Junto com “são onze contra onze”, “só acaba quando termina” e “treino é treino, jogo é jogo”, é possível dizer que “2×0 é um placar perigoso” figura entre os maiores clichês da história do futebol.
Mas da mesma maneira que realmente são onze contra onze, factualmente só acaba quando termina e com certeza treino e jogo são duas situações absolutamente diferentes, a verdade é que 2×0 é mesmo um placar muito perigoso, ainda mais para o Flamengo, ainda mais diante do Bolívar.
Betsul 5 de 5 |
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Mas primeiro é preciso analisar como esse placar foi construído, numa partida absolutamente abaixo do esperado, em que um Flamengo muito superior mas profundamente afobado, encontrou um adversário que veio da altitude para tocar flauta boliviana e sentar a porrada, porém esqueceu a flauta boliviana no aeroporto.
➕ JOÃO LUIS JR.: Sob o domínio do medo (de vencer)
A equipe rubro-negra tinha mais posse de bola, criava as melhores oportunidades, mas sempre cometia aquele erro crucial, aquele vacilo crítico, aquela bobeira no chamado último passe – outro clichê, já que, se você for pensar, todo passe que você erra acaba se tornando, inevitavelmente, o último.
E essa foi a situação até os 30 minutos do primeiro tempo, com um Flamengo que pressionava mas não conseguia balançar as redes, até que Pedro deixou na cara do gol o maluquinho Luiz Araújo, que abriu o placar a criou na torcida rubro-negra a esperança de que finalmente o time deslancharia na partida. Expectativa que obviamente foi frustrada.
Porque não só Pedro se machucou, sendo substituído por Gabigol – que no segundo tempo teve basicamente a mesma lesão, o que indica que talvez seja menos uma questão de preparação física e mais algum tipo de maldição – como no segundo tempo o Flamengo voltou a cercar, criar, mas se mostrar incapaz de balançar as redes.
Foram inúmeros cruzamentos, incontáveis passes trocados, diversas bolas recuadas para o goleiro Rossi, mas até os 44 minutos do segundo tempo o Flamengo não só não tinha conseguido ampliar o placar como ainda havia quase tomado o gol de empate, em uma jogada bizarra que terminou com a cabeçada do jogador boliviano batendo na trave, preservando a vantagem rubro-negra.
Até que, quando o torcedor rubro-negro já havia visto uma coleção de chuveirinhos que humilharia qualquer catálogo da Lorenzetti, um cruzamento finalmente funcionou e Léo Pereira, de cabeça, ampliou o placar, garantindo o 2×0 e deixando o rubro-negro com algo além da vantagem mínima para o jogo de volta.
Mas vai ser o bastante? Diante de uma altitude cruel e de alguns jogadores que já não parecem capazes de ter uma oxigenação cerebral normal mesmo no nível do mar? Com um time incapaz de se defender das bolas altas mesmo diante da gravidade padrão do Rio de Janeiro? A verdade é que, para chegar até La Paz com algum nível de tranquilidade, o Flamengo precisava sim ter feito mais do que isso nesta quarta-feira, quando dominou totalmente os bolivianos no Maracanã.
E como não fez, agora vai precisar, na próxima semana, se esforçar bem mais. Porque qualidade nós temos, time nós temos. Mas diante da pressão boliviana e da importante partida contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro, nós vamos precisar ter também coragem e inteligência. E esse dois artigos, infelizmente, tem estado em falta.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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