Usado como exemplo de um programa de sócio-torcedor de sucesso na gestão Eduardo Bandeira de Mello, o Benfica volta a ser modelo para o Flamengo. Agora, o clube português é exemplo do que eventualmente poderia ser uma SAF do Flamengo.
As SADs (Sociedades Anônimas de Desporto) de Portugal são uma das inspirações para a Lei das SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol). O ex-CEO do Flamengo Fred Luz, que se inspirava no modelo do Benfica, foi um dos assessores do senador Carlos Portinho (PL-RJ) na relatoria da lei.
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O modelo das SADs existe desde 2000 e é obrigatório desde 2013. Ele permitiu que o Benfica, bem como Porto e Sporting, conseguisse investidores externos sem abrir mão do controle sobre o futebol.
O presidente Rodolfo Landim defendeu que o Flamengo deveria estudar a oportunidade de se tornar SAF, mas mantendo 70% das ações sob comando do clube. Isso é diferente de outros clubes brasileiros, que cederam o controle do seu futebol para virarem SAFs.
Clube mantém controle do futebol
No caso do Benfica, o clube é detentor de 63,5% das ações da SAD. O restante é dividido entre vários investidores e acionistas, nenhum com mais de 10%. Isso permite que o clube continue à frente das decisões estratégicas sobre seu futuro.
As ações do clube são as únicas da categoria A. Elas conferem ao Benfica os direitos de veto sobre fusão, cisão ou dissolução da SAD e a designação de um dos membros do Conselho de Administração.
Em 2007, o Benfica barrou uma tentativa de aquisição da maioria das ações por um empresário português. O clube considerou “questão de honra” manter o controle do futebol.
Como outros clubes portugueses, o Benfica usou a lei das SADs para abrir seu capital na Bolsa de Valores. Parte do seu controle, portanto, está pulverizada entre vários acionistas. Esse é um caminho possível pela Lei das SAFs, mas não é estudado pelo Flamengo.
Sob a SAD, o Benfica conseguiu se posicionar entre os 25 clubes mais ricos da Europa, apesar de vir de um mercado pequeno como Portugal. O clube também multiplicou seu número de sócios, superando 250 mil em um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes.
Nesta terça-feira, o Benfica se garantiu entre os oito melhores times da Europa na temporada ao superar o Brugge, da Bélgica, e se classificar para as quartas de final da Champions League.
Investigação expõe riscos da SAF
Se pelo lado positivo o Benfica volta a ser modelo para o Flamengo, o clube português, contudo, também é sinal de alerta dos riscos da SAF. Atualmente, vários ex-dirigentes são investigados por corrupção e manipulação de resultados. Entre eles, Luís Felipe Vieira, presidente do clube por 18 anos e maior acionista individual da SAD.
Entre os alvos da investigação, está a venda do Estádio da Luz e da TV Benfica pela SAD ao clube em 2019, por mais de 100 milhões de euros.
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O Benfica não é a única SAD a ter problema em Portugal. O Porto sofreu punições da UEFA por descumprir o fair play financeiro com constantes prejuízos. Atualmente, o clube encontra-se na mira da federação europeia. A equipe precisa cumprir metas estritas de controle de despesas para não voltar a ser punida.
Já clubes menores, como o Belenenses, lutam na Justiça com a finalidade de se desvincular de sua SAD e impedi-la de usar as cores e a marca do clube.
Especialista deu alerta
“Qualquer pessoa ou empresa pode comprar a maioria do capital de uma SAD: não existe sequer uma apreciação dos administradores, verificação do seu conflito de interesses, registro criminal. Qualquer criminoso internacional pode ser administrador ou proprietário de uma sociedade desportiva em Portugal”, alertou em 2018 o especialista em direito desportivo português Fernando Veiga Gomes.
Um dos atrativos para um investidor aceitar aportar recursos no Flamengo sem participar do controle do futebol seria a possibilidade de revender sua parcela por um valor maior. O Flamengo teria que se blindar no acordo de criação da SAF com o intuito de garantir que parte do clube não caísse nas mãos de investidores nebulosos.