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O Especial “Personagens do Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.

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Se o futebol brasileiro seguisse o costume das ligas americanas de aposentar camisas de jogadores, Gabigol teria feito mais que o suficiente para fazer o Flamengo nunca mais jogar com a camisa 9. Não é necessária nenhuma estatística além dos gols dos títulos em duas finais da Libertadores de um clube que até então só havia ganho uma.

Os clubes brasileiros não aposentam camisas, mas o próprio Gabigol decidiu guardar a 9 para sempre – ou cedê-la a Pedro – e assumir o desafio de vestir a mais histórica das camisas rubro-negras, a 10 de Zico. E começou a escrever um novo capítulo da sua história com um início turbulento.

Além da nova camisa, Gabigol viveu alguns outros papéis inéditos no primeiro semestre. O de reserva em alguns momentos, já que nem Vitor Pereira nem Jorge Sampaoli conseguiram seguir a receita apontada por Dorival Júnior para juntá-lo com Pedro no mesmo ataque. No momento, os dois parecem brigar por uma só vaga. Pedro, ao menos em gols, foi mais eficiente na primeira metade do ano, sendo um dos artilheiros do Brasil na temporada com 25 gols, marca mais goleadora no Flamengo desde o histórico segundo semestre de 2019 de Gabigol.

Outro papel raro que Gabigol desempenhou foi o de deixar de ser infalível na sua assinatura, as cobranças de pênalti. Viu o goleiro do Volta Redonda ser o primeiro a defender uma cobrança sua pelo Flamengo e parou na trave contra o Cruzeiro. Com a bola rolando, enfrentou o maior jejum com a camisa do Flamengo. Foram dez jogos sem marcar, uma raridade que não se resumiu a grandes chances perdidas mas a más atuações e pouca participação em algumas partidas.

Atacante continua atingindo marcas históricas

Assim, Gabigol também virou um papel raro de ser alvo de vaias e cobranças da torcida que o idolatra. Posou sem camisa nas redes sociais para negar que tenha ganhado peso e bateu boca com torcedores. Como a maioria do elenco, andou frequentando o departamento médico e tendo lesões misteriosas e mal explicadas.

Gabigol comemora o gol em Palmeiras 4x3 Flamengo pela Supercopa do Brasil 2023
O torcedor rubro-negro que sabe que, desde 2019, “Gabigol tá pedindo” para ficar marcado como um dos maiores jogadores da história do clube. Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Foi protagonista de um enredo de novela sobre um suposto racha no elenco com o grupo de David Luiz, e desmentiu em uma entrevista mostrando que não perdeu o talento para dar declarações de efeito. “A gente sabe que tem muita gente que fala um monte de merda, desculpa o palavreado. Vocês da imprensa criam umas coisas para a torcida e a torcida vem para o Maracanã com um pouco de dúvida. Isso nunca aconteceu no clube”, disse ele após decidir o último Fla x Flu, válido pelo Campeonato Brasileiro.

Mas como com a 9 ou a 10 Gabigol segue sendo Gabigol, mesmo esse primeiro semestre complicado não deixou de ser marcado por novos feitos históricos. Gabigol se tornou o primeiro jogador do século XXI a entrar para a lista dos 10 maiores artilheiros da história do Flamengo e está a 1 gol da mais seleta marca de 150. Na Libertadores, se tornou o maior goleador entre os brasileiros na História.

Marcou o gol da classificação na Copa do Brasil contra o Fluminense no jogo que pode ter marcado a virada na temporada. Repetiu o feito contra o Athletico-PR. E mesmo perdendo o status de titular indiscutível com a disputa de posição com Pedro, está entre os jogadores do elenco que mais minutos esteve em campo na temporada, ao lado dos destaques Ayrton Lucas e Fabrício Bruno.

Na estreia do podcast do seu antecessor com a camisa 10, Diego Ribas, Gabigol abriu o jogo sobre a sua turbulenta relação com a torcida. Disse que sonha em encerrar a carreira no clube, mas que, se perceber um dia que não é mais querido, não terá problemas de sair. Apesar de alguns desentendimentos, esse dia ainda está longe para a torcida do Flamengo.

Mas com a volta do “monstro” Bruno Henrique, a continuidade do faro artilheiro de Pedro, Cebolinha começando a fazer gols e como um dos principais assistentes do Flamengo no ano e com Luís Araújo se tornando mais uma opção no ataque, o Gabigol camisa 10 terá que lembrar mais o camisa 9 se quiser continuar sendo – ou voltar a ser – o “dono” do time do Flamengo. 

O torcedor rubro-negro que sabe que, desde 2019, “Gabigol tá pedindo” para ficar marcado como um dos maiores jogadores da história do clube não ousa duvidar e espera, quem sabe, terminar o ano vendo o artilheiro marcar, no Maracanã, o gol de mais um título da Libertadores.

Quero ficar bastante tempo no Flamengo, se possível. Mas estou falando hoje. É o que eu quero hoje. Mas, se chegar um dia em que a sintonia não estiver batendo com a torcida, com o time, com as pessoas que estão lá, eu não tenho problema em mudar (de clube). Às vezes a torcida dá uma viajada.

Gabigol, em entrevista ao podcast de Diego Ribas

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