elber e Jonata nos lugares de Alisson e Robinho. Com o Mengo bem postado atrás, não assustou. Reinaldo Rueda demorou a mexer. Só aos 34 sacou Lucas Paquetá (que mais uma vez fez um bom jogo, dessa vez atuando como meia central) e pôs Vinícius Júnior. Pronto. Era a velocidade, a válvula de escape que o time precisava para respirar um pouco.
A joia rubro-negra não foi brilhante. Longe disso. Contudo, quanto mais o Cruzeiro se lançava a frente conforme a partida ia chegando ao fim, mais ele ia ficando no mano a mano com a marcação. Já nos acréscimos, quando nenhum torcedor conseguia respirar aliviado, Éverton fez ótimo lançamento. A equipe mineira estava toda adiantada. Vinícius entrou e ganhou da marcação em velocidade como se fosse um Bolt correndo contra um lutador de sumô. E com categoria tocou na saída de Fábio. Dois a zero. Estava resolvida a parada.
Para o Cruzeiro, nada muda. Até o fim do ano Mano irá usar as partidas que faltam como avaliação do elenco e consolidação de sua ideia tática. Um amadurecimento do sistema de jogo para o ano que vem. Sem pressão por resultados ou conquistas.
Por outro lado, foram três pontos muito importantes para o Flamengo. Que com os tropeços de alguns rivais que estão à sua frente, pode voltar a sonhar com a vaga para a fase de grupos da Libertadores do ano que vem. Apesar dos desfalques. Do elenco super valorizado. E da demora do treinador em mexer no time e até mesmo em firmar no time titular alguns jovens que estão pedindo passagem. A sequência é dura. Mas dá pra chegar lá.
Veja a análise de Gustavo Roman em vídeo:
Gustavo Roman é jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros “No campo e na moral – Flamengo campeão brasileiro de 1987”, “Sarriá 82 – O que faltou ao futebol-arte?” e “150 Curiosidades das Copas do Mundo”. Também escreve para o Blog do Mauro Beting.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo