Do goleiro ao centroavante, passando pelo técnico Gallardo e suas armas do banco, uma análise dos jogadores do River Plate
Para além de todas as comparações sobre formação e estilo entre os dois finalistas, há também comparações entre os jogadores. De fato, há similaridades entre os elencos de River e Flamengo.
Vamos conhecer os Millonarios em detalhes!
O “11 ideal” do River hoje é montado no 4-1-3-2 (ou M-W, como explicado na PARTE 1)
Há variações táticas possíveis – que vamos explorar mais pra frente -, mas uma coisa se mantém: um time de muita pegada e habilidade.
No gol, Franco Armani, de 33 anos. Chegou ao River Plate no ano passado depois de oito temporadas no Atlético Nacional da Colômbia, onde venceu seis campeonatos nacionais e uma Libertadores em 2016.
Armani se tornou um ídolo tão grande na Colômbia que surgiram ofertas para se naturalizar e jogar pela seleção do país. Ele não aceitou. Queria defender a albiceleste.
Contratado para ser titular do River, ganhou rapidamente a confiança do clube e da torcida.
Foi tão bem em seu primeiro semestre no River que chegou à Seleção Argentina na Copa de 2018, na Rússia. Começou no banco, mas jogou como titular o terceiro jogo depois de mudanças drásticas de Sampaoli. Jogou também nas oitavas, quando a Argentina foi eliminada.
Logo depois da Copa, Armani bateu um recorde importante e se tornou o goleiro do River Plate a ficar mais tempo sem tomar um gol: 800 minutos (quase 9 jogos completos) pelo Campeonato Argentino.
Além de sua capacidade debaixo das traves, Armani é um líder dentro e fora de campo. Orienta a defesa constantemente, corrige posicionamento, dá esporro e incentiva. No vestiário, é tido como um cara querido por todos, um exemplo.
Na lateral direita temos Gonzalo Montiel, de 22 anos, revelado pelo próprio River e titular já na conquista de 2018. Foi convocado pela primeira vez neste ano.
Um lateral correto. Não é brilhante, mas é pau pra toda obra. É razoável em tudo. Uma espécie de Luigi no Mario Kart.
Aparece muito no ataque, apesar de não ser um virtuoso, e ajuda como pode na defesa, apesar de não ser uma fortaleza.
Tem muita disposição e não desiste de nenhuma jogada. É importante ultrapassando pela direita para “abrir o campo” e criar espaços para os caras do meio.
Na zaga central, Lucas Martinez Quarta, de 23 anos, também revelado pelo River, também convocado para a Seleção Argentina recentemente e também parte da conquista de 2018. Jogou o primeiro jogo da final, quando o River usou três zagueiros, e foi barrado no segundo, em Madri.
Nesse ano, se tornou titular depois da saída de Maidana. É um jogador cotado para a Europa, mas desperta reações controversas. É uma espécie de Leo Duarte: jovem, rápido, mas com algumas falhas de posicionamento importantes.
Pela sua velocidade e disposição, tende a ser o zagueiro que cobre uma área maior do campo e faz o “trabalho sujo” saindo para o bote sem medo de fazer a falta. Às vezes deixa espaço às suas costas quando faz isso.
Ao seu lado joga Javier Pinola, que usa a faixa de capitão na ausência de Ponzio do time. O zagueiro de 36 anos teve uma passagem pelo Atlético de Madri, mas jogou pouco por lá.
Da Espanha foi para a Alemanha. Ficou dez anos no Nurenberg e foi titular na maior parte do tempo.
Faz aquele estilo xerifão que às vezes tenta apitar o jogo. É um zagueiro chato. Gosta de uma disputa no corpo e algumas vezes de uma catimba.
É canhoto e bastante técnico. Costuma procurar passes rápidos e limpos para o lateral esquerdo ou o meia daquele lado. É a principal arma na saída de bola do River.
De alguma forma, pode ser comparado a Pablo Marí por sua atuação com a bola, mas perde muito no físico
Além dos 36 anos que não lhe dão a mesma disposição e velocidade, Pinola tem apenas 1,82m, mesma altura de Rodrigo Caio e onze centímetros a menos que Marí.
Na lateral esquerda, Milton Casco, outro remanescente do time campeão do ano passado.
Casco já não é garoto, mas é muito veloz. Faz o corredor esquerdo todo. Aparece no ataque sempre fazendo a ultrapassagem por fora e protege bem o lado esquerdo da defesa.
