Como que vai ser depois de tudo isso? De quais formas iremos nos organizar? O que deixamos no passado e o que ergueremos no futuro?
Por André Café
O coronavírus é o assunto que centraliza quase todas discussões do momento no país. Aqui de casa, com quase um mês entre cozinhar, escrever a dissertação de mestrado, rever gols e jogos do Flamengo – o que faz a saudade bater forte no meu peito rubro-negro, imaginando “como será o amanhã” com mais gols e vitórias inéditas –, surge a questão do vírus, num complexo de sentimentos e reflexões sobre a situação atual do mundo em relação à pandemia.
Como que vai ser depois de tudo isso? De quais formas iremos nos organizar? O que deixamos no passado e o que ergueremos no futuro? E claro, com a garganta seca, pela falta dos gritos de amor ou raiva, no rosto áspero, sem as lágrimas de glórias e tristezas: como será o futebol? A priori, não dá pra afirmar ainda o que exatamente vai acontecer. Mas a nossa mente não para.
Junto a isso, li duas notícias esta semana que colocaram mais fogo na caldeira de pensamentos: clubes alemães voltaram a treinar, ainda que em caráter de isolamento, e a FERJ, com o apoio dos principais times do Rio, tende a retomar o Campeonato Carioca, sem público presente, no mês de maio. Decisão que pode ser acompanhada no âmbito das competições nacionais e internacionais. No mesmo compasso que o coração pulula pela chance de ver o Flamengo novamente, a cabeça borbulha com a questão da pandemia, o que me fez inferir e chegar a alguns pontos.
Primeiro, para quem tem ou não tem fé, crença ou religião, milhões de nós estamos implorando a São Judas Tadeu por um milagre: que retornem as alegrias de quartas ou quintas, de sábados ou domingos. Que voltem os dias de se preparar ritos, simpatias, costumes, de sentar naquela mesma cadeira daquele jogo do título, usar a mesma camisa que usei naquela final, de sentir a vibração ao redor do Maracanã ou a expectativa da transmissão de TV, do tremor e da consonância da torcida em êxtase ou da cerveja que cai no sofá e no chão das salas de casa, em cada lance de emoção. A nossa saudade não cabe neste hemisfério, é maior que a distância de ida e volta da Terra ao Sol.
Saudade da conexão magnética que existe entre nós da Nação com nossa esquadra rubro-negra, que vem com raça, com amor e paixão em cada exibição. Poder ver nosso Flamengo é tudo que queremos. Entretanto, conjunção adversativa mais dolorosa possível, como segundo ponto, os contratempos: e os estádios vazios? Não falo de uma ou outra partida, mas, a partir da tendência do isolamento perdurar por mais tempo. Não sejamos levianos ou irresponsáveis, sigamos as indicações das autoridades médicas que ainda apontam a quarentena como forma mais contundente para conter a contaminação – e os jogos permanecerem sem o real contato do Flamengo com a gente.
Sem falar de alguns esboços que versam sobre o mundo ter que reconfigurar seus espaços, seus modos de interação, sobretudo no que tange as aglomerações. Ser da Nação é nosso orgulho identitário, lotar, em qualquer lugar que o Flamengo estará, é nossa sina, pular, abraçar desconhecidos grandes amigos, pular junto, fazer frevo, botar pra ferver, casa cheia. Como faremos?
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E, principalmente, com certeza o mais importante: a saúde das e dos trabalhadores do Flamengo, dos estádios, dos adversários. Como proceder, o que pensar sobre a exposição do nosso time? É a hora que colocamos tudo na balança. E ela deve ser justa. Há quem especule: defender um pouco mais de espera é amar menos o Flamengo? A nossa saudade é o termômetro, então com certeza os riscos estão calculados e podemos ficar tranquilas e tranquilos em relação a um possível retorno em maio?
Lembrando também que, do ponto de vista econômico, tanto o Flamengo como os outros clubes e federações estão perdendo. Émerson Sheik já filosofara com o “não existe almoço grátis”. Patrocínios sem exposição se retiram enquanto as obrigações e os credores chegam todo mês. Como operacionalizar e gerir tudo isso? Além do ponto da gestão, a mente me provoca a pensar em mais. Talvez, toda esta situação poderia ser a oportunidade de se debater sobre como o mercado do futebol está inflacionado. Como valores, tanto de salário – e aqui não é dizendo que jogadores não mereçam bons vencimentos –, do acesso aos produtos e aos jogos, do futebol como um todo. Fico imaginando, na sequência dos anos, como o Flamengo e os outros times brasileiros conseguirão cumprir com os custos e gastos inerentes do mercado futebolístico para se manter sempre no topo, como a pandemia afetará e o que isso significará para cada rubro-negra e rubro-negro de nossa Nação.
Um vírus, uma existência invisível, mas que provoca efeitos em todas as esferas da sociedade, com rebatimentos no futebol, em pontos diretos e indiretos. Não desejo ficar tanto tempo sem ver o Flamengo jogar. Mas desejo com mais veemência, que consigamos conter a pandemia e superá-la, passando o tempo que for preciso, torcendo pela produção científica e as repostas que ela nos oferecerá. Enquanto isso, o amor rubro-negro não cessa, aumenta mais e mais. E com a certeza desse amor de cada casa das milhões de pessoas que compõem a Nação, como células que materializam um organismo, o Flamengo, minhas amigas e meus amigos, nunca findará.
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