Assim como naqueles filmes de gangster em que um vilão engana o outro vilão e mesmo o mocinho tem uma ficha corrida do tamanho do braço de um homem adulto, o futebol é um daqueles ambientes onde é complicado saber quem está do lado certo. Amamos os times mas duvidamos das instituições, torcemos pela seleção brasileira mas não confiamos na CBF, esperamos ansiosos pela Copa do Mundo mas sabemos que a diferença entre a FIFA e uma facção criminosa é que a facção criminosa jamais teria coragem de mexer na fórmula com 32 equipes porque ia considerar que isso é ir longe demais.
Mas mesmo diante disso, diante de todos os tons de cinza que existem no mundo do futebol e de todos os jogos de bastidores, bem mais sujos e violentos do que uma disputa de bola entre Felipe Melo e Materazzi num campo mal iluminado cheio de minas terrestres e com a grama substituída por facas, uma das coisas que eu mais gosto da atual gestão rubro-negra é a sensação de que ela, após anos e anos de bagunça, está trazendo de volta ao Flamengo o que eu chamaria de “senso de honestidade”.
São algumas pequenas grandes coisas. O clube pagar em dia, o que eu considero importante não apenas como símbolo de organização de finanças mas também pelo aspecto moral, já que só quando clube cumpre suas obrigações ele pode cobrar seus atletas, livrando a torcida de ouvir coisas como o “ Flamengo finge que me paga e eu finjo que jogo”, dito por Vampeta e que resume tão bem a passagem de vários jogadores pela Gávea.
O clube em dia com seus impostos, ou ao menos tentando ativamente buscar formas de lidar com suas obrigações fiscais, o que reflete a necessidade da instituição Flamengo de ser responsável com a sociedade e aumenta a credibilidade da organização não apenas com o mercado mas com o poder público como um todo – é bem mais complicado se mostrar um parceiro útil para a comunidade e o governo quando você está sonegando impostos na loucura.
Por isso, diante de situações como a negociação com a FERJ, uma instituição tão desorganizada que faz uma briga dentro de ônibus parecer o conselho diretor do Google e tão corrupta que faz o congresso nacional parecer um bingo de quermesse, a minha tendência é sempre acreditar que a diretoria está tentando, dentro do possível, defender os interesses do clube da maneira mais honesta que conseguir.
Mais do que organizar campeonatos ou garantir os direitos do clubes pequenos, as federações estaduais hoje parecem viver para chantagear os grandes e financiar seus próprios dirigentes, sendo uma atitude corajosa e lucrativa para o Flamengo peitar a FERJ e lutar pelos seus próprios direitos.
A batalha para reestruturar o futebol brasileiro, que possivelmente passa por uma liga de clubes, pela redução do poder tanto das federações estaduais quanto da CBF e por um sistema de consequências que exija dos times um mínimo de saúde financeira, com certeza será longa e árdua. E ainda que você nunca possa confiar 100% num dirigente de futebol ou considerar que sabe o que está acontecendo num ambiente tão complexo quanto a diretoria de um clube como o Flamengo, é uma sensação positiva pensar que depois de tento tempo não estamos mais na contramão da história, mas sim na direção certa, sendo não uma referência de bagunça mas uma referência de gestão e organização. É um papel complicado, um papel trabalhoso, mas, com toda sinceridade, é o papel que o Flamengo sempre deveria ter.
João Luis Jr. é blogueiro do MRN e também escreve no blog Isso Aqui É Flamengo, do ESPN FC.
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