Também não é craque, mas é um jogador interessante. Tem mais recursos que Montiel e tb é mais experiente e consciente taticamente.
Pode variar bastante o comportamento. Em alguns jogos, vira quase um ponta pela esquerda. Em outros, fecha por dentro na defesa, quase como zagueiro.
Quando sobe muito, deixa Pinola na roubada, tendo que segurar um contra-ataque no alto de seus 36 anos.
Quando um zagueiro sai para dar combate mais à frente, normalmente é ele quem fecha por trás, alinhado ao outro zagueiro.
O meio-campo é certamente a zona mais interessante do campo de jogo do River. É onde o time concentra os jogadores mais versáteis, inteligentes e intensos. Todo o jogo – ofensivo e defensivo – passa pelo equilíbrio do meio.
Tudo começa com Enzo Pérez. O meia habilidoso que encantou pelo Godoy Cruz e venceu a Libertadores em 2009 pelo Estudiantes foi para Portugal contratado por… Jorge Jesus!
Depois de uma grave lesão no joelho, voltou ao Estudiantes por empréstimo. Quando retornou mais uma vez a Portugal, Jesus propôs que ele deveria jogar como volante. O argentino não quis, mas o Mister insistiu e disse que lhe ensinaria.
Assim, Pérez se tornou figura central no Benfica multi-campeão de Jesus.
Quando grandes clubes europeus se interessaram pelo jogador, JJ disse que ele era o atleta mais difícil de substituir no elenco, pois era o cérebro da equipe.
De fato, sua versatilidade e espírito coletivo são impressionantes. A história de Pérez lembra Arão, mas vale lembrar que, apesar do River jogar numa formação parecidíssima com a do Benfica de JJ, Enzo Pérez joga numa posição diferente.
Antes ele jogava à frente ou ao lado de Matic, que afundava entre os zagueiros. Agora é ele que joga por trás.
Quem joga à frente ou ao lado de Enzo Pérez é Exequiel Palacios, de apenas 21 anos, mais um revelado pelo River.
Jogador destro, habilidoso e muito, muito calmo com a bola. Extremamente consciente, batalhador e versátil.
Ele jogou as duas finais no ano passado. Na primeira, com o River no 3-5-2, foi volante ao lado de Pérez, com Pity Martínez mais à frente. Na segunda, jogou como meia à frente de Pérez e Ponzio.
Hoje faz uma função parecida com a que Gerson exerce no meio-campo rubro-negro.
Mesmo pouco badalado perto dos companheiros, Palacios é, acima de tudo, o ponto de equilíbrio do time.
Apesar de ter capacidade para chegar à frente, Palacios não entra muito na área. Em 21 jogos nessa temporada, marcou apenas um gol.
Leia no Blog do Téo: Téo Benjamin: um raio-X do gol do título da Libertadores
Em vez disso, ele joga sempre ao lado da bola, um pouco atrás do jogador que tem a posse quando o time está no ataque. Assim, exerce três funções fundamentais.
Primeiro, é o “passe de segurança” para qualquer um. A bola sempre pode voltar nele para que a jogada seja clareada.
Segundo, ele disputa a “segunda bola” sempre que há uma disputa. Por fim, é o organizador da intensa pressão pós-perda do River.
Quando qualquer jogador perde a bola no ataque, Palacios não corre para trás com o intuito de fechar a defesa. Corre para frente com o objetivo de pressionar a bola e retomá-la rapidamente.
É dessa forma que Palacios exerce uma função quase invisível, mas fundamental no time do River.
Se ele é neutralizado, o time perde o meio-campo, deixa espaços, fica vulnerável na defesa e perde volume de jogo no ataque.
Por um dos lados, normalmente o direito, joga o canhoto Nacho Fernandez. Como bem definiu o @LuchoSilveira, Nacho é o relógio de Gallardo. Faz tudo muito bem. É tipo o Mario no Mario Kart, mas com estrelinha.
Além de um baita organizador no meio-campo e bom passador, ele entra na área e marca gols. Alguns comparam a Everton Ribeiro, mas ele me lembra um pouco o Ricardinho, hoje comentarista.
Um dos caras que pode desequilibrar para o River.
Do outro lado joga Nico De La Cruz, irmão de Carlos Sánchez, do Santos.
Normalmente Nico, que é destro, joga pelo lado esquerdo, mas às vezes inverte com Nacho.
Tem características bem diferentes. É mais arisco e driblador, tem um pulmão privilegiado, mas é inconstante.
