Quem errou no gol do atacante esmeraldino Michael? O blog esmiúça o lance que decretou o fim da sequência de vitórias do Fla no Brasileirão
Já fizeram todo tipo de análise buscando quem foi o culpado pelo segundo gol do Goiás. Já apontaram para Rodinei, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Gerson…
O próprio Filipe Luís falou em erro coletivo.
Vamos lá: por que Michael apareceu livre?
As análises partem apenas dessa imagem. Ela mostra algumas coisas importantes:
1- Rafael Vaz tem a bola completamente sozinho (lembra da bola descoberta?)
2- Filipe Luís totalmente fora da linha dá condição
3- Há um espaço entre Rodinei e RC e outro entre RC e Marí.
Tudo isso é verdade – e fez a diferença no lance -, mas a chave para entender a jogada está em Arão. O que ele faz ali? Como chegou ali? Quais são as consequências disso?
Precisamos rebobinar a fita…
É fundamental entender como o Flamengo se defende e qual era a ideia no momento.
Depois da expulsão de César, o Flamengo se montou num 4-4-1, mantendo a sua ideia de defender pressionar a bola na saída e manter o perigo longe do próprio gol.
E assim foi.
Porém, com um a menos, a marcação-pressão ficou prejudicada. Os encaixes ficaram soltos e Gabriel corria feito barata tonta na frente, sem conseguir bloquear os passes.
O Goiás saía com mais facilidade e ensaiava uma pressão. O Flamengo foi ao ataque e Filipe Luís tomou uma mãozada na cara. Ficou caído brevemente. Um jogador esmeraldino descontrolado ainda foi tirar satisfação e acabou rendendo um cartão para Gabigol.
Sem Filipe Luís lá atrás, Arão foi momentaneamente para a lateral esquerda, cobrir o companheiro. É aquela variação SITUACIONAL que já falamos aqui.
Com isso, o time ficou alguns segundos numa espécie de 4-3-1 e então o meio-campo achou melhor correr para trás e manter o time compacto, em vez de se adiantar para apertar a saída de bola do Goiás.
O Goiás reiniciou o jogo rápido e saiu jogando pelo meio.
Havia cinco jogadores saindo com a bola e apenas Gabigol no meio deles. Não tinha nem como fazer pressão.
Filipe Luís aparece correndo em disparada pela esquerda, voltando à sua posição.
Gerson e BH andam para trás.
Em condições normais, Gerson estaria colado em Vaz, Gabigol pressionaria a bola apoiado por Bruno Henrique e Arão já estaria colado no meia que tentava escapar por dentro.
Mas aquelas não eram condições normais…
Piris está ocupado por Thalles, que se movimenta bem. BH não marca ninguém, mas precisa proteger aquele lado do campo, pois está sozinho na esquerda. Com isso, Gerson fica na dúvida se pressiona a bola ou fecha Rafael Vaz.
Filipe Luís está terminando sua peregrinação.
A jogada se define pela esquerda e algumas coisas acontecem.
O time perdeu compactação. A defesa andou para trás mais rápido que o meio.
Arão está olhando para Filipe Luís, trocando a marcação, e já pensa em ocupar o espaço vazio.
Rodrigo Caio dá um passo à frente para encurtar.
É nessa fração de segundos que tudo desmorona. Rafael Vaz nem domina, dá o passe de primeira.
Arão ainda não ocupou o espaço no meio. O resto da defesa acompanhou Rodrigo Caio, mas Filipe Luís ainda está concentrado na sua volta, no seu marcador. Michael vai sair na cara do gol.
Talvez, se já estivesse mais adiantada ainda, fechando o espaço atrás do meio-campo, seria melhor. É importante também notar como o Goiás criou as condições e se aproveitou bem de uma janela de oportunidade de meio segundo.
Ao colocar quatro atacantes espetados, criou uma situação de mano-a-mano- desconfortável para a defesa do Flamengo.
Além disso, a movimentação de Thalles pelo meio fez com que Rafael Vaz ficasse livre.
O passe de primeira não era trivial! A movimentação de Michael, acelerando para atacar o espaço exatamente no momento em que Rodrigo Caio deu um passo à frente, também foi excelente.
Por fim, um bocado de sorte: o ponta direita goiano não percebe a movimentação da defesa rubro-negra e fica completamente impedido, mas “pesca” Filipe Luís, que voltava correndo e ainda não estava posicionado.
Não deixa de ser irônico que o Flamengo tenha levado outro gol importante com Filipe Luís caído no ataque, assim como foi contra o Grêmio em Porto Alegre.
Coisas da vida… Não existe futebol estático. Com isso, não costuma ser muito útil analisar apenas um frame. O futebol é vivo. Nele, assim como na vida, um comportamento condiciona o outro. Nada é por acaso.
Precisamos sempre colocar a culpa em alguém. É uma necessidade social. Apontar o dedo nos deixa mais tranquilos. Parece que encontrar culpados ameniza a nossa dor e, de alguma forma, lá dentro da gente, muda o resultado. Tudo fica mais fácil.
De fato, todos aqueles que foram criticados têm alguma culpa no cartório. Futebol se faz, também, em erros. Os italianos diziam que o jogo perfeito seria 0x0.
Mas precisamos entender que jogar o jogo é muito difícil. Às vezes tudo se define em uma fração de segundos.
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