Por: Mauricio Neves – Twitter: @flapravaler
Eu deixava a Ilha rumo ao Continente quando o rádio do carro anunciou a escalação do Flamengo.
Tive um súbito mal estar ao ouvir os nomes. Não estivesse em cima da ponte, e talvez houvesse optado por parar no acostamento e tentar entender a escalação. Antes de entrar em campo, o Flamengo havia renunciado ao jogo, diminuído a importância da competição e chamado o Figueirense para dentro.
Não que eu defendesse a escalação dos onze titulares, mas optar por um goleiro parado há tempos, por dois zagueiros sem ritmo e estranhos entre si e pelo inexplicável Chiquinho, com quem não quero intimidade e passarei a chamar de Pequeno Francisco, é evocar em excesso a presença divina de São Judas Tadeu.
Pois o goleiro falhou de modo contínuo, os beques bateram cabeça e Pequeno Francisco fez o que faz de melhor: nada. Carlos “Aquele” Alberto e Rafael Moura leram bem o cenário e fizeram o crime.
Alan Patrick e Mancuello, juntos, não conseguem a intensidade necessária para a bola chegar ao ataque. Fica algo lento, em ritmo de Canal 100, quase anos 70. Parece-me que Mancuello deveria jogar uma posição atrás, como segundo volante, porque não tem a leveza necessária para a meia.
Quando Donatti implodiu e virou ruínas em frente a Rafael Moura, e este esnobou a presença de Paulo Victor com uma cavadinha, a torcida do Figueirense comemorou de modo estranho. Às gargalhadas. Eles estavam se divertindo às nossas custas, e continuaram no intervalo do jogo, gritando “Ah, é Paulo Victor!”. Foi chato isso.
Se até então o bravo Zé não havia percebido que o goleiro estava absolutamente incapaz de exercer suas funções, naquele momento tornou-se gritante. Era voltar com Muralha para o segundo tempo e estancar a sangria. Puxa, dirão alguns, isso queimaria o Paulo Victor… Mas antes ele que o Flamengo, pois não?
Com Muralha e Jorge, e com apenas um zagueiro mais em forma, a história estaria sendo contada de modo diferente. Talvez não muito diferente, se a apatia fosse a mesma, mas suficientemente diferente para que o jogo de volta não ficasse com um contorno tão feio e talvez ainda servisse para manter o ritmo para o domingo em Chapecó. Para a busca do time ideal, foi uma partida jogada no lixo.
De bom, pouca coisa. A categoria de Alan Patrick no gol, a entrada segura de Ronaldo e o churrasquinho do Tio João, próximo ao Portão 3, sempre uma atração nos jogos no Scarpelli. Fora isso, a tentação de dizer que esta é uma noite para se esquecer é enorme. Mas não. As lições de que não se despreza uma competição e nem o adversário, de que não se escala um goleiro emburrado e sem ritmo, de que Mancuello é segundo volante e não meia, de que dois zagueiros lentos equivalem a um aviso de “entre sem bater” e de que o Pequeno Francisco não devia sequer estar no elenco, tornam essa uma noite para não se esquecer jamais.