O uruguaio de 22 anos participou das seleções de base do Uruguai, mas nunca foi convocado para a principal.
É o tipo de meia chato, que joga por dentro ou pelo lado e sempre parte para cima, mas acelera o jogo em momentos errados.
Por isso, há quem ame e há quem desdenhe.
Matías Suárez jogou quase sua carreira profissional inteira no Anderlecht da Bélgica. Em 2016, depois de atentados terroristas em Bruxelas, decidiu ir embora aos 28 anos e rompeu o contrato unilateralmente.
A FIFA o condenou a pagar € 1,5 milhão para o clube, então efetivamente ele teve que pagar a própria transferência ao Belgrano, seu primeiro clube.
Foi bem e tudo parecia encaminhado para uma história bonita de aposentadoria, até que o River decidiu comprá-lo.
Suárez chegou a Nuñes aos 31 anos, se tornou titular e foi convocado pela Seleção Argentina pela primeira vez na Copa América deste ano, disputada no Brasil.
Em 18 jogos na temporada, marcou apenas três gols, mas essa não é sua principal influência no time.
Ele é quase ambidestro e bastante técnico. Ocupa todos os espaços na frente. Pode atacar a área, pode sair para tabelar, pode cair pelos lados… Se não marca muitos gols, é o líder de assistências do Campeonato Argentino ao lado de De La Cruz.
Em geral, Suárez joga bastante próximo do seu companheiro de ataque, o colombiano Rafael Borré, fazendo movimentações para confundir os zagueiros.
Borré é o artilheiro do time na temporada e queridinho da torcida.
Não é aquele centroavante rompedor típico. Com apenas 1,74m e 70kg, ele se movimenta muito e ataca muito bem os espaços nas costas da defesa. É aquele típico cara esperto que aparece livre numa bola rasteira no segundo pau ou pega um rebote inesperado do goleiro.
Além dos 11 titulares, o River tem outros jogadores importantes.
O elenco não é muito grande, mas tem boas peças de reposição e jogadores capazes de mudar um jogo. A versatilidade parece ser obsessão de Gallardo.
Paulo Díaz é um zagueiro chileno que pode jogar como lateral ou até mesmo como volante. Não é brilhante, mas é útil para mudar a formação do time sem fazer substituições. Caso o River use três zagueiros, como foi ventilado, ele seria o nome.
O Colombiano Juan Quintero é o toque de mágica. Um jogador que vê tudo que está acontecendo e o que ainda vai acontecer no campo. Sua entrada em Madri definiu o título da Libertadores no ano passado. Ele mudou o jogo e fez o segundo gol, um golaço.
Quintero sofreu uma grave lesão no joelho e ainda não voltou totalmente, mais ou menos como Diego. Dificilmente joga os 90 minutos, mas pode entrar no final se o jogo estiver complicado. É um craque!
Lucas Pratto era titular, mas também sofreu uma lesão e hoje senta no banco. É um velho conhecido do torcedor brasileiro. Forte, alto, muito bom no jogo aéreo e excepcional no pivô. Se entrar, muda as características da linha de frente.
Scocco é excelente. Um atacante completo. Na minha opinião, melhor até que Suárez. Vem sofrendo com muitas lesões musculares e ainda não tem chance de ser titular, mas é rápido, habilidoso e muito inteligente.
Por fim, o maestro da companhia, o comandante de tudo isso, o homem que transformou o River Plate como jogador e depois como treinador: Marcelo Gallardo.
O homem tem o time nas mãos, sabe o que quer e conhece muito de futebol. É um estrategista nato e joga para ganhar.
Os pontos fortes do River são a técnica e o equilíbrio do meio-campo, a intensidade física e a experiência de um time que já joga junto há tempos e já ganhou muitos títulos.
Além disso, Enzo Pérez conhece muito bem Jorge Jesus – e isso não pode ser subestimado.
Mas também há pontos fracos. O mais óbvio é a estatura. Apenas três jogadores de linha têm mais de 1,80m (no Flamengo são seis). Além disso, o time morde muito e acaba deixando buracos nas costas. Os zagueiros ficam muito expostos, do jeito que Gabigol e BH gostam.
Será um grande jogo. Os dois treinadores têm capacidade de sobra para fazer um duelo tático magnífico com peças de altíssimo nível.
Agora que conhecemos os nomes do River, é hora de conhecer os detalhes de funcionamento do conjunto, mas só na próxima parte…
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